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ACORDO ORTOGRÁFICO
O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.
sábado, 31 de dezembro de 2011
ANO NOVO, ESPERANÇA, ILUSÃO OU MAU PRESSÁGIO?
Sempre foi assim. Ao morrer o “ano velho” ao longo do qual vivemos momentos felizes e tivemos desilusões, num balanço que cada um faz ao seu jeito, em muitos de nós nasce a esperança de um novo ano em que tudo seja bem melhor. Desejamos aos nossos amigos que o novo ano seja próspero! É a esperança de uma vida ou de um mundo melhor.
Porém, outros há para quem o mudar de ano nunca será coisa boa. Esperam-nos tristezas e desgraças, quem sabe até se o fim do mundo. Estes, os que vaticinam desgraças, são os em menor número, felizmente, deixando a esperança ou a ilusão para todos os demais.
Como se a passagem de 31 de dezembro para 1 de janeiro fosse uma descontinuidade na vida em vez de mais uma translação simples da Terra em torno do seu Sol, muitos entregam-se ao destino que, simplesmente, esperam lhes traga o que o passado lhes não deu, outros fazem propósitos de perderem vícios que lhes complicaram a vida e ainda há quem firme propósitos de criar virtudes que os tornarão as pessoas melhores que gostariam de ser.
Mas nem dois meses nos separam do Carnaval em que nos dizem que a vida são dois dias que não devemos desperdiçar com atitudes lamechas! E quase tudo fica por aí... Infelizmente, mesmo quando a realidade nos faz ver que do nosso esforço depende o nosso futuro.
A trilogia “saúde, dinheiro e amor”, que para muitos encerra o segredo da vida que todos desejam, cada vez mais se assemelha a uma miragem que nos mostra tudo o que ansiamos mas nada mais porque, em boa verdade, não passa mesmo de uma ilusão.
Da nossa saúde pouco cuidamos, pois consideramos ter ganho o direito de que outros dela tratem quando a perdemos. Uma esperança que não passa de outra ilusão.
O dinheiro que todos queremos cada vez mais, na estúltica ilusão de que nos fará felizes, mesmo quando, por aquilo a que nos obriga, cada vez mais nos afasta da felicidade, pode servir para ter o melhor apartamento, mas jamais pode comprar um lar.
O amor é cada vez mais incompatível com a competição a que a ganância de ter mais nos obriga!
Onde ficam, pois, os votos de um feliz ano novo?
Por isso eu elegeria a PAZ como o desejo mais forte para nos tornar a todos mais felizes.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
O SPORTING E O FUTURO
Nunca escondi de ninguém o meu sportinguismo, como não escondo que os recentes sucessos desportivos do futebol leonino me trouxeram alegrias como há anos não sentia. Mas não me passava pela cabeça que lhes não correspondesse uma melhoria efetiva da situação financeira do clube que, infelizmente, todos sabíamos não ser boa. Porém, a divulgação de factos reais que constam de um relatório apresentado à CMVM, fez-me passar da euforia à dúvida de que se trate de um regresso do Sporting CP à grandeza que lhe é própria e os fundadores desejaram ou, pior ainda, ao receio de que estejam em causa o esforço e a dedicação de tantas gerações de ilustres e fervorosos sportinguistas ao longo de dezenas e dezenas de anos.
Pesa-me saber que o Sporting CP, clube que é o do meu coração há mais de setenta anos, se encontra numa situação de falência iminente, numa via de rotura que me parece impossível de evitar se um novo ânimo, próprio da alma sportinguista, não for rapidamente encontrado.
Pelo que foi divulgado, a situação é extremamente grave, pelo que requer uma adequada intervenção imediata, a qual deverá ter por base o esclarecimento total de uma gestão que, tudo o leva a crer, é lesiva dos interesses do Sporting CP e incompatível a grandeza centenária do Clube.
Perante factos óbvios que a informação obrigatória à CMVM atesta, não adianta continuar a fingir que nada acontece ou à espera de um milagre que, com toda a certeza, não acontecerá!
Há que exigir da Direção sportinguista um esclarecimento urgente e claro da situação, bem como um plano credível para a ultrapassar, com garantias de sucesso que não sejam a enumeração de esperanças irrealizáveis ou um rosário de promessas que se não cumprem, como se tornou hábito.
