Se alguém, desesperado
pelos problemas que esta “economia do usa e deita fora” lhe trás, afirmar que “o que é preciso é haver democracia a sério,
não destruírem o Estado-Saúde e não fazerem isto que estão a fazer às pessoas,
que estão todas a morrer à fome e desesperadas”, eu relevo os exageros do que
diz ou a pouca compreensão que revela do momento que vivemos e de como superar
o desconforto que nos dá. Mas se for um ex-Primeiro Ministro e ex-Presidente da
República quem o proclama, eu só posso ficar estarrecido e muito preocupado
pelo modo como pessoas que, alguma vez, julgámos serem as mais competentes para
governar este país, resolvem situações dramáticas, complexas e ainda não
completamente esclarecidas, com “soluções” verborrágicas como as que se revelam em tal afirmação.
O que será democracia a
sério? Aquela em que todos somos livres de fazer ou de dizer os disparates que
quisermos e fazer política com a insensatez que tivermos? Se for, não sei do que
reclama Soares. Quanto ao resto, fica-me a ideia, transmitida por alguém que já
deteve o poder, que depende do arbítrio de quem governa que cada um de nós viva
melhor ou pior, disponha ou não de melhor assistência social, bem como de
outros valores que, cria eu, se alcançam com a iniciativa, o trabalho e a perseverança
de todos que um Governo legítimo saiba promover e gerir.
Sabendo todos nós, como
sabemos, não ter o país condições e meios que permitam a abastança de que todos
gostaríamos de usufruir e, por isso, ser obrigado a um empenhamento maior na
gestão dos seus recursos e a uma contenção criteriosa dos seus gastos, não nos
podemos surpreender com as dificuldades resultantes dos avultados desperdícios
que gestões descuidadas ou, até mesmo, danosas provocaram e se não remedeiam do
modo superficial como Mário Soares sugere na demagógica afirmação com que,
persistentemente, defende o regresso do “seu socialismo” incontinente nos
gastos e improfícuo nos resultados que alcança.
Quanto a mim, democracia a
sério seria aquela que o PS revela não praticar quando, como publicamente
afirmou a Ministra da Justiça, a uma consulta formal sobre um projecto
nacional, a reforma judiciária, responde que “não é, o maior partido da oposição, assessor ou consultor do governo”!
É, pois, uma democracia de
competição a do PS, uma democracia em que uns fazem para, depois, outros
desfazerem, num desperdício de tempo, de esforços e de recursos que, bem
aproveitados numa cooperação frutuosa, por certo permitiriam os resultados que
a sugestão de Soares jamais alcançará.
Sem comentários:
Enviar um comentário