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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

RECURSOS NATURAIS CADA VEZ MENOS ABUNDANTES

(Publicado no número de Fevereiro do Notícias de Manteigas)
Depois de uma vida de nómada que o fez vaguear pela Terra para encontrar o que necessitava e, também, para se proteger, o Homem foi-se fixando aqui e ali, onde julgou encontrar condições para um modo de vida mais cómodo, mais seguro e sem carências. Aos poucos, domesticou animais, aprendeu a cultivar plantas e, depois de trabalhar a pedra e a madeira, aprendeu a dominar o fogo, descobriu a roda e utilizou metais para produzir utensílios que lhe facilitassem as tarefas.
Durante dezenas de milénios foi lenta a evolução das tecnologias rudimentares de que dispunha mas que tão úteis foram para a sua proteção, na agricultura e na caça, bem como em muitas outras circunstâncias. Assim, o Homem fez das ferramentas que criou a extensão que tornou mais poderoso o seu braço.
Igualmente lenta foi a evolução da sua atividade económica que se desenvolveu com base nas artes, na agricultura e na pecuária, até que tudo se alterou profundamente com a mecanização e, mais ainda, com o desenvolvimento das técnicas de planeamento e do apuramento de tecnologias avançadas.
Aos poucos, foi-se alterando o modo de viver de um ser que começou em competição com os demais no meio natural onde vivia, mas no qual, pelos poderes que foi adquirindo, se tornou dominante. Desde então, enquanto as outras espécies vivem em harmonia com o seu meio, ao qual se adaptam, o Homem julga-se desinserido da própria Natureza a que, apesar de tudo, não pode deixar de pertencer, crente de que poderá dominá-la e explorá-la sem contenção. Para evitar a incomodidade de adaptação ao meio, o Homem adapta o meio às suas necessidades e, até, aos seus caprichos. Nisto difere de todos os outros animais, o que é um erro tremendo que a Natureza não consentirá por muito tempo mais. Disso, os sinais são cada vez mais preocupantes, pese, embora, a capacidade para descobrir novas vias que substituam as que a natureza finita do mundo em que vivemos vai fechando, mas que são cada vez mais estreitas e mais difíceis de percorrer.
Para além do consumismo que nos torna dependentes de “necessidades inúteis” e vai exaurindo recursos a um ritmo bem mais elevado do que o da sua renovação, tanto mais quanto mais gente a eles vai acedendo, outras questões relacionadas com o número cada vez maior de seres humanos que habitam a Terra são motivo de grande apreensão. Entre elas está a alimentação que em conjunto com o ambiente, outro problema não menor, constitui a base das necessidades vitais.
Há dezenas de anos que a questão dos recursos naturais preocupa estudiosos e investigadores que alertaram para as consequências perigosas de uma economia devoradora que foi deixando de fazer jus a um nome que se não adequa ao esbanjamento em que se tornou. Dezenas de anos depois, a pequena diferença entre as previsões e a realidade que se aproxima de situações de rutura, é motivo de preocupação que um estudo recente de uma empresa de consultoria americana, a PricewaterhouseCoopers (PwC), confirma num relatório a que deu o nome “bomba relógio”. Nele se afirma que "há muitas indústrias que só agora reconhecem que temos estado a viver acima dos meios do planeta. Novos modelos de negócio vão ser fundamentais para que se consiga responder aos riscos e oportunidades colocados pela escassez de metais e minerais".
Afirma, ainda, o principal autor do relatório que "eu penso que tanto os governos como as empresas devem estar cientes da abrangência, da importância e da urgência da escassez de matérias-primas renováveis e não-renováveis: energia, água, terra e minerais". Chamada de atenção mais firme não poderia ser feita. Infelizmente, outras como esta foram desprezadas por políticos e economistas para quem esta realidade é um problema que não sabem resolver e, por isso, preferem ignorar.
Quanto à alimentação que uma população em crescimento acelerado reclama em quantidades maiores a cada dia que passa, a situação é, porventura, a mais grave de todas. Para além do excessivo número de pessoas para quem a fome é já uma companheira fiel de todas as horas, as técnicas mais modernas para aumento da produção não conseguem atingir as quantidades que as necessidades crescentes exigem, verificando-se, em vez disso, um declínio alarmante. Para além deste aspeto quantitativo, as consequências funestas de certos processos adotados e que foram já causa de graves problemas de saúde pública como a doença das vacas loucas, a gripe das aves, infeções por E coli e outras, criam problemas de segurança que não devem ser menosprezados.
Por outro lado, a qualidade de muitos produtos alimentares está a degradar-se progressivamente, o que se revela na sua decrescente capacidade nutritiva e, ainda, nos elementos tóxicos que contêm em quantidades cada vez mais elevadas.
Numa outra importantíssima fonte de alimentos, o mar, o excesso de pesca reduziu a quantidade de peixe disponível e o perigo de extinção de muitas espécies obriga a uma forte contenção nas capturas, não havendo outro modo de evitar ruturas que teriam as mais terríveis consequências.
A escassez de petróleo, sobretudo a que resulta da ultrapassagem do “pico de produção” a que se segue uma regressão que pela conjugação com o aumento da procura mais se acentua, tornou a produção de energia concorrente da alimentação pela produção de biocombustíveis. A utilização de óleos vegetais mobiliza enormes quantidades de solo para o cultivo de plantas utilizáveis para esse fim, mais se acentuando a escassez da área destinada a culturas para a alimentação e, por isso, mais elevado se torna o preço dos alimentos.
A penúria é inevitável quando os recursos escassos são utilizados como se fossem inesgotáveis.
Esta é mais uma das questões que o futuro nos coloca mas que a “Economia” ainda não compreendeu e para o qual os políticos não olham com a atenção que merece porque não sabem o que fazer com esta preocupante realidade.

Rui de Carvalho
13 janeiro 2012

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