ACORDO ORTOGRÁFICO

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domingo, 10 de abril de 2016

O CIRCO DO DEUS DINHEIRO



Ainda não percebi a euforia do “jornalismo de investigação” nesta questão dos “papeis do Panamá”, uma lista que alguém lhes fez chegar e na qual me parece que tudo é confundido porque mistura factos naturais de quem, no sistema capitalista que vivemos, procura melhor rendimento para o seu dinheiro, com lavagem de dinheiro proveniente das mais diversas más práticas como fuga aos impostos, traficância, negócios ilegais e corrupções diversas.
Na análise que dizem vir a fazer de há um ano até agora, não me parece haver mais do que uma listagem de quem tenha dinheiro em off-shores o que, só por si, pode nem ser um crime.
Para além disso, se crimes existem, e existirão com certeza e não serão poucos, competirá à polícia de investigação tratar disso pois jamais serão os jornalistas quem pode ilibar ou condenar seja quem for pelas práticas que tenha.
De resto, que investiga o famoso “consórcio jornalístico mundial”? Nomes, apenas nomes com que vão enchendo páginas de jornal e horas de televisão, com tal pompa e circunstância que até parece terem descoberto a pólvora.
Se o pai do primeiro ministro inglês investiu, há muito tempo, umas quantas libras através de um off-shore e com isso ganhou algum dinheiro que, por morte, deixou ao filho, por que será isto, só por si, notícia? Porque se trata de um primeiro-ministro?
Obviamente porque interessa à comunicação social que assim vende mexericos ao preço de informação.
Se um industrial de não sei de onde fez o mesmo… o que é que tem se o tiver feito sem desrespeitar os seus deveres fiscais? Mas dele se fala uma vez e pronto porque, publicamente, não passa de um Zé Ninguém a que ninguém presta importância.
Ora, se eu não tenho visto mais do que citar uns quantos nomes, umas poucas dezenas que dizem ser o princípio de uma longa lista, o que terão andado a investigar ao longo de um ano inteiro?
Parecem miúdos deslumbrados com o seu brinquedo novo.
Melhor seria, creio eu, avaliar os impactes de tais práticas, mesmo se legais, nas economias e na situação crítica em que se encontra o mundo e disso tirar conclusões que permitam analisar o presente que vivemos para melhor prepararmos o futuro que aí vem.
Mas o que vejo é que ainda não entenderam a realidade de um mundo que deixou de permitir, sem consequências graves, a bagunça de atitudes que fizeram o sucesso de uma economia de mentira que os explorados aplaudem porque, assim, julgam viver melhor.
A economia só pode “crescer” se comprarmos o que não precisamos, bens supérfluos e de ostentação, se deitarmos fora o que ainda pode ter préstimo e o substituirmos por algo que apenas é mais recente, o que tantas vezes fazemos assumindo   compromissos financeiros excessivos, incompatíveis até com as nossas potencialidades. O que, curiosamente, faz crescer a economia!
São os que com isso lucram muito dinheiro que colocam fortunas em off-shores que o utilizam para constituir os “mercados” que exploram os países que pagam essa exploração com os impostos cada vez mais elevados que cobram aos cidadãos que, deste modo, são duplamente explorados.
Afinal, é o dinheiro de todos nós que por ali anda nos “papeis do Panamá” ou de outros off-shores quaisquer, dos muitos que há pelo mundo.
É o dinheiro com que comprámos o que nem nos fazia falta, aquilo com que substituímos o que ainda prestava, a droga com que nos matamos, o dinheiro que os poderosos nos roubam em esquemas de corrupção sofisticados, mas a quem continuamos a prestar vassalagem pelo dinheiro que têm.
Por fim resta-me uma pergunta: por que será que aquela lista imensa de supostas infracções foi enviada a um jornal e não a uma polícia que a pudesse, de facto, investigar?

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