Há muito que o Ocidente se
quis livrar do trabalho pesado de fazer as coisas e as deixou para os países
orientais menos desenvolvidos as fazerem, em lugares onde a miséria obriga as
pessoas a aceitar os trabalhos mais penosos em troca de meia dúzia de tostões.
Foi a mão-de-obra barata
que começou por tornar o Oriente tão atractivo para instalar indústrias
mão-de-obra intensiva, das quais os “lordes” ocidentais sem reclamar se
livraram e as multinacionais aproveitaram para alcançar maiores lucros.
É assim como o que sucede
entre nós que nos habituámos a trabalhos menos pesados e melhor remunerados, ou
até a não trabalhar, quando está na hora de apanhar a azeitona, de colher as
uvas e os morangos, eu sei lá! E acontece que um país de desempregados tem de
recorrer a mão-de-obra mais barata, também desta vez de lugares mais a leste,
porque não há por cá quem se sujeite à “indignidade” de tais trabalhos. Temos
doutores, investigadores, cientistas e outros privilegiados, mas não temos quem
faça os trabalhos indignos de um povo de pobretanas. Esse fica para romeno ou
búlgaro fazer, tal como fica para outros ainda mais a oriente fazerem o que a
nossa “elevada” consciência cívica não permitiria que alguém fizesse por aqui. São
trabalhos perigosos que resultam de procedimentos, de técnicas e de condições que
constituem um total desrespeito pela dignidade humana.
Aproveitam-se disso as
grandes multinacionais que maiores lucros conseguem e aproveita-se, também, cada um de nós que nos
preços mais baixos que paga se não preocupa com o sofrimento causado em muitos
para os conseguir.
Mas a transferência de
indústrias para o Oriente, para aproveitar os seus ridículos custos de mão-de-obra,
também lucra de outros modos que, por aqui, não seriam consentidos.
Num documentário que vi sobre
a indústria têxtil na China, na Índia e no Bangladesh, onde as grandes marcas
mandam fazer os seus produtos, dei-me conta de atrocidades inimagináveis contra
a Vida Humana e contra o Ambiente, em processos de produção que utilizam
produtos de elevada periculosidade que roubam a saúde às pessoas, poluem terras
que tornam estéreis e tornam os meios hídricos perigosos de aproveitar.
À mão-de-obra escrava se
juntam processos industriais baratos e perigosos para quem trabalha mas também
para quem usa as roupas deles resultantes. Riscos que vão das simples alergias
a doenças graves, são o resultado de uma atitude que, como tantas outras, está
a tornar este mundo num inferno que, espero, não dure muito mais tempo. Se não
for pelo despertar das consciências que a ganância adormeceu, sê-lo-á, por
certo, pelas consequências que tanta inconsciência provoca.
Seja como for, um dia o
mundo se dará conta da tragédia que é esta “economia” que, a um tempo, estraga
a vida e o ambiente de que necessita para existir.
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