Não
tenho dúvidas de que esses programa ditos de “antena aberta” são
muito escutados porque as pessoas sentem necessidade de falar dos
seus problemas que são muitos e encontram ali um lugar onde, falando deles ou despejando os seus rancores, podem
aliviar as suas mágoas.
Mas
muitos, quem sabe se a maioria, encontra alí o púlpito certo para
se ouvir, para dizer a todos o que no café diz aos amigos, aos quais
afirma a sua sabedoria sobre como, facilmente, todos os nossos
problemas desapareceriam. Bem na senda do que ouve do seu mentor político.
Finalmente
há os especialistas convidados, por via de regra economistas que,
naquela cátedra de onde falam para muito mais gente do que costumam,
debitam a sua teoria, mais uma de tantas que ainda não deram
quaisquer resultados.
Se,
por um lado, vale a pena saber o que as pessoas pensam sobre o que se
passa, por outro sente-se ser esta uma via de contaminação por
ideias torpes que já ouvimos a muitos dos nossos políticos que não
esclarecem ninguém, porque apenas estão no “jogo do poder” que
a democracia do confronto permite. Não passam, por isso, de caixas
de ressonância de disparates que em nada ajudam nesta tarefa enorme
com que o governo se depara. Pelo contrário!
Não
é de admirar que pessoas que não sabem exactamente como as coisas
funcionam nem a real situação em que se encontram, debitem ali as
alarvidades que dizem sem qualquer ponta de senso.
É
natural a revolta de quem, em pouco tempo, viu acabarem-se as
facilidades que lhe davam quase tudo em troca de nada, casa própria,
carro, férias no estrangeiro, electrodomésticos das melhores marcas,
televisores gigantes...., talvez sem nunca se terem perguntado de
onde viria o dinheiro que as pagava! Aqui residiu a grande ilusão
de uma riqueza que não existia mas que a muitos sabia bem. Agora, a
desilusão é grande, o desespero ainda maior e todos clamam pelo
regresso de um tempo que passou mas que não pode voltar.
Seria
isto que deveria ser dito claramente, sem os rodeios que sempre
acabam confundindo as pessoas. Seria este o objectivo que deveria ser
alcançado em programas de informação.
Mas
isso não acontece quando dizer a verdade merece castigo, ao
contrário daqueles princípios de boa conduta social que, no meu
tempo, ensinavam às crianças.
Quando
Passos Coelho afirmou que teríamos de empobrecer, tinha razão mas
usou as palavras erradas, porque o “empobrecer” em dinheiro não
significa, necessariamente, ser mais pobre. Mas a teoria do
politicamente correcto fe-lo recuar em vez de esclarecer, o que
reforçou a esperança na possibilidade do regresso da vida folgada
que acabou. E o esclarecimento necessário não foi feito!
Quando
Victor Gaspar afirmou que os portugueses pagam pouco por aquilo que
exigem do Estado, teve toda a razão mas, tal como Passos Coelho,
errou nas palavras e na forma como o disse. E quando assim acontece na política, comete-se o erro de dar trunfos aos
adversários que eles usam em seu benefício, iludindo os
que, em vez de pensar, preferem ser enganados.
Mas
a prova da razão de Gaspar é fácil de fazer, até num velho dito
da minha Terra do qual já quase me havia esquecido: “ quem come fiado... caga novelos!”
(Para
aqueles para quem este dito não faça muito sentido eu tenho a dizer
que a indústria de lanifícios estava bem implantada naquela região
onde a lã era tratada e fiada. Daqui resultava o “fiado” que se
organizava em meadas ou em “novelos”. A graça vem da confusão
que a palavra fiado introduz, sabido que é “fiado” também
significa “a crédito”)
Foi
isto que me apeteceu dizer após mais uma “antena aberta” que me
acompanhou enquanto me barbeava...
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