Quando o telhado mete água, ou o consertamos ou vamos
colocando bacias aqui e ali onde a água cai, até que começa a ficar difícil aquela gincana
por entre os aparadores de pingos que, entretanto, se foram acumulando. A
partir de certa altura já não haverá reparo que valha e só um telhado novo
resolverá a situação. Todos sabemos que é assim que, tantas vezes, acontece. O
que uma pequena reparação poderia remediar sem grandes custos, acaba por
tornar-se um problema sério cuja reparação custará bem caro. Também podemos deixar
que o telhado desabe e, depois, queixamo-nos do azar, da pouca sorte ou da
incompetência de quem o construiu.
A culpa nunca pode ser nossa. Por isso, temos de a deixar
para outros e depois, cheios de razão, reclamar que alguém nos resolva o
problema! E se ninguém atender a nossa reclamação, indignemo-nos! As coisas são
mesmo assim, Sempre haveremos de encontrar motivos, como sempre arranjaremos
argumentos que a sustentem. E sempre haverá, também, quem com eles concorde,
seja por fidelidades que lho impõem, seja porque lhe convém, se não for, até,
porque não conseguem entender mais do que isso. E quem não concordar, pode
escolher entre estúpido, fascista, explorador, inimigo dos trabalhadores,
conservador, liberal, burguês ou eu sei lá, o epíteto que julgar lhe seja mais
adequado.
Acabo de ler que “Mais de 20 mil pessoas manifestaram-se
hoje contra a austeridade e contra o capitalismo em Frankfurt (Alemanha), a
culminar uma semana de ações do movimento Blockupy (bloquear e ocupar), mais
conhecido por movimento dos indignados.” Por qual razão se indignam, não fiquei
a saber bem.
Seja pelo que for mas, sobretudo, quando as coisas nos
não corram de feição, quando nos não derem aquilo a que nos julguemos com
direito, indignemo-nos! Mas se, porventura, não for esse o caso e,
simplesmente, não tivermos mais em que pensar, acordarmos mal dispostos ou um
calo nos incomodar, indignemo-nos também!
E quando a simples indignação não for bastante, façamos
greve!
Fazem greve os que podem fazê-la, porque da sua greve
resultam danos suficientemente avultados para que possa ser notada. Fazem-na os
pilotos, os condutores, os controladores, os revisores e os de outras
profissões cuja recusa cause bastantes transtornos seja a quem for, até mesmo
aos outros trabalhadores a quem negam ou fazem difícil o direito de trabalhar!
Mas também fazem greve os que, mesmo sem tais condições se deixam empolgar por
palavras de ordem que, apesar de estafadas, sempre aliciam descontentes ou
alienados.
Não posso deixar de ser a favor dos direitos do trabalho e,
por isso, do direito à sua defesa. Mas isso não me leva a concordar com as
greves políticas ou oportunistas que, em tempo de dificuldades, mais difícil
fazem a vida àqueles para quem esta já não está fácil.
Sempre me pareceu excessivo o direito incondicional à greve.
Impróprio, até, de sociedades civilizadas. Mais excessivo me parece quando as
condições justificariam a sua contenção, tal como certas ocasiões ou
circunstâncias justificam medidas de exceção.
Julgo-o, mesmo, o principal inimigo da concertação social
onde interesses comuns deveriam encontrar as soluções que façam a sociedade
mais próspera e melhor, sobretudo quando a escassez se tornou tão evidente.
Habituámo-nos a crer que a Terra é imensa e os seus recursos
infinitos, a pensar que sempre serão encontradas soluções para os problemas que
surjam e, consequentemente, a entender que se o Estado ou o governo nos não dão
mais é, simplesmente, porque não querem! O que, de todo, não é verdade.
É pena que tenhamos de o entender da maneira mais difícil!
Por agora limito-me a perguntar: quantas daquelas famílias
que o desemprego lançou na pobreza poderiam ter as suas condições de vida
melhoradas se lhes fossem oferecidos os prejuízos de uma greve?
Pensar nisto, indigna-me mesmo.
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