Foi com uma raiva mal
contida que assisti à notícia de que um tribunal português decidiu, apesar de
tudo o que fazia crer que assim não aconteceria, entregar uma criança
portuguesa à mãe irlandesa e residente na Irlanda, apesar do desejo explícito
da criança para continuar com o pai que dela cuidava e de todas as
consequências negativas, claramente explicadas pela própria criança também, de
uma decisão incompreensível, aparentemente até desumana.
Está em causa o “superior
interesse” de uma criança que com uma maturidade notável para a sua idade,
manifesta uma vontade inequívoca de viver com o pai e é compelida, à força por
policiais, a deixar os braços do seu pai para embarcar num avião onde não
queria entrar e a ser envolvida por braços que não conhece, os do seu padrasto.
Vejo como tanta gente se
manifesta e exige do poder político o esclarecimento dos actos que pratica, os
quais frequentemente critica, quantas vezes até de um modo civicamente
excessivo.
Sendo assim, por que razão
se não exigirá o mesmo do poder judicial pelas decisões que toma em nome do
povo português?
Decerto que quem tomou
esta decisão contra a vontade clara de alguém em nome de cujo interesse supostamente
decidiu, terá razões que deveria explicar a quem não pode deixar de julgar,
também, os seus actos.
Infelizmente, não é esta a
primeira vez que, em nome do “superior interesse da criança", parece serem cometidos verdadeiros atropelos a esse mesmo interesse. Dúvida que não deveria persistir.
Mas terá o Tribunal a
coragem de esclarecer? Ou o povo em nome de quem decide não o merece?
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