ACORDO ORTOGRÁFICO

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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

EMPOBRECEMOS OU ÉRAMOS POBRES?

Muito se criticou, em tempos, a afirmação de Passos Coelho de que teríamos de “empobrecer” para reequilibrarmos as nossas finanças. Apesar de compreender o que o Primeiro Ministro queria dizer com a afirmação que fez, surpreendeu-me que o tenho dito daquele modo chocante que não é, de todo, o que os políticos costumam usar e, para além disso, nem sequer correspondia à realidade.
Na verdade, os pobres não empobrecem, porque já são pobres! E pobre estava Portugal naquela situação de pré-ruptura que foi a razão de ser de um “resgate” do qual ainda não saímos, como pobre estava, também, a maioria de nós, porque era artificial o nível de vida que resultava de empréstimos que, muitas vezes, ultrapassavam a capacidade que tínhamos para os honrar.
O país e o seu povo estavam pobres porque tinham compromissos financeiros excessivos, dos quais resultavam dívidas, pública e privada, que atingiram níveis demasiado elevados, perante os quais lhe começaram a ser exigidos juros cada vez mais caros, até atingirem valores impossíveis de suportar. Deste modo, a bancarrota, uma catástrofe financeira que nos atingiria cruelmente, seria inevitável sem a ajuda do resgate a que tivemos de recorrer e nos obrigou à austeridade que temos de viver.
Não deveria, pois, Passos Coelho ter feito a afirmação que fez porque estaria mais correcto dizer que teríamos de assumir a nossa pobreza real, aquela que empréstimos sucessivos disfarçavam, fazendo-nos acreditar numa riqueza que não tínhamos.
E começou a dura tarefa da recuperação que já atingiu um ponto que, como parecem consenti-lo os indicadores económicos, levou o líder parlamentar social-democrata a afirmar que “a vida das pessoas ainda não está melhor, mas a do país está muito melhor”. Outra forma pouco “política” de fazer uma afirmação cuja razão de ser compreendo mas não posso aceitar como explicação seja do que for.
Terão as pessoas atingido o “empobrecimento” de que falou o Primeiro Ministro ou, como me parece mais certo dizer, estaremos a sentir uma realidade da qual as “manobras” financeiras nos não permitiam dar conta? É, por certo, esta última a explicação para as provações que ainda sentimos, das quais apenas com trabalho e bom senso nos veremos livres se conseguirmos manter o país no rumo do controlo financeiro que nos permitiu chegar até aqui.
Por muito que me custe aceitá-lo, não creio que haja condições para evitar o “pacto de agressão” de que fala o PCP, a política do “roubo” de que fala o BE ou a política da “incompetência” de que fala o PS. A menos que queiramos ainda mais austeridade ou, mesmo até, a bancarrota da qual podemos ter-nos já livrado.
É uma realidade dura de suportar, difícil de reconhecer, impossível de ignorar.


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