O
reaparecimento de sarampo em Portugal depois de quase 40 anos sem qualquer doente
com esta maleita, é uma das consequências da globalização que abre mais amplos
caminhos àquela teoria segundo a qual, se uma borboleta bater as asas em Pequim
poderá desencadear, mais tarde, uma tempestade em Nova Iorque.
Já
são raros os lugares do mundo aos quais todo o resto seja indiferente, que não
tenha alguma influência no que se passa num outro lugar qualquer.
Nos
meus tempos de criança, o sarampo era uma daquelas doenças que toda a gente
apanhava, a qual, em conjunto com outras mais próprias dos nossos mais verdes anos,
levou ao bem conhecido dito “sarampo, sarampelo, sete vezes te vem ao pelo”.
Todas
as crianças acabavam por ter sarampo depois de ir para a escola onde o contágio
era mais fácil.
Naquele
tempo, poucas vacinas havia para além da que prevenia a varíola e a
tuberculose, o bcg.
Duas
doenças que Portugal erradicou mas que, infelizmente, regressaram reforçadas.
Na
tuberculose, o perigo maior vem da resistência aos antibióticos criada pelas
bactérias, resultante da sua utilização imoderada, uma dificuldade que está a ser muito
difícil de ultrapassar.
Quanto
às epidemias de sarampo que grassam por diversos países da Europa e a Portugal
também já chegou, será, segundo a Direcção Geral de Saúde, muito pequena a
percentagem da nossa população não protegida, tanto porque os mais velhos todos
tiveram o sarampo como, dos outros, é muitíssimo elevada a percentagem dos que
estão vacinados, mesmo não sendo a vacinação obrigatória. A ser assim, não será
de esperar uma epidemia de sarampo com a dimensão das que, infelizmente, estão
a acontecer em outros países.
Porque
as consequências da doença podem ser graves, como o demonstra a morte já
acontecida de uma adolescente não vacinada, a questão
da obrigatoriedade da vacinação veio à ordem do dia, ao que há quem se oponha invocando
direitos constitucionais que devem permitir que cada pai tome, em relação aos
seus filhos, a atitude que julgar mais conveniente.
Ouvi,
mesmo, um pai, manifestar-se abertamente contra a vacinação com receio do autismo
que possa causar, ainda que tal não esteja cientificamente demonstrado que
possa acontecer ou que não possa! Esta posição poderia levar-nos a uma
discussão bem longa, tanto quanto à probabilidade que se não conhece como a qualidade
científica da atitude que protegerá de uma desconhecida hipótese de um efeito
colateral mas não de uma elevada probabilidade de sofrer a doença, da qual, em
princípio, protege, evitando as consequências graves que pode ter.
Também
um confronto entre direitos individuais, como o de tomar ou não a vacina, e os
direitos de quem, num infantário, num internamento qualquer ou numa escola, por
exemplo, ou de um recém nascido que ainda não pode ser vacinado e, por isso, pode ser contagiado pelos que se não vacinaram, tem de estar em
discussão, não sendo, para mim, clara a hierarquização dos direitos em
confronto, pela dificuldade, sempre grande de, num caso como este, se
confrontarem o direito de alguém com os direitos dos demais.
Este
é mais um caso, entre muitos que se colocarão, em que o confronto das
liberdades e dos direitos terá de ser repensado à luz de factos concretos perante os quais a vida nos vai
colocando.
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