Não se pode continuar a transigir com atitudes dúbias nem com estratégias de sucesso efémero que colocam o futuro do Sporting CP em risco.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
AVALIANDO O GOVERNO
Um governo é constituído por vários ministros que têm a seu cargo tarefas diferentes, de naturezas bem diversas e cujos efeitos não se farão sentir simultaneamente, menos ainda quando se trata de uma situação de emergência como a que o atual veio encontrar e uma exigência de mudança como as circunstâncias impõem. O governo organiza-se estrategicamente em função de um objetivo e planeia as ações com que se propõe alcançá-lo em conformidade com a oportunidade e as condições próprias e possíveis para as realizar.
É assim que acontece em qualquer projeto para que tudo aconteça na altura certa e nas melhores condições até ao resultado final.
Mas, para além de tudo isto há, ainda, preparativos que antecedem todas as tarefas, tal como há, também, instalações provisórias que, com o tempo outras definitivas irão substituir.
Ainda que a execução de um plano tenha de ser constantemente controlada e avaliada, há que faze-lo em função da oportunidade e das condições, não sendo possível integrar na avaliação as tarefas que ainda estejam nos preparativos nem as que ainda não tenham condições para serem iniciadas.
Na avaliação de um governo há que ter em conta exatamente os mesmos princípios.
Compreende-se a ansiedade de quem, pelas dificuldades que sente, desejaria ver alcançados de imediato todos os objetivos e se sinta desorientado naquela confusão que, aos olhos dos leigos, sempre parece o início de qualquer coisa. Mais se compreende, ainda, a perplexidade de ver o que parece ser destruir, ainda que seja necessário para se conseguirem as condições necessárias para, depois, construir.
Enfim, não me chocam demasiado as críticas que os leigos possam fazer nem as reclamações que a sua ansiedade possa justificar, mas fico espantado quando um jornal que tenho por competente, o Expresso, toma a iniciativa de uma avaliação pública ao governo ao fim de seis meses de uma missão muito difícil, sem dela tirar as conclusões que as circunstâncias justificam e se limite às conclusões imediatistas dos números recolhidos.
Além disso, os comentários anexados pecam muitas vezes por falta de isenção, assim como ao título “seis meses horribilis” bem poderia ter sido preferido “os seis meses que nos permitem ainda viver”!
Nem tudo é o que parece e os juizos apressados têm o mesmo efeito dos partos das cadelas que também o são: parem os filhos cegos.
Esta avaliação leva ao mesmo resultado da que poderia fazer-se de uma corrida de fundo em que participassem um velocista, um corredor de meio fundo e um fundista. No primeiro oitavo da corrida quem ocuparia os últimos lugares? Decerto aquele que, se tudo correr como previsto, acabará por vencer. No caso do governo, aquele que alcançará o objetivo desejado, a recuperação económica do país que é, afinal, o que se pretende.
Eu prefiro aguardar melhor oportunidade para fazer um juízo global e lamento que um jornal com as responsabilidades do Expresso necessite de uma apresentação bombástica com um título macabro para chamar a atenção.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
SOMOS CADA VEZ MENOS
Com o segundo índice de fecundidade mais baixo do mundo, Portugal tem a sua população nacional cada vez mais reduzida. Desde 1960, ano em que o número de nascimentos foi superior a 200 mil, a fecundidade reduziu-se a metade, sendo a previsão para este 2011 prestes a acabar, de menos de 100 mil.
O índice médio de fecundidade em Portugal é de 1,37, muito inferior aos 2,1 necessários para a renovação e há muitos anos já não atingido.
A chamada crise será um dos fatores que conduziram a este mínimo histórico, mas não é a causa essencial do fenómeno que é bastante anterior e se verificava mesmo nos tempos da fictícia abastança que vivemos.
A redução do índice de fecundidade é uma consequência do tipo de vida que levamos que coloca os interesses financeiros acima de todos os demais e tornou a casa de família num mero dormitório onde os que a compõem se encontram por vezes, algumas sem se verem.
A estrutura social foi profundamente alterada e nela deixou de haver lugar para as crianças que, por isso, deixaram de ter no seu lar o apoio que tinham outrora e, por isso, nos seus pais os seus primeiros educadores.
Os filhos deixaram de ser fruto do amor, do desejo sincero de fazer deles os continuadores para fazerem parte de um planeamento que apenas os prevê em breves momentos da vida mais do que atarefada e os rejeita em todos os demais.
Toda a sociedade disso se ressentirá em consequência de uma estrutura demográfica que não é a natural, que deixou de ser a que permitia a solidariedade sem a qual não pode viver.
Portugal é, em consequência da não renovação social, um país envelhecido, com um número de jovens cada vez menor e uma população ativa que não conseguirá garantir nem o futuro a que os seus jovens têm direito nem proporcionar aos idosos o fim de vida que, pelo seu esforço, deveriam ter.
