Este ano tem sido uma seca prolongada que nos
fustiga, mas nada me diz que, no próximo ano, não sejam cheias intensas o que
teremos de suportar, pois tudo indica que as alterações já ocorridas tornam
mais frequentes os fenómenos extremos, aqueles a que, antes, corresponderiam mais
longos períodos de retorno, isto é, a uma menor frequência no seu acontecimento.
Foi com base em observações de fenómenos
climáticos ao longo de muitos anos e da análise dos registos colecionados que se
estabeleceram critérios de dimensionamento de infra-estruturas como redes de
drenagem de águas pluviais, vãos de pontes, regularização de caudais, constituição
de reservas, definições de leitos de cheia, etc, que correm o risco de estar desajustados
nas condições actuais, dado que as características dos fenómenos, em particular
das precipitações e da temperatura, se mostram muito modificadas.
Sempre verificou uma diferença, maior ou menor,
entre as necessidades de água e a sua disponibilidade natural. Daí a
necessidades das intervenções que são feitas sobretudo para regularização de
caudais que reduza as diferenças naturais, através da criação de albufeiras que
atenuam pontas de cheias e criam reservas que permitem dispor de água e
garantir caudais quando não há precipitação, sem esquecer o reforço da
alimentação das camadas freáticas, um outro reservatório da maior importância.
A barragem de Fagilde que esta seca severa
tornou famosa, foi construída no Rio Dão – um afluente da margem direita do
Mondêgo –destinando-se a água retida sobretudo ao consumo doméstico de uma
região com cerca de uma centena e meia de milhares de consumidores, residentes
em diversos centros populacionais entre os quais Vizeu.
Os critérios de dimensionamento foram,
decerto, os que a disponibilidade natural, determinada a partir dos registos
existentes, e a evolução dos consumos prevista ao longo de um de um determinado
período de tempo, definidos em função do crescimento económico e populacional esperado
na região servida, recomendaram, o que corresponde a parâmetros estabelecidos
com margens de erro que circunstâncias inesperadas podem fazer bem maiores,
limitando os efeitos esperados quer na atenuação de pontas de cheia quer da
reserva constituída.
Neste momento o volume armazenado não
corresponderá a mais de 10% da sua capacidade útil, o que significa uma ruptura
total que outros meios mais dispendiosos têm de remediar.
Não sei dizer, creio que ninguém saberá, como
será continuada esta situação que pode acelerar a desertificação de áreas
enormes na Península Ibérica.
Apenas sei que a acumulação de gases de
estufa, na atmosfera, cresceu muito ao longo dos últimos anos, do que começamos
a sentir os efeitos.
Olhando as cartas de isobáricas nesta zona do
Globo, encontramos uma insistente ocorrência de núcleos de altas pressões (A), não
habituais nesta altura do ano, as quais “protegem” a Península Ibérica e parte
da Europa Central das depressões (B) instaladas a Norte e a Oeste, evitando, assim,
a ocorrência de precipitação.
Não havendo ainda registos do clima
modificado dos quais se possam tirar conclusões úteis para as decisões a tomar,
é também difícil decidir, com consciência, as atitudes que evitem os danos que
o regime de precipitações vindouro poderá provocar.
Também é preocupante o anunciado abaixamento
das temperaturas mínimas que pode vir a provocar ainda maiores danos em
consequência das geadas que se formem e destruam o que ainda resta da produção
agrícola já tão diminuída.
Infelizmente, tudo indica que não será fácil
o futuro que teremos de enfrentar, que serão graves as consequências das
agressões ambientais que resultam do nosso modo de viver, o que só outros, que
não os políticos que temos, poderão tentar amenizar.
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