Paulo Portas apresenta,
finalmente, o tão esperado Guião da Reforma
do Estado.
Em vez da reforma que
deveria ter sido uma das tarefas a considerar logo a par das inevitáveis
medidas de curto prazo necessárias para estancar a “hemorragia” que estava a
deixar Portugal exangue, surge apenas agora, quando três anos já são passados
depois do início do programa de ajustamento, um guião que coube ao
Vice-Primeiro-Ministro elaborar.
Antes de mais, não me parece que seja tarefa
para um homem só ou, até, para uma pequena equipa, todo o trabalho de estudo
que um plano de ordenamento do território exige para que possa constituir uma
base adequada para uma reforma de Estado.
Considero esta falha o
erro maior do Governo que a Oposição nunca questionou, pois as medidas de curto
prazo, aquelas que são usadas para dominar uma situação descontrolada, não são a
solução de longo prazo necessária, tal como a “estabilização” de um doente não
é a sua cura. Por isso o tratamento conveniente deve começar tão depressa
quanto possível para evitar consequências graves com reflexos num futuro que
pode ser longo.
Infelizmente, não foi isso
que em Portugal se fez. Em vez de um trabalho de planeamento que envolvesse
todo o país e evitasse o agravamento da desertificação do Interior que, desde
há muito, já se notava, foi do tipo “corte e costura” o que foi sendo feito e,
por isso, cerca de dois terços do território nacional se encontram numa
situação de abandono ou de subaproveitamento confrangedora, com desprezo de recursos
cujo aproveitamento facilmente evitaria que cerca de um quarto da população
portuguesa sentisse carências, mais ou menos severa, na satisfação de
necessidades fundamentais. E não tais reformas que inverterão esta realidade.
Foram feitas reformas
disto e daquilo, na Educação, na Justiça, nas Finanças, na Saúde, cada qual
definindo os seus critérios que não levam em conta, pelo menos do mesmo modo,
as características do território porque não se basearam num plano comum de
ordenamento que permita o desenvolvimento harmonioso.
Continuo a pensar que
qualquer reforma do Estado que se não baseie num conhecimento profundo do
território, incluindo as suas características geo-morfológicas, as potencialidades
económicas, as sociedades locais, as tradições e a cultura, sempre será uma
reforma para um país de ficção que mais desarrumado ficará ainda do que o que antes
se encontrava, em vez de criar as bases para o desenvolvimento harmonioso e sustentável de que tem necessidade.
Assim, Portugal continuará com uma organização administrativa que não corresponde a qualquer organização territorial que a realidade justifique e que, para além das Autarquias Locais, de nada serve.
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