ACORDO ORTOGRÁFICO

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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

DOIS ANOS DEPOIS. E AGORA?



A menos os privilegiados para quem a recuperação financeira de um Portugal falido não foi dura nem difícil de suportar e, porventura, até dela se aproveitaram para ficarem mais rícos ainda, todos desejávamos ver passada a austeridade que, de tão dura, nos parecia exagerada e sem sentido porque nos sentíamos com direito a muito mais do que o que ela nos podia dar.
Pelos muitos excessos que tivemos e até por outras razões que a Justiça se esforça por apurar, talvez não tivéssemos os direitos de que nos arrogávamos, mas essa é questão que, de momento, não vem ao caso. Quem sabe se de uma outra vez.
Após as eleições que o PS não ganhou, fiquei, decerto como a maioria de todos nós, surpreendido com a solução de governo que acabou por prevalecer, liderada por um PS vencido e a quem, com grande sentido de humor, alguém chamou “caranguejola”, um artefacto carente de solidez que o tempo facilmente deitaria abaixo.
O certo é que, passados dois anos a caranguejola continua a existir, ainda que com dificuldades de funcionamento que o último meio ano tornou mais evidentes.
É difícil compreender certas atitudes e decisões que ao arrepio da mais elementar lógica, o governo vai tomando, bem como de outras que não perecem ser mais do que nada em termos de eficácia, pois não se conhece o plano global em que se integram, como se não sabe bem em que se traduzirá a “intenção” de descentralização na qual dizem caber.
Bem vistas as coisas, estes dois primeiros anos não passaram de um engodo que permitiria ao PS criar condições para poder alcançar uma maioria que eleições antecipadas confirmariam.
Acontece que as circunstâncias mudaram e não parece ser por esta via que os desígnios de uma maioria serão alcançados, pois todos começamos a sentir os efeitos dos malabarismos que fazem parecer a “multiplicação dos pães”, mas não passam de um equilíbrio instável ao longo do fio da navalha pelo qual caminhamos e não será capaz de resistir à mais pequena borrasca que se levante.
O que o PS desejava da “caranguejola” foi conseguido, mas esvaziou a “cartola” onde já não há mais coelhos para tirar.
Então que sentido fará agora aquela maquineta desafinada onde os desencontros são cada vez maiores?
Depois da euforia dos salários que à função pública foram repostos e das promessas de abaixamentos prometidos, começamos a notar o muito que ficou para trás ou, talvez melhor dizendo, deixou de ser feito nos cuidados de segurança, de saúde, de infraestruturas e de educação onde as enormes carências de meios se revelam como a cada dia maiores.
Até ao ponto em que o “balde de água fria” fez acordar os distraídos porque ficou clara a evidência de que “não há dinheiro para tudo”, como nunca houve, afinal, nem jamais haverá.
Por isso é que a “gestão” é necessária, não fazendo qualquer falta quando se pode esbanjar.
Não pretendo criticar o governo cujo sucesso seria o meu próprio no mais que poderia dar-me, mas apenas e uma vez mais, posso reconhecer o que sempre vi na minha já longa vida: quando cobertor é curto, os pés ou os ombros terão de ficar de fora, a menos que nos encolhamos, uma decisão que fica mais premente de tomar quando o frio aperta.
Então, preparamo-nos para fazer como?
Teremos de tomar uma decisão que não será, jamais, a do auto-elogio encomendado…

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