De França chegou-me a crítica de que Portugal “nem uma revolução de jeito soube fazer”, talvez por ter sido uma revolução sem a violência que as revoluções costumam ter. A verdade é que, mesmo assim, sem tiros, sem matar ninguém, o objectivo da revolução foi alcançado.
Não vejo que o mesmo resultado positivo possa ser alcançado em França, um país “civilizado” onde a falta de civismo anda na rua em manifestações e actos de selvajaria que, estou seguro, não têm qualquer razão de ser.
Não querem os franceses que a idade da reforma passe dos 60 para os 62 anos e, porque o governo Sarkosi baseado na realidade e na sua mais do que provável evolução a curto prazo o julgou necessário, cometem desacatos que nada têm de democráticos. De facto, que culpa terão os proprietários dos veículos que incendeiam, os donos das lojas que destroem, enfim, todos aqueles que gostariam de viver tranquilos e assim não podem viver?
Definitivamente, a liberdade, a igualdade e a fraternidade tornaram-se conceitos esquisitos por aquelas bandas.
A realidade demográfica a curto prazo mostrará aos franceses que a reforma aos 62 anos não bastará porque mais tempo de trabalho se tornará necessário para equilibrar as receitas com os custos do pagamento das pensões de uma cada vez maior população de reformados cuja esperança de vida claramente se dilatou.
O mais curioso destas atitudes, social e democraticamente reprováveis, num país que, tantas vezes, se afirmou por um avanço cultural notável, é que serão os que agora manifestam selvaticamente o seu desacordo aqueles que mais virão a sofrer com a ruptura financeira que o não prolongamento do tempo de trabalho activo e correspondentes contribuições inevitavelmente provocará.
Depois do célebre Maio 68 que nunca alguém, a não ser de modo “intelectual” confuso, explicou, a França parece ter ganho o gosto por estes surtos de violência e de instabilidade social que, certamente, a não beneficiará.
É de louvar a Senhora Ministra da Saúde por uma palestra que, há poucos dias, lhe ouvi e na qual, muito claramente, demonstrou a necessidade desta forma de solidariedade que consiste em prolongar o tempo de actividade um pouco mais para que os que já menos podem trabalhar tenham como viver condignamente.
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