Nunca fui um europeísta convicto.
Melhor talvez, sempre fui um europeísta desconfiado! Desconfiei do altruísmo com que,
subtilmente, a Europa nos aliciava e nunca me enganou o oportunismo com que
nela quisemos entrar, porque nunca senti, sem ambiguidades, o ideal europeu do
qual resultaria um todo unido e forte que faria da União Europeia o espaço
dentro do qual todos prosperaríamos em conjunto.
Por isso, aceito a
participação na União Europeia como um mal menor depois do “orgulhosamente sós”
que, outrora, foi o lema de uma “independência” que não pode ter hoje os mesmos
contornos de então e como uma fatalidade a que a nossa localização geográfica praticamente
nos condena.
Mas não seria, porém, a
única alternativa para acabar com o isolamento, porque outras razões,
porventura mais fortes do que a proximidade, existiam e nos poderiam ter
conduzido por outros caminhos que, infelizmente, não trilhámos porque não eram
os de quem se “apoderou” da Revolução de Abril, porque estavam na Europa, mais
no centro ou mais a leste, os seus interesses, os seus apoios ou os seus ideais.
De qualquer modo, tentar
construir um todo razoavelmente uniforme, uma união que esbatesse a desigualdades
existentes nos numerosos países que dividem este pequeno Continente, procurando
nela a força que, cada um de per si, não teria perante uma economia global que
a um por um esmagaria, poderia ser uma intenção generosa, se não fosse egoísta
como está a revelar-se, mas seria sempre arriscada, longa e trabalhosa.
Um projecto tão ambicioso
e historicamente único deveria ter fundamentos e convicções muito sólidos, dos
quais nunca me dei conta, em vez dos interesses económicos que a proximidade
alimenta.
A construção da Europa necessitaria,
igualmente, de longos tempos de adaptação e de transição para uma cultura
europeia que não nasceria em breves dezenas de anos. Teria de prosseguir um
projecto bem pensado e muito claro para que não houvesse dúvidas quanto às suas
intenções.
Em suma, construir a
Europa teria de corresponder a um processo claro, muito bem definido e cuidado,
prudente e percorrido com passos cautelosos, com procedimentos bem sedimentados,
o que diversas e, quanto a mim, inoportunas acelerações do alargamento nunca
consentiram.
Porque foi oportunista, a
construção da Europa foi descuidada. A rapidez deixou vazios enormes e fez
perder a noção do espaço integrado que os seus mentores iniciais terão sonhado
porque, como sempre acontece, ao sonho se segue a realidade que é a diversidade
de interesses e as desigualdade de poderes que fazem, agora, da União Europeia
uma manta de retalhos sem uma identidade comum e sem interesses verdadeiramente
partilhados.
Sobretudo na zona do euro
na qual nos integrámos, talvez sem o dever fazer, as divergências de interesses
são mais óbvias ainda. O que deveria ser feito para resolver os problemas
resultantes de uma errada política de desenvolvimento, não o pode ser porque os
“princípios” que em cada país imperam impedem o que deveria ser feito no
interesse comum.
Enquanto o Tribunal Constitucional
português impede muitas das soluções que os que nos “apoiam” financeiramente
nos impõem, o Tribunal Constitucional alemão torna impossível, naturalmente em
nome dos interesses alemães, uma solução que proteja, definitivamente, os
países em maiores dificuldades das especulações dos mercados que acabarão por
destruí-los.
A crise do euro que
afecta, por isso e sobretudo, as “economias” periféricas, entre as quais
Portugal, constitui o maior pomo de discórdia que se tornou mais do que evidente
nos procedimentos de “ajuda” que se traduziram na austeridade que há anos
vivemos e da qual, matematicamente, se não vislumbra a saída sem os
procedimentos que o TC alemão não consente.
Não somos únicos nesta
situação de vulnerabilidade que nos faz sermos os atrasados na Europa a duas
velocidades como os mais fortes pretendem, exactamente a filosofia de um “apartheid”
já desfeito em África mas que na Europa faz o seu caminho.
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