ACORDO ORTOGRÁFICO

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sábado, 22 de janeiro de 2011

A FORMIGA E A CIGARRA

São angustiantes as notícias que nos chegam, dando conta das grandes dificuldades de muitas famílias portuguesas por via da situação financeira degradada a que Portugal chegou.
Pessoas que, outrora, foram contribuintes de instituições de auxílio social, recorrem agora a elas para pedir ajuda depois de esgotada toda a sua capacidade para sobreviver sem auxílio.
Dezenas de milhar de crianças que sofrem de fome, muita gente que ainda não conseguiu ultrapassar a barreira da “vergonha” que as faz sofrer as suas mínguas sem queixumes e uma cada vez maior população em miséria extrema, são desgraças que não nos podem deixar indiferentes.
Os portugueses comuns são gente de causas às quais afoitamente se entregam quando confiam em quem as promove e, por isso, têm dado resposta generosa às necessidades de ajuda. Quais formiguinhas, as Instituições de Ajuda Social vão recolhendo as dádivas que atenuarão a fome dos cada vez mais portugueses que a sofrem.
Mau é saber que muito se pode agravar numa situação grave que parece não comover o governo que não reconhece os erros das suas opções já que nelas insiste. Falhou nas suas políticas de modernização que não soube pautar pelas reais capacidades e necessidades do país; Falhou nas políticas de saúde, de educação e de justiça que sacrificou a decisões que privilegiaram o investimento excessivo em infra-estruturas e equipamentos cujos custos arrastarão os encargos financeiros por anos e anos, dificultando o desenvolvimento seguro do país; Falha num “Estado Social” que consagra direitos para cuja garantia não teve o cuidado de, oportunamente, assegurar os meios necessários; Falha quando, mesmo avisado, faz “ouvidos de mercador” e insiste na bondade de projectos excessivamente onerosos e sem proveito oportuno na resolução dos problemas mais prementes dos portugueses.
O crescimento excessivo da dívida externa portuguesa (já referido em outra crónica) a que tanto desnorte conduziu e o excessivo défice orçamental são as razões de ser de um Orçamento de Estado que nos fará “apertar o cinto” como nunca.
Aumenta impostos e corta na despesa, mas fá-lo, sobretudo, penalizando os rendimentos de trabalho, mantendo quase intocáveis os gastos não reprodutivos em estruturas, organismos, benesses e remunerações injustificadas que os contribuintes suportam.
Em quaisquer circunstâncias mas, sobretudo, em tempo de sacrifícios, tornam-se escandalosas as reformas precoces e generosas dos políticos que as vão acumulando e acrescentam com outras remunerações em cargos que facilmente conseguem, os subsídios, as ajudas de custo, as mordomias e outros “extras” que os privilegiados têm, os numerosos institutos e fundações que as suas conveniências foram criando, as incontáveis empresas públicas que inventam sem fins sociais ou económicos que se compreendam e a ridícula e inoportuna insistência do Ministro das Obras Públicas na extravagância do TGV cujo contrato de adjudicação o Tribunal de Contas questionou.
Além disso, a notícia da criação de um organismo, mais um, para controlar as “grandes obras públicas” que a nossa capacidade financeira não comporta e as ruinosas “parcerias público-privadas” que deveriam ser eliminadas ou profundamente corrigidas, soa a irresponsabilidade difícil de aceitar.
Faleceu há poucos dias Errnâni Lopes que, em outros tempos de quase “bancarrota”, foi chamado para gerir as finanças nacionais que recuperou com a ajuda do FMI. Não há muito tempo, ele que conhecia bem as nossas forças e fraquezas considerou Portugal um país em risco de definhar.
Porém, o governo tem dificuldade em conter a sua ânsia de euforia como a demonstrada pelos “grandes feitos” que encheram o país de auto-estradas, de urbanizações e de edificações que ultrapassaram as necessidades, pelos negócios ruinosos em parcerias que apenas foram boas para os seus parceiros, pelo consumo desenfreado que nos tornou esbanjadores, sem cuidar de prevenir as dificuldades que o amanhã poderia trazer.
Sucessivos desvarios de quem governa mas que encantaram muitos eleitores e as “oposições” não tiveram competência para denunciar e travar, são a causa das desventuras que vivemos. Agora, quando a poupança seria útil, apenas há uma dívida monstruosa que obriga, num gesto cada vez mais oneroso, a estender a mão aos agiotas que vão cobrando mais e mais, porque às “cigarras” não se ajuda. Cantaram? Dancem agora!
Por isso, não será 2011 um ano fácil para a maioria de nós mas, se Deus quiser, superá-lo-emos com a força daqueles para quem as dificuldades são estímulos, como outrora o foram.
Um Ano Novo venturoso para todos, são os meus votos.
Rui de Carvalho
Lisboa 9 Dezembro 2010
Publicado no Notícias de Manteigas de Janeiro 2011

