Muito se criticou, em
tempos, a afirmação de Passos Coelho de que teríamos de “empobrecer” para
reequilibrarmos as nossas finanças. Apesar de compreender o que o Primeiro
Ministro queria dizer com a afirmação que fez, surpreendeu-me que o tenho dito
daquele modo chocante que não é, de todo, o que os políticos costumam usar e, para
além disso, nem sequer correspondia à realidade.
Na verdade, os pobres não
empobrecem, porque já são pobres! E pobre estava Portugal naquela situação de
pré-ruptura que foi a razão de ser de um “resgate” do qual ainda não saímos,
como pobre estava, também, a maioria de nós, porque era artificial o nível de
vida que resultava de empréstimos que, muitas vezes, ultrapassavam a capacidade
que tínhamos para os honrar.
O país e o seu povo
estavam pobres porque tinham compromissos financeiros excessivos, dos quais
resultavam dívidas, pública e privada, que atingiram níveis demasiado elevados,
perante os quais lhe começaram a ser exigidos juros cada vez mais caros, até
atingirem valores impossíveis de suportar. Deste modo, a bancarrota, uma
catástrofe financeira que nos atingiria cruelmente, seria inevitável sem a
ajuda do resgate a que tivemos de recorrer e nos obrigou à austeridade que
temos de viver.
Não deveria, pois, Passos
Coelho ter feito a afirmação que fez porque estaria mais correcto dizer que
teríamos de assumir a nossa pobreza real, aquela que empréstimos sucessivos
disfarçavam, fazendo-nos acreditar numa riqueza que não tínhamos.
E começou a dura tarefa da
recuperação que já atingiu um ponto que, como parecem consenti-lo os
indicadores económicos, levou o líder parlamentar social-democrata a afirmar
que “a vida das pessoas ainda não está melhor, mas a do país está muito melhor”.
Outra forma pouco “política” de fazer uma afirmação cuja razão de ser
compreendo mas não posso aceitar como explicação seja do que for.
Terão as pessoas atingido
o “empobrecimento” de que falou o Primeiro Ministro ou, como me parece mais
certo dizer, estaremos a sentir uma realidade da qual as “manobras” financeiras
nos não permitiam dar conta? É, por certo, esta última a explicação para as
provações que ainda sentimos, das quais apenas com trabalho e bom senso nos
veremos livres se conseguirmos manter o país no rumo do controlo financeiro que
nos permitiu chegar até aqui.
Por muito que me custe
aceitá-lo, não creio que haja condições para evitar o “pacto de agressão” de
que fala o PCP, a política do “roubo” de que fala o BE ou a política da “incompetência”
de que fala o PS. A menos que queiramos ainda mais austeridade ou, mesmo até, a
bancarrota da qual podemos ter-nos já livrado.É uma realidade dura de suportar, difícil de reconhecer, impossível de ignorar.
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