ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 20 de abril de 2017

O SARAMPO E A TEORIA DO CAOS…



O reaparecimento de sarampo em Portugal depois de quase 40 anos sem qualquer doente com esta maleita, é uma das consequências da globalização que abre mais amplos caminhos àquela teoria segundo a qual, se uma borboleta bater as asas em Pequim poderá desencadear, mais tarde, uma tempestade em Nova Iorque.
Já são raros os lugares do mundo aos quais todo o resto seja indiferente, que não tenha alguma influência no que se passa num outro lugar qualquer.
Nos meus tempos de criança, o sarampo era uma daquelas doenças que toda a gente apanhava, a qual, em conjunto com outras mais próprias dos nossos mais verdes anos, levou ao bem conhecido dito “sarampo, sarampelo, sete vezes te vem ao pelo”.
Todas as crianças acabavam por ter sarampo depois de ir para a escola onde o contágio era mais fácil.
Naquele tempo, poucas vacinas havia para além da que prevenia a varíola e a tuberculose, o bcg.
Duas doenças que Portugal erradicou mas que, infelizmente, regressaram reforçadas.
Na tuberculose, o perigo maior vem da resistência aos antibióticos criada pelas bactérias, resultante da sua utilização imoderada, uma dificuldade que está a ser muito difícil de ultrapassar.
Quanto às epidemias de sarampo que grassam por diversos países da Europa e a Portugal também já chegou, será, segundo a Direcção Geral de Saúde, muito pequena a percentagem da nossa população não protegida, tanto porque os mais velhos todos tiveram o sarampo como, dos outros, é muitíssimo elevada a percentagem dos que estão vacinados, mesmo não sendo a vacinação obrigatória. A ser assim, não será de esperar uma epidemia de sarampo com a dimensão das que, infelizmente, estão a acontecer em outros países.
Porque as consequências da doença podem ser graves, como o demonstra a morte já acontecida de uma adolescente não vacinada, a questão da obrigatoriedade da vacinação veio à ordem do dia, ao que há quem se oponha invocando direitos constitucionais que devem permitir que cada pai tome, em relação aos seus filhos, a atitude que julgar mais conveniente.
Ouvi, mesmo, um pai, manifestar-se abertamente contra a vacinação com receio do autismo que possa causar, ainda que tal não esteja cientificamente demonstrado que possa acontecer ou que não possa! Esta posição poderia levar-nos a uma discussão bem longa, tanto quanto à probabilidade que se não conhece como a qualidade científica da atitude que protegerá de uma desconhecida hipótese de um efeito colateral mas não de uma elevada probabilidade de sofrer a doença, da qual, em princípio, protege, evitando as consequências graves que pode ter.
Também um confronto entre direitos individuais, como o de tomar ou não a vacina, e os direitos de quem, num infantário, num internamento qualquer ou numa escola, por exemplo, ou de um recém nascido que ainda não pode ser vacinado e, por isso, pode ser contagiado pelos que se não vacinaram, tem de estar em discussão, não sendo, para mim, clara a hierarquização dos direitos em confronto, pela dificuldade, sempre grande de, num caso como este, se confrontarem o direito de alguém com os direitos dos demais.
Este é mais um caso, entre muitos que se colocarão, em que o confronto das liberdades e dos direitos terá de ser repensado à luz de factos  concretos perante os quais a vida nos vai colocando.


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