A menos os privilegiados para quem a
recuperação financeira de um Portugal falido não foi dura nem difícil de
suportar e, porventura, até dela se aproveitaram para ficarem mais rícos
ainda, todos desejávamos ver passada a austeridade que, de tão dura, nos
parecia exagerada e sem sentido porque nos sentíamos com direito a muito mais
do que o que ela nos podia dar.
Pelos muitos excessos que tivemos e até por
outras razões que a Justiça se esforça por apurar, talvez não tivéssemos os
direitos de que nos arrogávamos, mas essa é questão que, de momento, não vem ao
caso. Quem sabe se de uma outra vez.
Após as eleições que o PS não ganhou, fiquei,
decerto como a maioria de todos nós, surpreendido com a solução de governo que
acabou por prevalecer, liderada por um PS vencido e a quem, com grande sentido
de humor, alguém chamou “caranguejola”, um artefacto carente de solidez que o
tempo facilmente deitaria abaixo.
O certo é que, passados dois anos a
caranguejola continua a existir, ainda que com dificuldades de funcionamento
que o último meio ano tornou mais evidentes.
É difícil compreender certas atitudes e
decisões que ao arrepio da mais elementar lógica, o governo vai tomando, bem
como de outras que não perecem ser mais do que nada em termos de eficácia, pois
não se conhece o plano global em que se integram, como se não sabe bem em que
se traduzirá a “intenção” de descentralização na qual dizem caber.
Bem vistas as coisas, estes dois primeiros
anos não passaram de um engodo que permitiria ao PS criar condições para poder
alcançar uma maioria que eleições antecipadas confirmariam.
Acontece que as circunstâncias mudaram e não
parece ser por esta via que os desígnios de uma maioria serão alcançados, pois
todos começamos a sentir os efeitos dos malabarismos que fazem parecer a “multiplicação
dos pães”, mas não passam de um equilíbrio instável ao longo do fio da navalha pelo
qual caminhamos e não será capaz de resistir à mais pequena borrasca que se
levante.
O que o PS desejava da “caranguejola” foi conseguido,
mas esvaziou a “cartola” onde já não há mais coelhos para tirar.
Então que sentido fará agora aquela maquineta
desafinada onde os desencontros são cada vez maiores?
Depois da euforia dos salários que à função
pública foram repostos e das promessas de abaixamentos prometidos, começamos a
notar o muito que ficou para trás ou, talvez melhor dizendo, deixou de ser
feito nos cuidados de segurança, de saúde, de infraestruturas e de educação
onde as enormes carências de meios se revelam como a cada dia maiores.
Até ao ponto em que o “balde de água fria” fez
acordar os distraídos porque ficou clara a evidência de que “não há dinheiro
para tudo”, como nunca houve, afinal, nem jamais haverá.
Por isso é que a “gestão” é necessária, não
fazendo qualquer falta quando se pode esbanjar.
Não pretendo criticar o governo cujo sucesso
seria o meu próprio no mais que poderia dar-me, mas apenas e uma vez mais,
posso reconhecer o que sempre vi na minha já longa vida: quando cobertor é
curto, os pés ou os ombros terão de ficar de fora, a menos que nos encolhamos,
uma decisão que fica mais premente de tomar quando o frio aperta.
Então, preparamo-nos para fazer como?
Teremos de tomar uma decisão que não será, jamais,
a do auto-elogio encomendado…
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