O futebol move multidões,
dá vida a paixões e, sobretudo, nestes tempos difíceis, é objecto de grandes
preocupações com a sua viabilidade financeira. Tal como na vida em geral, os
tempos dos desperdícios e dos grandes gastos já lá vão, pelo que nada pode ser
desperdiçado.
Mas porque é gente que faz
o espectáculo e muita mais a gente que a ele assiste, há problemas de segurança
que devem ser considerados e assegurados, o que faz do ir ao futebol um acto
bem mais complexo e carente de cuidados do que o era noutros tempos.
As tragédias em estádios
de futebol, quando acontecem, são sempre de proporções desmedidas, de
consequências funestas, pelo que não são demais os cuidados que se tenham para
as evitar.
A tragédia rondou o
Estádio da Luz no passado Domingo, quando se preparava o início de um encontro
entre o Benfica e o Sporting. A evacuação do estádio, felizmente feita em
condições que teriam sido perfeitas não fora o caso dos adeptos sportinguistas
obrigados a permanecer nos seus lugares por tempo demasiado, evitou que chapas
metálicas de dimensões apreciáveis, arrancadas da cobertura pelo vento, tivessem
atingido e ferido gravemente muita gente que, nas bancadas, se preparava para assistir
ao jogo.
Foi um espectáculo
surpreendente mas que, sei-o agora, já tinha ocorrido em menores proporções
algum tempo atrás, no decurso de um outro jogo. Por isso me causa estranheza
que, em dia de vendaval, não tivesse havido os cuidados adequados às
circunstâncias, os quais seriam da responsabilidade do dono do estádio e do
promotor da competição, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional.
Não posso conceber que, em
face de condições de risco que, afinal, eram conhecidas, se não tenha evitado o
perigo potencial do que ocorreu, cancelando o jogo em função dos avisos
oficiais que alertavam para condições climatéricas extremas, em vez de, por más
razões, se insistir em realizá-lo. É este um pormenor gravíssimo a considerar e
a ponderar, tendo em vista situações idênticas futuras. Aconteceram leviandades
que apenas a sofreguidão de evitar custos e o desprezo pela segurança de tanta
gente pode justificar.
Mais leviano, ainda, me
pareceu o comunicado do Benfica que, menos de vinte e quatro horas depois, dava
como certa a realização do jogo hoje, como fora decidido na condição de poder
ser garantida toda a segurança, deixando a sensação, mais do que pertinente, de
ter sido a decisão precipitada por falta de tempo para que fossem tomadas todas
as precauções, revistas todas as situações e fundadas as garantias que todas as
razões, incluindo o mau tempo previsto para hoje, exigiriam.
Também o Presidente da
Liga se precipitou nas declarações que fez ao secundar as que o Benfica tinha
feito, depois de o Sporting ter exigido outros cuidados sem os quais
responsabilizaria quem tomasse a decisão sem os garantir por entidade
independente e competente.
Apesar da gritaria de um
tal Seara num programa de televisão que, tanto quanto me apercebi, nem leu
completamente o comunicado do Sporting, com deduções delirantes quanto a
propósitos de que me não dei conta, a tal vistoria exigida pelo Sporting terá
(?) lugar hoje de manhã, o que me parece difícil que possa ser bem feito em
face das condições atmosféricas de que me apercebo, mas é a prova cabal do
reconhecimento da razão do Sporting pelas entidades que não quiseram assumir a
responsabilidade que o comunicado do Clube de Alvalade lhes imputava.
A segurança da vida humana
é um factor demasiado importante para ficar à mercê das imprudências do Benfica
ou de uma inspecção ligeira que tenha sido feita, seja por quem for, sem as condições
que garantam a normalidade que o que sucedeu mostrou que não estava assegurada.
Fez bem o Sporting por não
pretender tirar partido de regras que consideram culposas e dignas de castigo
severo situações de risco como a que aconteceu, porque o futebol se joga no
campo e não nos regulamentos. Mas não pode, mesmo assim, ficar o Benfica impune
por uma situação de potencial tragédia que, felizmente, foi evitada.
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