Toda a vida ouvi dizer, desculpem-me o excesso,
que “subir na horizontal” era o modo mais fácil de alcançar o sucesso, de fazer
carreira, mesmo sem os talentos que a arte requer, mas com outros que melhor
satisfazem certos desejos de quem a pode facilitar.
Seria assim e, muitas vezes ou em certas
profissões, paga-se a ambição com a satisfação das taras de outros.
Infelizmente é assim. Tudo tem um preço,
afinal.
Poucas vezes as coisas se passam como a
naturalidade o faria supor, mas do modo como, à boca pequena, se dizia e se diz
que alguns sucessos foram alcançados.
Tornou-se natural ser assim e, por isso,
poucos mais comentários merecem os sucessos dos que para eles não contribuíram
com o mérito mais adequado.
As coisas eram assim e… pronto! Era pegar ou
largar.
Era uma situação vulgar, um assunto encerrado,
até que alguém a quem a fama já permitia devaneios, se lembrou, e vá-se lá
saber por que, que era altura de fazer saber dos assédios, há tanto passados,
dos que podiam abrir as portas do sucesso.
E não tardou muito para que a denúncia se
tornasse moda.
Depois, as denúncias foram à desfilada, como
se ninguém quisesse ficar atrás neste corrupio que, de algum modo, trás fama
também.
A lista de quem foi assediado cresceu a cada
dia que passava e a dos assediantes também.
E os assédios sexuais, fossem as
circunstâncias quais fossem, tornaram-se notícias constantes.
Mas o que nunca esperei foi ler um título bem
destacado, a dizer que “António Lobo Antunes revela ter sido assediado por
professor de Religião e Moral”, como se tal tivesse alguma importância na vida
de um tão excelente escritor!
E quase me senti defraudado nesta corrida de
famosos porque nunca fui assediado.
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