1 comentário:

  1. Porque estamos em dia de reflexão deveremos mesmo reflectir acerca das razões que nos levaram ao estado a que isto chegou.
    Aderimos à CEE e começaram a chegar diariamente comboios de dinheiro para não se fazer nada, para se acabar com a agricultura, para se acabar com as pescas, para se acabar com os caminhos-de-ferro, foram mais de 800Hms, e a seguir veio a destruição da indústria produtiva, por exemplo dos têxteis e ninguém se importou. Construíram Itinerários Principais de qualquer maneira e feitio só para se gastar dinheiro, como por exemplo o IP5 que foi considerada a estrada mais perigosa da Europa, mas também o IP3 e o IP4 também perigosíssimos mas não se quiseram acabar o IP6 como estava delineado da Guarda a Peniche e transformaram-no numa SCUT, a A23, para agora ser paga por todos mesmo que não tenha o verdadeiro perfil de auto-estrada. Construíram auto-estradas à fartasana, muitas delas sem trânsito que as justifique, casos da A6, A13, A15 e muitas outras, por isso estamos a pagar todos os dias pelos carros que não passam por lá, gastaram dinheiro à tripa forra num tal projecto da Aeroporto da Ota que teve que ser trocado por Alcochete onde o dinheiro gasto nem se sabe quanto já foi à vida, meteram na cabeça que haviam de construir um tal TGV, sempre a gastar com fartura. Para além de terem encerrado inúmeras linhas de caminho de ferro foram abandonando as outras como é o caso das Linhas do Oeste e do Douro que estão a cair aos poucos e até a Linha do Norte, para não se falar da linha do Leste, da Beira Baixa, da Beira Alta e do Algarve, até a Linha do Norte continua com as mazelas conhecidas pelo que o tempo de viagem entre as duas cidades continua a ser o mesmo de há 50 anos.
    Foram privatizando as empresas que a dinheiro e prestigio ao Estado, empresas essenciais ao controle da economia do país e por isso estamos a pagar a gasolina das mais caras da Europa, a energia eléctrica também das mais caras, as telecomunicações como se sabe e agora até querem privatizar outras empresas estratégicas como são as Redes de Energia, os Comboios que já funcionam mal e vão ficar piores ou melhor, só vão ficar aqueles que derem rentabilidade nos grandes eixos.
    Criaram empresas públicas, fundações, institutos, autoridades, entidades, etc., para tudo e mais alguma coisa, mas acima de tudo para serem colocados principescamente muitos dos fiéis. E assim vamos andando e ninguém diz nada.
    Mas para fazerem todos aqueles investimentos e apesar do dinheiro que ia chegando da CEE mas que em boa parte era distribuído pelos amigos, tiverem que “inventar” as parcerias público privadas, para continuarem a beneficiar os amigos, começando pela Ponte Vasco da Gama que levou a reboque, dada de bandeja, só para as receitas porque nas despesas de manutenção pagamos nós, claro, a 25 de Abril e mais todas as outras pontes que se vierem a construir até Vila Franca. Mas sobre estas parcerias, se as mesmas não forem renegociadas com urgência e determinação, serão estas que hão-de levar o país à falência, ao passo que os parceiros, diria até os coveiros autorizados, cada dia que passa ficam mais ricos.
    Na Educação conseguiram destruir o Ensino Técnico Profissional e por isso hoje não temos técnicos intermédios, estão a desmantelar o Serviço Nacional de Saúde e na Justiça é o que se sabe.
    Aparentemente com a ideia de regularizar as contas do País criaram uma mão cheia de PECs e um Orçamento do Estado que já começou a fazer mossa na carteira dos que menos podem e assim vamos andando de derrota em derrota até à derrota final.
    Muita mais havia para dizer, mas para dia de reflexão, já basta.

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