Em consequência dos
comentários a que os resultados eleitorais dão lugar, Miguel Sousa Tavares
afirmou, na sua habitual intervenção televisiva, que “é uma desonestidade dizer
que Partido Socialista tinha sido um dos derrotados da noite, porque um dos
derrotados foi António José Seguro”. Ao contrário, eu diria que é uma
desonestidade transferir para Seguro a responsabilidade que cabe a todo um
partido que, cinicamente, dela deseja descartar-se na hora do ajuste de contas
com o eleitorado que não correspondeu à solicitação de uma punição severa do
Governo em troca das promessas que, em nome do Partido Socialista e por todo o
partido apoiadas, Seguro lhe fez.
Ao longo de três anos,
Seguro foi o líder que, por significativa maioria, o PS escolheu, foi a voz que
todo o PS apoiou, marcou o rumo que, sem contestação, todo o PS seguiu, foi o pregoeiro
da negação de todo o partido em participar na procura de soluções consensuais para
a solução dos problemas do país!
Às bem sucedidas eleições
autárquicas em cujos resultados todos os socialistas se reviram, seguiu-se, desta vez, o insucesso que travou a euforia no que todos julgavam ser o caminho triunfal para o poder sem o qual o PS tem
dificuldade em sobreviver. Por isso, tal como acontece com os “amigos” que, nas
más horas voltam as costas, também agora se multiplicam as vozes dos que puxam
o tapete a Seguro, o líder em quem, ao longo de três anos, todo o PS se reviu,
combateu o Governo com a demagogia que todo o PS apoiou e arriscou a sua
carreira pessoal no tudo ou nada que jogou porque o PS lho exigiu.
Para Mário Soares o resultado do PS nas eleições europeias foi
"uma vitória de Pirro", que "não deveria ter sido aclamada com o
entusiasmo com que o seu líder o fez". Esqueceu o ex-presidente outros
que, antes de Seguro, entusiasticamente a aclamaram, sobretudo Assis, o cabeça
de lista, que afirmou que o futuro seria o PS e que quem quisesse nele
participar seria ao lado do PS que teria de faze-lo!
Manuel Alegre também a cantou da forma épica tão própria da sua natureza.
Manuel Alegre também a cantou da forma épica tão própria da sua natureza.
António
Costa, presidente da Câmara de Lisboa, decide, finalmente, tomar a atitude que
todos já sabiam ele desejar tomar há muito tempo, dizendo “sinto que é meu
dever corresponder a um anseio da maioria dos socialistas e dos cidadãos”!
Mais
uma vez um socialista tem o condão de sondar a mente do povo e considerar-se o
salvador de um país que, em vez dele, precisa de muito mais do que do
voluntarismo socialista para garantir o seu futuro.
Enfim,
como é costume em casos tais, quebrou-se o verniz da unidade, caíram as
máscaras da solidariedade, derrubaram-se as barreiras da vergonha e o PS entrou
na convulsão inevitável de uma ideologia voluntarista que não pode ter futuro
num mundo esgotado que exige cuidada contenção.
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