ACORDO ORTOGRÁFICO

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domingo, 20 de maio de 2012

A HORA DOS INDIGNADOS!

Quando o telhado mete água, ou o consertamos ou vamos colocando bacias aqui e ali onde a água cai, até que começa a ficar difícil aquela gincana por entre os aparadores de pingos que, entretanto, se foram acumulando. A partir de certa altura já não haverá reparo que valha e só um telhado novo resolverá a situação. Todos sabemos que é assim que, tantas vezes, acontece. O que uma pequena reparação poderia remediar sem grandes custos, acaba por tornar-se um problema sério cuja reparação custará bem caro. Também podemos deixar que o telhado desabe e, depois, queixamo-nos do azar, da pouca sorte ou da incompetência de quem o construiu.
A culpa nunca pode ser nossa. Por isso, temos de a deixar para outros e depois, cheios de razão, reclamar que alguém nos resolva o problema! E se ninguém atender a nossa reclamação, indignemo-nos! As coisas são mesmo assim, Sempre haveremos de encontrar motivos, como sempre arranjaremos argumentos que a sustentem. E sempre haverá, também, quem com eles concorde, seja por fidelidades que lho impõem, seja porque lhe convém, se não for, até, porque não conseguem entender mais do que isso. E quem não concordar, pode escolher entre estúpido, fascista, explorador, inimigo dos trabalhadores, conservador, liberal, burguês ou eu sei lá, o epíteto que julgar lhe seja mais adequado.
Acabo de ler que “Mais de 20 mil pessoas manifestaram-se hoje contra a austeridade e contra o capitalismo em Frankfurt (Alemanha), a culminar uma semana de ações do movimento Blockupy (bloquear e ocupar), mais conhecido por movimento dos indignados.” Por qual razão se indignam, não fiquei a saber bem.
Seja pelo que for mas, sobretudo, quando as coisas nos não corram de feição, quando nos não derem aquilo a que nos julguemos com direito, indignemo-nos! Mas se, porventura, não for esse o caso e, simplesmente, não tivermos mais em que pensar, acordarmos mal dispostos ou um calo nos incomodar, indignemo-nos também!
E quando a simples indignação não for bastante, façamos greve!
Fazem greve os que podem fazê-la, porque da sua greve resultam danos suficientemente avultados para que possa ser notada. Fazem-na os pilotos, os condutores, os controladores, os revisores e os de outras profissões cuja recusa cause bastantes transtornos seja a quem for, até mesmo aos outros trabalhadores a quem negam ou fazem difícil o direito de trabalhar! Mas também fazem greve os que, mesmo sem tais condições se deixam empolgar por palavras de ordem que, apesar de estafadas, sempre aliciam descontentes ou alienados.
Não posso deixar de ser a favor dos direitos do trabalho e, por isso, do direito à sua defesa. Mas isso não me leva a concordar com as greves políticas ou oportunistas que, em tempo de dificuldades, mais difícil fazem a vida àqueles para quem esta já não está fácil.
Sempre me pareceu excessivo o direito incondicional à greve. Impróprio, até, de sociedades civilizadas. Mais excessivo me parece quando as condições justificariam a sua contenção, tal como certas ocasiões ou circunstâncias justificam medidas de exceção.  
Julgo-o, mesmo, o principal inimigo da concertação social onde interesses comuns deveriam encontrar as soluções que façam a sociedade mais próspera e melhor, sobretudo quando a escassez se tornou tão evidente.
Habituámo-nos a crer que a Terra é imensa e os seus recursos infinitos, a pensar que sempre serão encontradas soluções para os problemas que surjam e, consequentemente, a entender que se o Estado ou o governo nos não dão mais é, simplesmente, porque não querem! O que, de todo, não é verdade.
É pena que tenhamos de o entender da maneira mais difícil!
Por agora limito-me a perguntar: quantas daquelas famílias que o desemprego lançou na pobreza poderiam ter as suas condições de vida melhoradas se lhes fossem oferecidos os prejuízos de uma greve?
Pensar nisto, indigna-me mesmo.

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