Ainda
não percebi a euforia do “jornalismo de investigação” nesta questão dos “papeis
do Panamá”, uma lista que alguém lhes fez chegar e na qual me parece que tudo é
confundido porque mistura factos naturais de quem, no sistema capitalista que
vivemos, procura melhor rendimento para o seu dinheiro, com lavagem de dinheiro
proveniente das mais diversas más práticas como fuga aos impostos, traficância,
negócios ilegais e corrupções diversas.
Na
análise que dizem vir a fazer de há um ano até agora, não me parece haver mais
do que uma listagem de quem tenha dinheiro em off-shores o que, só por si, pode
nem ser um crime.
Para
além disso, se crimes existem, e existirão com certeza e não serão poucos, competirá
à polícia de investigação tratar disso pois jamais serão os jornalistas quem
pode ilibar ou condenar seja quem for pelas práticas que tenha.
De
resto, que investiga o famoso “consórcio jornalístico mundial”? Nomes, apenas
nomes com que vão enchendo páginas de jornal e horas de televisão, com tal
pompa e circunstância que até parece terem descoberto a pólvora.
Se
o pai do primeiro ministro inglês investiu, há muito tempo, umas quantas libras
através de um off-shore e com isso ganhou algum dinheiro que, por morte, deixou
ao filho, por que será isto, só por si, notícia? Porque se trata de um
primeiro-ministro?
Obviamente
porque interessa à comunicação social que assim vende mexericos
ao preço de informação.
Se
um industrial de não sei de onde fez o mesmo… o que é que tem se o tiver feito
sem desrespeitar os seus deveres fiscais? Mas dele se fala uma vez e pronto
porque, publicamente, não passa de um Zé Ninguém a que ninguém presta
importância.
Ora,
se eu não tenho visto mais do que citar uns quantos nomes, umas poucas dezenas
que dizem ser o princípio de uma longa lista, o que terão andado a investigar
ao longo de um ano inteiro?
Parecem
miúdos deslumbrados com o seu brinquedo novo.
Melhor
seria, creio eu, avaliar os impactes de tais práticas, mesmo se legais, nas
economias e na situação crítica em que se encontra o mundo e disso tirar conclusões
que permitam analisar o presente que vivemos para melhor prepararmos o futuro
que aí vem.
Mas
o que vejo é que ainda não entenderam a realidade de um mundo que deixou de
permitir, sem consequências graves, a bagunça de atitudes que fizeram o sucesso
de uma economia de mentira que os explorados aplaudem porque, assim, julgam
viver melhor.
A
economia só pode “crescer” se comprarmos o que não precisamos, bens supérfluos e
de ostentação, se deitarmos fora o que ainda pode ter préstimo e o substituirmos por algo que apenas é mais recente, o que tantas
vezes fazemos assumindo compromissos
financeiros excessivos, incompatíveis até com as nossas potencialidades. O que, curiosamente, faz crescer a economia!
São
os que com isso lucram muito dinheiro que colocam fortunas em off-shores que o
utilizam para constituir os “mercados” que exploram os países que pagam essa
exploração com os impostos cada vez mais elevados que cobram aos cidadãos que, deste modo, são duplamente explorados.
Afinal,
é o dinheiro de todos nós que por ali anda nos “papeis do Panamá” ou de outros
off-shores quaisquer, dos muitos que há pelo mundo.
É
o dinheiro com que comprámos o que nem nos fazia falta, aquilo com que
substituímos o que ainda prestava, a droga com que nos matamos, o dinheiro que os
poderosos nos roubam em esquemas de corrupção sofisticados, mas a quem continuamos a prestar
vassalagem pelo dinheiro que têm.
Por
fim resta-me uma pergunta: por que será que aquela lista imensa de supostas
infracções foi enviada a um jornal e não a uma polícia que a pudesse, de facto,
investigar?
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