Da observação do percurso do astro-rei no firmamento à evolução das sombras que provoca, do isocronismo das pequenas oscilações pendulares à velocidade de escoamento de areia fina na ampulheta que a confina, dos complicados mecanismos dos clássicos relógios suíços aos simples impulsos eléctricos de um pequeno cristal de quartzo, tudo nos faz crer que o tempo corre de um modo uniforme, que o tempo não se adianta nem se atrasa!
Aparentemente é assim. Mas não escandalizarei ao afirmar que o tempo não corre sempre por igual, para o que não vou socorrer-me da teoria da relatividade que fala da sua contracção. Prefiro, em vez de me envolver nos complexos meandros de tal ciência nos quais, por certo, aqui me perderia, falar de coisas simples, de como o tempo corre lento quando a nossa ansiedade espera por coisas importantes como o podem ser um encontro, uma resposta, o resultado de um exame ou, porque não, o primeiro beijo. Pelo contrário, ele parece-nos demasiadamente célere quando tentamos alcançar o que desejamos ou se aproxima o fim do que nos dá prazer!
O tempo parece ter corrido bem lentamente para permitir a Alexandre Magno conquistar meio mundo antes de morrer com pouco mais de trinta anos. Ao contrário, apercebemo-nos de que o tempo foge veloz, se nos escapa por entre os dedos quando, no balanço de cada dia, nos damos conta do que não tivemos tempo para fazer.
Afinal a que velocidade corre este tempo que se mede em unidades que vão desde pequenas e imperceptíveis parcelas de nanossegundos, a segundos, a horas, a dias ou anos, a séculos de séculos até à incomensurável eternidade?
Não é fácil determinar a que velocidade corre o tempo.
Deixei de ver o velho sentado à porta de casa nas calmas noites de Verão, tendo por companhia a bilha de barro que lhe fazia a água fresca. Em vez dele que, num tempo que corria calmo, parecia ter todo o tempo do mundo, passei a ver passar, em atitudes frenéticas, passadas largas e corridas, “gurus” disto e daquilo que fazem de umas dentadas numa sensaborona comida de plástico, intercaladas com ininterruptos telefonemas, o seu almoço, para assim aproveitarem um pouco mais do tempo que nunca lhes é bastante.
Afinal, a que velocidade corre o tempo?
E como o tempo mudou! Corre mais rápido ou passamos mais depressa por ele? Talvez o segundo ponto de vista nos esclareça melhor.
Vou propor-lhes um exercício que, há muito tempo, me propuseram também. Tem por fim dar às coisas uma dimensão que a nossa limitada capacidade de observação possa abranger no seu todo, tal como quando reduzimos um extenso território ou o mundo inteiro a um pequeno mapa.
Estima-se que a Terra, este planeta que habitamos, se formou há cerca de quatro mil e quinhentos milhões de anos, um período de tempo tão longo que, sem referências que possamos reconhecer, nem sequer conseguimos imaginar porque vai muito para além de qualquer experiência que possamos ter vivido! Para o compreender e como em outras circunstâncias o fazemos, vamos utilizar um factor de escala que faça corresponder a idade da Terra ao período de um ano.
Nesta representação, o desaparecimento dos dinossauros, ocorrido há 65 milhões de anos, aconteceu há pouco mais de cinco dias, o Homem moderno apareceu em África há pouco mais de dez horas, enquanto a revolução industrial se iniciou em Inglaterra há menos de dois segundos.
Quanto a mim que já levo vividos mais de três quartos de século, ainda mal terei saído do ventre da minha mãe que a morte já me levou e não terei mais do que uns brevíssimos milissegundos para viver!
É isto que me mostra a medida da insignificância do Homem perante o Universo imenso do qual, apesar de tudo, faz parte.
É esta participação a razão de ser da sua grandeza que apenas algo bem maior do que ele e do qual faz parte, pode justificar.
Haverá, ainda, quem pense que, com o saber que vai acumulando, o Homem se libertará das Leis da Natureza a que pertence, dominará tudo e todos e se tornará, um dia, um deus?
Rui de Carvalho
Lisboa 10 de Fevereiro 2011
rui.m.gaspardecarvalho@sapo.pt
Posfácio
Não é apenas o que se passa à nossa volta que nos faz pensar, que nos pode preocupar porque há dentro de nós um milhão de razões para reflectir e tentar dar uma resposta à Bocagiana pergunta: quem sou, de onde venho e para onde vou?
PUBLICADO NO NOTÍCIAS DE MANTEIGAS DE MARÇO
Sem comentários:
Enviar um comentário