ACORDO ORTOGRÁFICO

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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ANO EUROPEU DE COMBATE À POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL

A pobreza é um problema mundial crescente, traduzido em estatísticas revoltantes que dizem que mais de 24.000 pessoas morrem de fome em cada dia que passa e que outras mais de mil milhões vivem na pobreza extrema. Mas, neste Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social que vai terminar e integrou o Dia Internacional para Erradicação da Pobreza, para além de meritórias iniciativas privadas, de pouco mais me dei conta do que de belas palavras e boas intenções sem evidentes resultados práticos na minimização das inumeráveis tragédias que, por esse Mundo, acontecem.
Nem podia deixar de ser assim porque não é com “boa vontade” que se combate a pobreza e, muito menos, se erradica. A pobreza é um problema grave do Mundo que as circunstâncias vão tornando cada vez maior, sendo necessária uma mudança profunda do nosso modo de viver para que os limitados recursos naturais, que são de todos, possam proporcionar as condições satisfatórias de vida a que qualquer ser humano tem direito.
Nunca foi preocupação primeira do Homem a repartição a que a “caridade cristã” apela falando aos corações dos que mais têm mas que preferem ter cada vez mais porque nenhum mais é bastante, nem a que o “comunismo” teorizou e prometeu mas da qual apenas resultaram novas elites favorecidas, uma pobreza cada vez maior e um estrondoso fracasso. Mas também não será o capitalismo desenfreado, desrespeitador dos equilíbrios naturais indispensáveis à vida e indiferente à justiça social que preencherá o fosso que separa ricos e pobres.
Por isso a pobreza continua a ser a realidade que tenta encontrar, nas sobras dos que têm demais, aquilo de que necessita para sobreviver, numa proximidade de que foram resultando áreas cada vez mais extensas de barracas, bairros de lata, favelas, muceques, caniço, ou seja lá o que for que se lhes chame, a envolver cidades.
Mas o problema assume dimensões maiores, passando das cidades aos continentes e ao mundo inteiro, acompanhando a globalização que realça os desequilíbrios dentre os quais este é o mais desumano.
Para os que tentam escapar do inferno das zonas mais degradadas e pobres do mundo, a envelhecida Europa é um destino muito desejado, apesar de todos os seus problemas. São milhares, muitos milhares os que arriscam a vida para a alcançar e, quando o conseguem, por aqui se vão mantendo como podem, longe das vistas dos que têm a seu cargo controlar tais migrações. Apesar das más condições em que, tantas vezes, vivem, preferem-nas às que tinham no seu lugar de origem.
Num futuro não muito distante talvez sejam milhões, muitos milhões os que, seja por qual modo for, na Europa se tentarão instalar também, porque a população nas zonas mais desfavorecidas cresce a um ritmo muito elevado, do que resultam insuportáveis privações a que nenhum ser humano consegue resistir nem merece estar sujeito.
Há por esse mundo fora multidões amarguradas pela fome e pela doença, desejosas de se livrarem das dores a que, pelo nascimento, a sorte as condenou. Existem povos que autênticos carrascos escravizam e exploram em terras que, podendo ser férteis, as perseguições ou a guerra não deixam que nelas se produza o que lhes mataria a fome.
Os que se dizem defensores dos direitos do Homem deixam-se manietar por absurdas regras de conduta de um “Direito Internacional” pouco interventivo ou resguardam-se num conveniente faz-de-conta que não impede que execráveis opressores pratiquem barbaridades que, não raras vezes, atingem a “limpeza étnica”.
Assiste o chamado “mundo evoluído”, sereno, aos horrores que, por não serem seus, lhes não causam grande mossa, sem pensar que, um dia, talvez se veja envolvido na “grande confusão” que a sua falta de intervenção e de solidariedade para com os desfavorecidos originou. E se, alguma vez, eles resolvem reclamar a parte dos bens do mundo que lhes pertence? Como se pára a grande invasão?
A pobreza é um problema global que nenhum país ou continente pode, definitivamente, resolver só por si.
É mais um problema de dimensão mundial que, tal como outros muito sérios para o futuro da Humanidade, a crise financeira parece ter feito esquecer, mostrando bem como ela afastou os valores sociais e morais das preocupações políticas. Porém, os seus efeitos far-se-ão sentir com toda a crueza se, a tempo, o Homem não se der conta do que terá de mudar para poder viver em paz.
(Publicado no Notícias de Manteigas de Dezembro 2010)

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