Nas reflexões que tenho
feito sobre Democracia, sobre o momento de Portugal e sobre a saída do programa
de resgate, tenho colocado a tónica na adaptação de alguns princípios e
procedimentos democráticos às novas circunstâncias que o tempo vai criando,
apesar de, por alguns saudosistas de um tempo que já não existe, além de outros
puristas defensores da manutenção de absurdos, serem considerados como sagrados.
Aliás é um princípio
inquestionável que o que não consegue
adaptar-se, morre! E, mais do que isso, é um princípio que a cada momento é
reclamado quando se trata de outras coisas, como sejam, por exemplo, os
direitos das minorias.
A superiorização das
maiorias e a sua inquestionável razão, são conceitos ultrapassados pela Ciência,
pela própria razão e cujos resultados da sua adopção simples desmitificaram há
muito tempo. Só o não verá quem estiolou, quem parou no tempo e se não dá conta
do que se passa ou, por que não, quem não está disposto a perder certas
regalias.
Agora estamos na era dos
consensos, da reflexão que nos conduza ao que seja melhor para todos no mais
longo prazo, deixando de fazer qualquer sentido certos tiques de uma Democracia
entorpecida pela imobilidade e que corre o risco de se deixar ultrapassar por
ideais autoritários que, depois de antes apenas espreitarem, agora se mostram
já de corpo inteiro para influenciar o futuro de uma Europa que dele nunca bem
soube cuidar. Talvez porque não seja
essa a intenção dos que mais o podem influenciar...
Então por que não haverá
de mudar-se o que durante tempo demais foi considerado inalterável, aceitando,
de vez e como as circunstâncias eloquentemente demonstram, que há princípios que
já não fazem qualquer sentido, mesmo se reclamados pelos que foram os “monstros
sagrados” da Democracia mas que, pelas infelizes declarações e propostas que agora
fazem ou pelas posições que tomam, são a prova eloquente da desactualização das
suas ideias e convicções.
Há que deixar a visão de
curto prazo que a Democracia da alternância obrigatória não pode ultrapassar,
para dar caminho aos procedimentos próprios de circunstâncias que nos não
consentem já os desvarios de outrora em que muitos recursos havia para esbanjar
e o tempo sobejava para tomar e alterar decisões ao sabor dos interesses do
momento.
Não faz mais sentido a “guerra
do Alecrim e Manjerona” que bem retrata a comicidade dos confrontos políticos
que já se não suportam e se torna imperativo por um fim à dominância dos que
continuam a fazer da democracia do curto prazo, do faz e desfaz para voltar a
fazer, a razão de ser da sua vida.
A pouco e pouco o vão
dizendo aqueles que, ainda não há muito tempo, o recusavam. E no mesmo “Lisbon
Summit” em que Seguro debitou os seus argumentos falidos e deu conta dos
receios que a sua atitude de não cooperação não quer desfazer, um alto dirigente do Banco Central Europeu
(BCE), Peter Praet, sugeriu que faz sentido pensar numa terceira solução para o
período pós-resgate: os partidos do arco da governação devem “encontrar uma
maneira de assinalar o compromisso em fazer reformas nos próximos anos”. O
que aqui tenho constantemente reclamado e não passa, afinal, do PACTO DE REGIME
que Seguro descarta, porque as reformas estruturais indispensáveis exigem
compromissos políticos de longo prazo, do que apenas uma democracia modernizada
será capaz.
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