Em 2010, mais de 10% dos nascimentos foram de mães estrangeiras!
Poderá Portugal continuar sem portugueses?
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
A COERÊNCIA DO PCP E A MINHA HOMENAGEM A VACLAV HAVEL
Com apenas dois ou três dias de intervalo, o PCP deu provas da sua caduca coerência política e, simultaneamente, da sua estranha democaticidade quando envia condolências ao povo da Coreia do Norte pela morte do seu carrasco, Kim Jong il, que nenhum acto democrático elegeu e o fez pagar com a fome um dos exércitos mais poderosos do mundo, negando, depois, uma prova de simpatia pelo falecido intelectual humanista Vaclav Havel que os povos checo e eslovaco, em esmagadora maioria, aclamaram para se livrarem da escravidão imposta por um um dominador que já passou à História e de um regime que sucumbiu aos enormes erros que cometeu, às desumanidades que praticou e às fraquezas ideológicas que lhe são próprias.
Enquanto Vaclav Havel foi um escritor, pensador e intransigente defensor da resistência não violenta que fez vencer a “revolução de veludo” contra o opressor soviético, Kim Jong não passou de um ditador feroz e obcecado que, a par de aceitar ajuda humanitária para os seus maltratados súbditos, utiliza os recursos do país para armar um exército poderoso e desenvolver armas nucleares com que ameaça a segurança do mundo inteiro.
Não me regozijo com a morte de um carrasco, Kim Jong il, a quem outros carrascos sucederão. Lamento a morte de alguém, Vaclav Havel, genuinamente não violento, a quem os seus compatriotas muito ficaram a dever da sua libertação.
Quanto ao PCP, deduzo dos seus gestos que “liberdade” não faz parte do seu ideário.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
PROMESSAS PARA NÃO CUMPRIR
Compreendo que Seguro, o herdeiro de Sócrates no comando do partido socialista, lute por um lugar ao Sol, por um sucesso político que não se afigura fácil nos tempos mais chegados. Mas o que não está certo é que com o que diz, como na sua última mensagem, Seguro desmotive os portugueses da luta que pelo governo do seu partido lhes foi imposta e da qual depende o seu futuro, garantindo-lhes que os sacrifícios que lhes são pedidos são excessivos, bem maiores do que os que ele lhes pediria se fosse primeiro ministro.
Declara-se contrário à política de austeridade do governo, afirmando que, em vez dela, a “sua” promoveria o emprego e o crescimento económico.
Todos sabemos como, na oposição, é fácil criticar quem governa e como é irresponsável, nestas condições, afirmar que se faria melhor. Fazer promessas pelas quais nunca lhes serão pedidas contas é, afinal, a atitude dos pedantes inferiorizados porque sabem que não poderão ser confrontados com uma realidade que nunca acontecerá. Habitual é, também, tais “vendedores de ilusões” não esclarecerem como fariam os “milagres” dos quais se dizem capazes. Obviamente, Seguro também o não esclarece nos lugares comuns que utiliza nas suas messiânicas afirmações!
A razão é simples: os milagres não acontecem nestas circunstâncias e a recuperação dos estragos que o governo socialista fez não se consegue em pouco tempo nem sem grandes sacrifícios, como qualquer análise razoável leva a concluir. Infelizmente!
Li que o Economist Intelligence Unit baixou o nível da democracia em Portugal que terá passado de plena para incompleta. Independentemente dos parâmetros em que o Economist se baseie para nos colocar a par de muitos outros países europeus neste domínio, por conta das medidas de austeridade, achei injusta a desqualificação porque, como está patente no que Seguro diz, o disparate continua a ser livre!
Por muito que me custe, porque pertenço ao número dos atingidos por todas as medidas de austeridade, reconheço que ela se tornou inevitável durante algum tempo, mas disso não poderei, pelo menos por agora, culpar quem a gere porque ainda é cedo demais e não esqueço à conta de quem a sofro.
Não deveria Seguro ler a cartilha do seu antecessor que continua a ser guião para alguns dos seus correligionários, porque tem a obrigação de saber que as dívidas são para pagar, nesta contingência a tempo e horas, porque ninguém dá crédito a caloteiros.
Espero pelos resultados para poder verificar se os sacrifícios que me impõem realizam a expetativa de quem tem a ambição de curar-se o mais rapidamente possível do mal que lhe impuseram, nunca esquecendo, como a experiência o mostra, que quem se cura não se regala! Ainda não é tempo para fazer a avaliação.
