O mais complicado é que, para
além da verdade das coisas que ninguém parece saber qual é exactamente, interesses
há, tão grandes que suplantam os que deveriam estar acima de todos os demais, os do país, que se esforçam por mais nos confundir! São interesses
pessoais e partidários difíceis de aceitar por uma sociedade que se vê obrigada
a uma austeridade dura mas inevitável perante o endividamento excessivo que um
governo imprudente acumulou apesar de todos os avisos e de todos os sintomas de
uma crise que dificilmente suportaríamos.
Tudo se passou como era previsível
e não seria de prever que, perante as condições do resgate que tivemos de
aceitar, o novo governo, fosse ele qual fosse, conseguisse evitar um longo
tempo de dificuldades e, mesmo até, de privações.
Há uma verdade que as contas mais
simples permitem confirmar, a de não ser possível manter os níveis de despesa que
quase nos levaram à bancarrota, o que significa que o Estado não pode, por agora, continuar a prestar alguns dos serviços que prestava, pelo
menos do modo como o fazia e, muito menos, permitir que continuem os devaneios
gastadores a que nos habituou. Para além disso, não haveria como evitar aumentar
os rendimentos com que solverá os compromissos financeiros que assumiu,
enquanto reestrutura a administração pública de modo a criar uma situação
financeiramente estável no futuro.
É um longo processo de
readaptação de um país inteiro que poucos têm a percepção de ser inevitável e
ninguém pode pensar ser fácil ou rápido, porque nada voltará a ser como era
antes.
Pode o governo fazer tudo isto
melhor ou pior, mas não poderia, alguma vez, fazer muito diferente e nem,
sequer, sem a colaboração do próprio país sem cujo esforço nada será melhor.
Ninguém poderá sentir-se bem do
modo como se vive nesta austeridade que, constantemente, nos faz temer o dia de
amanhã. Mas pior se sentirá, ainda, com as consequências que os equívocos que
tantas e tão mal pensadas ou mal intencionadas opiniões podem gerar, como seja
uma crise política grave que pode conduzir a um caos insuportável.
Apesar de já habituado a tanta
trapalhada que se diz, ainda me surpreendem alguns de quem esperava capacidade
para pensar melhor e bom senso para não deitar mais achas nesta fogueira com
chamas já tão altas. Surpreendeu-me (ou não?) a opinião de Freitas do Amaral
que julga que será de perguntar ao povo, como quem pergunta a um doente, se acha
que este “médico” o está a tratar bem ou não! Pode ser e é democrático, mas não
será com atitudes destas, com ilusões de milagres impossíveis, que se resolvem
os problemas bicudos que enfrentamos.
Uma coisa, definitivamente, temos
de aprender: a realidade tem sempre razão, por mais que a maioria possa
dizer ser ela que a tem!
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