A notícia de que o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas havia “cortado relações com o Governo” reforçou-me a sensação desagradável de viver num país de loucos.
Obviamente e como nos
demais conflitos abertos com o Governo, são os “cortes do orçamento” o pomo da
discórdia. Pensava eu que, a tão elevado nível intelectual, as coisas se
passariam de outro jeito, procurando soluções para os problemas que existam em
vez de criar situações de ruptura ao nível de um sindicato menor qualquer, acabando
de costas voltadas aqueles a quem mais competia pensar o futuro do país, o Ministério
da Educação e da Ciência e as Universidades.
Como aconteceu em todos os
ministérios, também o da Educação e Ciência viu as suas verbas serem reduzidas,
o que, naturalmente, causa problemas na gestão das escolas que obrigam a
procurar as soluções possíveis.
Olhando para as
contestações que se sucedem, porque todos reclamam pelos cortes que tiveram,
noto que cada um pretende apresentar mil motivos para demonstrar que o seu corte é o
mais injusto, o que mais penaliza o país que, deste modo, retrocederá uma ou duas décadas. Enfim,
todos pretendem ter razão, seja aquele grevista que se queixa de já ter podido ter dois carros e agora apenas um ou os magistrados que se julgam imunes aos
sacrifícios que a outros tem lógica pedir mas não a eles, porque são eles!
Fico com a impressão de
que ainda ninguém deu conta do verdadeiro problema deste país que, ao longo de
muitos anos, viveu, em larga medida, com o dinheiro dos outros. O que estaria
certo se, como alguém disse, não fossem as dívidas para pagar.
Um dia, juntámo-nos à
Europa e pensámos ter alcançado a Utopia tão desejada de sermos
ricos, não termos de fazer trabalhos menores e, finalmente, todos podermos ser
doutores.
Voltámos as costas ao
trabalho pesado e às tarefas menores, pois abandonámos os campos, o mar, as
fábricas. Fomos todos para a Universidade! Todos assumimos, em pleno, os
direitos inscritos numa Constituição cujos autores se esqueceram de olhar para
o país todo e avaliar a sua real situação e as suas capacidades antes de tomar certas decisões.
Não olharam porque o não
conheciam, pois não vi na Assembleia Constitucional, nem nas que se lhe
seguiram, representando o povo, sapateiros, trabalhadores do campo, operários
de fábricas, mendigos, lavadores de ruas e tantos outros que, afinal, seriam os
que, mais do que os "doutores" que por ali andaram, sabiam quais eram os
problemas do país. Antes, vi filas de gente que se acotovelava para alcançar um
lugarzinho onde podia subir na vida, quando a oportunidade era para não tirar
os pés da Terra! E subiu muito, alguns ficaram, logo, doutores...
Também os outros não
ficaram muito ralados com isso. Pelo contrário, aceitaram de bom grado as
dádivas de uma Constituição generosa que, reparei também, nada tinha de
parecido com a lei fundamental que era aplicada no “país do socialismo” que
tanto a inspirou!
E todos louvámos a
conquista de uma lei que garante direitos que apenas o cumprimento de deveres
e o trabalho sério poderiam conceder.
Foi bom enquanto durou. E
deu para muitas coisas que fez rica tanta gente que jamais pensou amealhar o
que amealhou! Serviu aos que nem precisariam de fazer nada para terem o mínimo
de que precisassem, com isso se contentando. Garantiu direitos eternos que, agora, ninguém quer perder…
Mas, um dia, a torneira
secou e, naturalmente, a situação teve de mudar e cada um viver com o que possa
ter. Chegou o tempo de corrigir os erros praticados, recuperar o que foi
roubado e voltar a trabalhar. É isso o que deve ser feito!
E aos Reitores das
Universidades e ao seu Ministro, mais do que a ninguém, competiria dar o
exemplo da procura de soluções para tão desagradável situação.
Sem comentários:
Enviar um comentário