Disse um dia, num evento para o qual fui
convidado, que “gosto imenso de ouvir falar os ex-qualquer coisa, porque sempre
acabam por fazer, a outros, as críticas que antes lhes fizeram. Foi disto que
me lembrei muitas vezes nos pedaços da “discussão do Orçamento de Estado para
2018” que fui tendo paciência para ouvir.
Está ali, naquele governo gente, incluindo o
Primeiro-Ministro, que fez parte do que Sócrates dirigiu e levou Portugal quase
à bancarrota, o que, obviamente, tornou inevitável uma intervenção externa e
outro governo teve de corrigir.
Ninguém esquece, por certo, o muito que a
todos custou, em sacrifícios, o tempo que se seguiu, com uma Troika, insensível
ao que pudéssemos sofrer, a impor as suas regras duras que o governo não podia
desrespeitar. Afinal era mesmo a bancarrota que estava em causa, com todas as
gravíssimas consequências que, a acontecer, teria.
Felizmente, vimo-nos livres do jugo da Troika
mais cedo do que muitos previam, mas teríamos de prosseguir uma política de
grande controlo, onde a austeridade continuaria a estar presente. Não poderia
deixar de ser isso o que, por mais que o disfarçasse, o governo seguinte teria
de fazer porque, depois de Cristo, não consta que mais alguém tenha repetido o
milagre da multiplicação dos pães.
E penso que é o que tenta fazer este governo
disfarçando a austeridade que não pode, de todo, evitar, com as medidas
populistas que decide para serenar os descuidados, mas mantém nas cativações de
que não pode abdicar e agrava nas condições a que deixa chegar as coisas em
domínios que afectam direitos fundamentais de todos nós, como a saúde, a
segurança e a educação, por exemplo, sectores onde graves problemas se
acumulam, mas não contam para os “números” de que se orgulha e leva a União
Europeia a louvar a sua política.
Evidentemente que o “milagre” teria de ter quem
o pagasse. E para que alguns vejam os seus impostos directos aparentemente
suavizados, todos, mesmo os menos abonados, terão de pagar os outros dos quais
menos se dá conta, os indirectos.
E eu pergunto-me onde está a tão apregoada
ausência de austeridade que a realidade torna inevitável?
Concordo com o ministro das finanças quando
diz que “se pode perder bem depressa, aquilo que levou muito tempo a alcançar”.
Ao que acrescento que tal é muito mais provável de acontecer quando se encobre
a realidade com estatísticas discutíveis e se esquece a vida real de um povo
cujos direitos mais elementares não são respeitados.
E como leigo nessa matéria de uma “engenharia”
que não é aquela que pratiquei, pergunto-me por que se incluem no OE verbas que
se cativam, quem sabe à espera que um milagre, o euromilhões talvez, que permita
utilizá-las!
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