OS SETE MIL MILHÕES E A POBREZA
(publicado no número de Dezembro do Notícias de Manteigas)
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Neste momento em que escrevo, o evento mais em foco é, sem dúvida, o astronómico número de sete mil milhões de seres humanos que habitam este nosso Planeta!
É um momento especial. Tanto que a ONU decidiu fazer dele um marco, definindo o dia e até o indivíduo que passariam à História como o momento em que a população mundial atingiu aquele número e a pessoa que o fez atingir, ainda que de um modo simbólico pois é impossível dizê-lo de ciência certa.
Foi escolhida uma menina das Filipinas, numa zona pobre de natalidade elevada.
Neste momento significativo na História do nosso mundo, a necessidade de uma reflexão levou-me a adiar, uma vez mais, a crónica sobre os “recursos naturais” que já havia anunciado. Desculpo-me por isso, mas são inúmeros os pensamentos que me assaltam perante este gigantesco número de pessoas que não pára de crescer. O que significa e o que prenuncia?
Além dos poucos mais de dois mil milhões que éramos quando nasci, a população deste nosso mundo cresceu cinco mil milhões ao longo da minha vida. Mais do que triplicou e, a crescer a este ritmo, talvez eu possa estar ainda presente quando a ONU anunciar o habitante oito mil milhões! Ou talvez não, sabe-o Deus.
O mundo não teria mais de trezentos milhões de pessoas quando Portugal nasceu nem mais de quinhentos milhões quando se lançou na aventura dos descobrimentos, quando Bartolomeu Dias dobrou o Cabo das Tormentas, Vasco da Gama chegou à Índia, Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, Fernando Magalhães deu a volta ao mundo e não mais do que metade deste número seria o dos habitantes da Terra quando Cristo andou pela Palestina. Era uma evolução muito lenta a da população humana, uma “evolução primitiva” que passou a crescer mais no Século XVIII depois da Revolução Industrial que teve o seu início quando não seríamos mais de 800 milhões espalhados por um mundo então imenso. Foi o início de uma “revolução demográfica” que se acentuou depois do início do Século XX. Mas foi depois da Segunda Guerra Mundial, quando grandes avanços tecnológicos e de planeamento fizeram crescer, ainda mais, a indústria que a dinâmica demográfica que se intensificou e fez a população do mundo passar de cerca de dois mil e quinhentos milhões para um pouco mais seis mil milhões no início do Século XXI. A partir de então, apenas onze anos bastaram para sermos sete mil milhões. Uma autêntica “explosão demográfica” que reduz o mundo, antes imenso, às dimensões da aldeia global em que se tornou!
Tudo acontece demasiadamente rápido, sem tempo para entender para onde caminhamos, pois falta tempo neste tempo que passa tão veloz. O certo é que a população mundial não pode continuar a crescer indefinidamente e, com ela, outros números que, de perto, a acompanham. É, pois, inevitável que este crescimento vertiginoso volte a colocar uma questão que há dezenas de anos já provocou, de diversos cientistas, uma chamada de atenção que o estrondo do crescimento económico imparável não deixou que fosse ouvida. Agora está provada a razão que tinham, pelo que as circunstâncias exigem uma renovada atenção para a capacidade de suporte do Planeta, o que não é mais do que o problema de futuro que tento abordar no que escrevo sobre solidariedade, sobre ambiente, sobre recursos naturais.
É o futuro dos nossos filhos e netos que está em causa, bem como de outros mais distantes de nós, seja no espaço ou no tempo, porque também são o “semelhante” com quem nos devemos preocupar. Um estudo sério se impõe a partir deste momento em que tanta desigualdade há no mundo e tantas dificuldades a Humanidade enfrenta, problemas que, pelo caminho que trilhamos, tornam a esperança de erradicação da pobreza cada vez mais ténue.
No ano 2000, investigadores da Universidade das Nações Unidas concluíram que 2% dos mais ricos do mundo detinham mais de metade da riqueza mundial, dos quais 499 possuíam, cada um, mais de mil milhões de dólares! Em contrapartida, mais de 40% da população mundial vive em condições de grande pobreza, metade da qual dispõe de muito menos de um euro por dia para viver, se esta for a palavra certa para definir o calvário de tal gente. Esta situação é inaceitável e, mais do que isso, insustentável e perigosa. Um problema de que o Homem deveria tomar conta antes de a Natureza ter de o fazer.
Será a simples redistribuição da riqueza existente, como alguns demagogos apregoam, a solução para estas desigualdades profundas? Não é, com certeza, e afirmá-lo não passa de um erro grave e de um equívoco perigoso!
