ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 23 de abril de 2015

UM DESABAFO


É uma verdade inegável que nunca fui um apreciador das qualidades de Mário Soares, agora ou fosse quando fosse. Mesmo quando participei naquela manifestação na Alameda D Afonso Henriques, em tempos que faziam perigar o futuro da “liberdade” do nosso país, com perigo de substituição de uma ditadura por outra mais dura ainda!
Mas não vem, agora, ao caso ir por aqui.
Tantas vezes critiquei e critico certas atitudes que Mário Soares toma, sobretudo agora que, notoriamente diminuído, diz e escreve coisas de bradar aos céus, teorias e certezas que parecem tiradas de papeis guardados numa arca velha onde traças deles se alimentam.
Por uma condição inelutável do Ser Humano, há um tempo para sair da cena em que fomos influentes, para abandonar as lutas que até dirigimos e é a temperança a atitude que nos defende das incapacidades que, com o tempo, sempre acabam por chegar.
Quando tal não acontece, são inevitáveis factos que não podem deixar de prender a minha atenção, como a de tanta gente. E nem todos reagem do mesmo modo. É uma questão de sensibilidade e de valoração quanto à sua importância na nossa vida em comum, tão comum como nunca antes fora, pois jamais a Humanidade esteve tão unida no destino que as circunstâncias lhe destinam.
Digo assim porque já me não parece o Homem capaz de controlar o monstro feroz que criou, esta civilização que ainda se não deu conta de que, na sua ânsia de crescimento económico contínuo, está a destruir o Ambiente que sustenta a sua vida.
Quanto a Soares, apesar do desagrado que a maioria das suas crónicas domingueiras me causa, nunca foi nem será minha intenção agredi-lo na sua dignidade de Ser Humano, contribuir para uma exposição que me incomoda pela demência que já revela e à qual o tempo acaba por não poupar alguém a quem a vida permita chegar tão longe.
Por isso repudio os excessos que algo que eu publiquei possa ter causado, como aponto o dedo aos que lhe facultam as condições para se expor e aos familiares que não o resguardam de certos ridículos a que se presta, porque não evitam o seu aproveitamento vil, seja pelos jornais, pelas rádios ou pelas televisões, porque Soares, goste-se ou não dele, tem direito a um recato digno. Como qualquer de nós.
Mas se continuar a dizer o que diz… não poderei calar a minha indignação nem deixar de tentar minorar os efeitos que possa causar em tantas cabecinhas tontas que, com isso, os certos demagogos ávidos de poder querem manipular.
Faz-se este aproveitamento dos ditadores quando já não servem para mais do que ser um símbolo, debotado e roto que, sem piedade e a bem do regime, se manipula. 
Soares não é um ditador. Será, apenas, um "democrata à sua maneira". Por isso, não lhe façam isto!


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