ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 17 de novembro de 2012

A CONDENAÇÃO CONTINUA


 Lembro-me bem de quando se dizia que Portugal era um país atrasado porque tínhamos demasiada gente a trabalhar na agricultura, o tal sector primário que era o mais significativo nos países do Terceiro Mundo!
Depois esvaziámos os campos, abandonámos o Interior e a fuga de populações para os grandes centros urbanos, em particular Lisboa, fizeram desaparecer áreas extensas de boas terras agrícolas que a urbanização reclamou, muitas das quais ainda conheci entre Odivelas e Loures onde agora estão plantadas frondosas florestas de betão.
Ninguém se apercebia, então, do disparate que era esta troca, o equívoco que era abandonar o trabalho que fazia a terra produzir o bem mais indispensável para se viver, os alimentos. Mas era aliciante trocar o trabalho duro e de rendimento incerto que eram o amanho e o cultivo da terra, por empregos que garantiriam um salário no final do mês.
Assim cresceram o comércio e a indústria que mediam os progressos do país, até que chegou o dia em que os “serviços” passaram a ser o sector marcante do desenvolvimento que todos perseguiam. E até era mais cómodo trabalhar sentado numa cadeira do que junto de uma máquina, de um balcão ou num armazém.
Os trabalhos mais exigentes de esforço físico foram sendo deixados para máquinas que eram mais rápidas e, feitas as contas, mais baratas!
E, por aí fora, foi-se o Homem livrando da condenação bíblica de “comer o pão amassado com o suor do rosto”! Afinal, a Terra, dava tudo o que necessitávamos para viver uma vida cada vez menos dura, que cada vez menos exigia aquele esforço que nos faz suar.
O Homem encontrara uma despensa cheia e um armazém a abarrotar, àcerca dos quais a Bíblia lhes não havia dito nada. O Homem julgou vencer a maldição de Deus e julgou-se nascido para dominar a Terra e tudo o mais que, para além de si, nela existisse. E fê-lo como se não houvesse amanhã, como se a despensa e o armazém fossem inesgotáveis. De tudo o que a Terra lhe podia dar, gastou mais em 100 anos do que desde quando veio ao mundo.
O Homem excluiu-se da Natureza para a colocar ao seu serviço, explorando-a a seu bel-prazer.
Uns tornaram-se empreendedores, construíram fábricas, inventaram negócios e foram criando, ao mesmo tempo, as necessidades que promoviam o consumo do que cada vez mais produziam, enquanto a outros, a maioria, bastava um emprego que o livrasse de outros mais duros trabalhos.
Mas nem a despensa nem o armazém eram inesgotáveis e, como não podia deixar de ser, o cada vez mais dinheiro que se foi pondo a circular, deixava de ter correspondência no que poderia comprar. E inventaram-se maquiavélicos esquemas financeiros desde o simplório “esquema" da Dª Branca à fraude imensa de Madoff que, como ele próprio o revelou, o surpreendeu pelo longo tempo que foi necessário para a detectar! Por isto se pode avaliar como a ambição tolda o discernimento!
E, deste modo, o mundo foi brincando com o dinheiro e descuidando o trabalho sem o qual não poderá sobreviver. Por isso, a ele terá de voltar.
Afinal, real ou, simplesmente, suposta, a “condenação” continua! 

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