ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 4 de novembro de 2017

AUSTERIDADE OU MILAGRE?



Disse um dia, num evento para o qual fui convidado, que “gosto imenso de ouvir falar os ex-qualquer coisa, porque sempre acabam por fazer, a outros, as críticas que antes lhes fizeram. Foi disto que me lembrei muitas vezes nos pedaços da “discussão do Orçamento de Estado para 2018” que fui tendo paciência para ouvir.
Está ali, naquele governo gente, incluindo o Primeiro-Ministro, que fez parte do que Sócrates dirigiu e levou Portugal quase à bancarrota, o que, obviamente, tornou inevitável uma intervenção externa e outro governo teve de corrigir.
Ninguém esquece, por certo, o muito que a todos custou, em sacrifícios, o tempo que se seguiu, com uma Troika, insensível ao que pudéssemos sofrer, a impor as suas regras duras que o governo não podia desrespeitar. Afinal era mesmo a bancarrota que estava em causa, com todas as gravíssimas consequências que, a acontecer, teria.
Felizmente, vimo-nos livres do jugo da Troika mais cedo do que muitos previam, mas teríamos de prosseguir uma política de grande controlo, onde a austeridade continuaria a estar presente. Não poderia deixar de ser isso o que, por mais que o disfarçasse, o governo seguinte teria de fazer porque, depois de Cristo, não consta que mais alguém tenha repetido o milagre da multiplicação dos pães.
E penso que é o que tenta fazer este governo disfarçando a austeridade que não pode, de todo, evitar, com as medidas populistas que decide para serenar os descuidados, mas mantém nas cativações de que não pode abdicar e agrava nas condições a que deixa chegar as coisas em domínios que afectam direitos fundamentais de todos nós, como a saúde, a segurança e a educação, por exemplo, sectores onde graves problemas se acumulam, mas não contam para os “números” de que se orgulha e leva a União Europeia a louvar a sua política.
Evidentemente que o “milagre” teria de ter quem o pagasse. E para que alguns vejam os seus impostos directos aparentemente suavizados, todos, mesmo os menos abonados, terão de pagar os outros dos quais menos se dá conta, os indirectos.
E eu pergunto-me onde está a tão apregoada ausência de austeridade que a realidade torna inevitável?
Concordo com o ministro das finanças quando diz que “se pode perder bem depressa, aquilo que levou muito tempo a alcançar”. Ao que acrescento que tal é muito mais provável de acontecer quando se encobre a realidade com estatísticas discutíveis e se esquece a vida real de um povo cujos direitos mais elementares não são respeitados.
E como leigo nessa matéria de uma “engenharia” que não é aquela que pratiquei, pergunto-me por que se incluem no OE verbas que se cativam, quem sabe à espera que um milagre, o euromilhões talvez, que permita utilizá-las!

Sem comentários:

Enviar um comentário