ACORDO ORTOGRÁFICO

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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

É SEMPRE MEDONHO QUANDO A TERRA TREME



Estava a escrever neste mesmo computador quando, hoje, pouco antes do Meio-Dia, senti tudo tremer.
Tratava-se, sem dúvida, de um sismo e só me restava esperar que se não repetisse o drama que já vivera há cerca de 50 anos.
Felizmente, este sismo foi mais suave e bem menos duradouro.
Então, era o ano de 1969.
Estava fresco porque o mês era Fevereiro.
Era noite, cerca das 4h e eu dormia quando fui acordado por minha mulher que me alertou para um sismo que estava a acontecer.
Soubemos, depois, tratar-se de um sismo de magnitude 8 na escala de Richter, com epicentro no mar, a sudoeste do cabo de S. Vicente.
A electricidade foi quase instantaneamente cortada, os elevadores, inutilizados, estremeciam e faziam um barulho medonho que, juntamente com autênticos uivos que a Terra parecia soltar, tornavam o ambiente um verdadeiro inferno do qual qualquer deseja livrar-se rapidamente.
Entre paredes que rangiam, quadros que caiam das paredes e outros barulhos estranhos, pegámos em três crianças que, mesmo assim, inocentemente dormiam, e começámos a descer as escadas desde o décimo andar daquele edifício que, na confusão que vivíamos, nos parecia tão alto como o Empire State Building.
A Terra continuava estremecendo com violência, num estertor que parecia não ter fim.
O estremeção iria durar mais de um minuto e seria o mais intenso desde o que, em 1755 destruíra Lisboa.
As escadas, entupidas por tanta gente que fugia também, tornava a fuga complicada.
Até que chegámos à rua e me lembrei da porta de casa que ficara aberta e de uma caixa com o dinheiro com que seriam pagos os salários da empresa onde trabalhava.
Foi uma luta difícil para decidir entre poder perder o que dificilmente reporia e o medo que sentia de ser apanhado numa derrocada.
Foi em desespero que regressei a casa, subindo, a correr, mais de uma centena de escadas.
Finalmente, junto com a família, afastei-me dos edifícios com receio de alguma réplica que pudesse acontecer.
A zona do aeroporto, a mais desafogada, estava cheia de carros que eram, nas circunstâncias, as habitações possíveis e só bem tarde as pessoas começaram a ter coragem de regressar a casa.

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