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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

QUESTÕES DE AMBIENTE

(Publicado na edição de novembro do NM)

Não imaginaria Papin, ao reparar como o vapor de água tinha força para levantar a tampa da sua “marmita”, as consequências que teria este seu achado! Foi o ponto de partida para a “Revolução Industrial”, o começo desta corrida louca em que o mundo se lançou, numa velocidade que aumenta a cada passo que dá.
A paisagem vai ficando diferente, mais cinzenta por onde a “revolução” se espraia. Chaminés, cada vez mais numerosas, lançam no céu núvens brancas de vapor de água e fumos negros da queima de madeira ou de carvão. Ao mesmo tempo, as fábricas desembaraçam-se das águas sujas que carreiam resíduos dos processos industriais que se entranham na terra e rios e ribeiras espalham por toda a parte.
Nascem aglomerados urbano-industriais onde as condições sanitárias se degradam à medida que crescem. As linhas de água naturais que os atravessam transformam-se em cloacas pestilentas. A ânsia de produzir mais e mais, de fazer rápida fortuna, não deixa tempo para pensar em mais. Aos poucos, as águas perdem transparência e a pureza natural, o ar perde a leveza que era saudável respirar, o brilho do Sol esmaece filtrado pelos vapores e poeiras que chaminés vomitam, cinzas caídas do céu matam a cor e o brilho do verde dos campos, chuvas ácidas desfolham extensas áreas de floresta e as explorações mineiras rasgam cada vez mais fundo o ventre da Terra.
A utilização do petróleo acelera todo o processo industrial que este novo combustível tornou mais ágil.
Depressa se notaram os inconvenientes desta cinzenta revolução. Mas a alternativa era, como então se dizia, a miséria. Como se nada pudesse evitar o mal que causavam à “casa de todos nós” que, então, nos parecia imensa, a poluição crescia e nada parecia demover os poderes que permitiam que tal acontecesse, que nada faziam para o evitar em nome do que diziam ser uma cruel mas inevitável dicotomia, “poluição ou miséria”, da qual faziam a razão para aceitar um mundo cada vez mais sujo e insalubre.
Passou muito, muito tempo até que organizações que tinham o ambiente como sua preocupação afrontaram os poderes políticos que, por isso, não puderam continuar a ignorar mais os malefícios da poluição crescente de que uma “economia fulgurante” era a causa.
As questões ambientais foram quase totalmente ignoradas até à década de setenta do Século XX. Porém, muito mal havia já sido feito, bem como muitas consciências haviam já despertado para as consequências de uma atividade cujo objetivo rapidamente passava da satisfação das necessidades humanas para o consumismo puro que sustenta o crescimento económico que satisfaz a ganância de alguns, vai exaurindo recursos e degradando o ambiente de todos.
Apesar de as questões ambientais terem sido integradas nos programas políticos, o consumismo não abranda e tudo vai tornando transitório, num usa e deita fora leviano que se converte num incalculável volume de resíduos que se espalha por toda a parte, se acumula em lixeiras ou se queima para originar mais fumos que lançam na atmosfera uma parte da poluição que contêm.
Atingiram-se níveis excessivos de poluição da terra, da água e do ar, ao mesmo tempo que outros efeitos nefastos que nem se imaginavam, como o efeito de estufa, a destruição da camada de ozono e as alterações climáticas por exemplo, se foram manifestando como problemas críticos, com muitos efeitos que a realidade já não perrmite ignorar.
A segunda revolução industrial, a era atómica e a era espacial, juntamente com o desenvolvimento dos “serviços”, fazem nascer novas indústrias tecnologicamente mais avançadas que levam os países “ricos” a “exportar” as indústrias “sujas” e mais exigentes de mão de obra menos qualificada, instalando-as em países sem regras e sem leis que defendam os trabalhadores ou protejam o ambiente. Depois, importam os bens produzidos a custo mais baixo do que se fossem de sua produção, apesar dos sérios atropelos aos direitos humanos que dizem defender e dos danos cada vez mais descontrolados ao ambiente que dizem proteger!
Fazem-se cimeiras inconclusivas ou cujas resoluções os maiores poluidores se dão ao luxo de não acatar porque prejudicam as suas economias e contornam-se os limites de emissões poluentes comprando quotas de emissão de países sem atividade económica significativa! Exportam-se resíduos tóxicos e perigosos para países pobres que aceitam os perigos de os dispor sem regras e sem cuidados ambientais e de saúde pública, em troca de uns tostões que raramente se destinam a minorar um pouco as carências das pobres populações e, tantas vezes, reforçam fortunas ilícitas.
Mas porque o Ambiente é um todo que não reconhece fronteiras, é fácil entender que as soluções adotadas não passam de ineficazes artifícios que não vão parar o acréscimo de degradação ambiental global que causa problemas sérios que esta nossa forma irresponsável de viver vai acumulando.
Apesar do que o génio humano possa fazer para minorar os danos, já ocorrem consequências que não vamos conseguir reverter e, por isso, vão condicionar o futuro de forma ainda difícil de quantificar, sobretudo no que diz respeito aos desastres ecológicos que, cada vez mais intensos, vão acontecer.
Rui de Carvalho
23 outubro 2011

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