Para além dos falhanços históricos dos que tentaram fazer igual o que não é, dos que quiseram impor pela lei o que só depende da vontade e dos que proclamaram como direitos o que apenas o esforço e a competência podem proporcionar, a abissal diferença entre os muito poucos que têm demais e os tantos que quase nada têm, torna evidente que tudo quanto os ricos possuam nunca será bastante para proporcionar a vida digna que todos merecem ter. A solução para acabar com a pobreza terá de ser outra, diferente da que os atuais modelos económico e político consentem.
De fracasso em fracasso, as alternativas foram-se esgotando e é cada vez mais óbvio que as que restam não passam de expressões recicladas de outras tantas vezes falhadas também. Por isso, outro paradigma terá de ser adoptado porque novos problemas se perfilam na série de dificuldades que temos de enfrentar em consequência dos desequilíbrios que causamos com a intervenção, cada vez mais agressiva, nos processos naturais cujo ritmo é, desde há muito, insuficiente para as necessidades de uma economia que sempre precisa de mais para não morrer. Nesta contradição de ir crescendo a exaurir o que necessita para crescer, a economia não consegue combater a pobreza que aumenta com os habitantes do Planeta e, apenas por instantes, a caridade pode mitigar. As ações com que tantos procuram ajudar os mais necessitados não fazem parte da filosofia político-económica que estrutura o nosso modo de viver. Por isso, aqueles aos quais oferecemos apoio caridoso ficam mais aconchegados no momento em que o recebem mas, depois, continuam tão pobres como eram.
Desta pobreza persistente se alimenta o consumismo que faz da necessidade de sobreviver a razão para a explorar e, a preços que não pagam o sofrimento que lhe causa, vender o que produz àqueles que dizem querer erradicá-la!
Curiosa a vida neste Planeta sobrelotado, cujo futuro não é fácil de prever porque depende de criaturas tão estranhas e imprevisíveis como são as que têm a tola pretensão de o dominar.
***
Mais um Natal está a chegar e mais um tempo de evocação do amor será aclamado. Mas outro Carnaval depressa chegará e fará a vida voltar ao que era antes.
Nesta roda viva acelerada, mas na esperança de melhores dias, a todos desejo um Feliz Natal com Missa do Galo, mesa farta e muita alegria.
Rui de Carvalho
31 de outubro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
GRANDEZA DA ALMA LUSITANA
Apesar dos poucos que então éramos, a nossa grandeza de alma levou-nos à descoberta do mundo. E, como disse o grande Poeta, fomos “inda além da Taprobana”.
Deixámos gente e cultura por todos os cantos do mundo! Fizemos com que a língua falada num pequeno pedaço de terra se tornasse uma das mais faladas em todo o mundo e, assim, levámos a alma lusitana a povos que a Europa desconhecia.
“Dar novos mundos ao mundo” tornou-se num encargo histórico que ainda hoje se mantém e com o nosso empenhamento terá de continuar.
Assim nos tornámos um povo de emigrantes, o que uma grandeza de alma maior do que o território que a alberga tornou inevitável.
E fomos emigrantes desde então. Desde então nos espalhámos pelo mundo onde afirmamos o orgulho da nossa nacionalidade.
Apenas um equívoco lamentável nos fez pensar que, em vez disso, fossemos um povo de acolhimento.
Agora, a realidade é a verdade das coisas e, por ventura ou desventura de um povo com uma alma enorme, voltámos a ser emigrantes. Emigrar voltou a ser a solução que para alguns não tem alternativa.
É duro deixar a terra onde se nasceu, mas mais duro é não encontrar nela uma razão forte para viver. É o destino de um povo que chorou lágrimas que mais salgaram o mar, é a força de um povo que consegue impor-se em qualquer parte do mundo.
Não fiquei imune à necessidade de emigrar, eu próprio ou outros meus descendentes, e não vi nisso uma desgraça.
Lamento os que vejam nessa necessidade um flagelo, mas mais lamento que, “alegremente”, se digam baboseiras como “nem Salazar mandou os portugueses emigrar”! Pois não, eles emigravam mesmo assim.
Que desejam os que incitam à revolta com frases como “este governo não pode continuar?” Dizem-se democratas? Pois não parece porque foi um governo eleito pelo povo, tal como o que o antecedeu e ninguém derrubou, apesar dos seus erros. Foi ele que se arredou.
Acho que há portugueses que o não merecem ser!
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
O CINISMO DO POLITICAMENTE CORRETO!
Eu não o escutei diretamente, mas já li e ouvi que Passos Coelho terá aconselhado os professores sem emprego a emigrar porque há muita falta de professores em diversos países de língua portuguesa. Foi um conselho, uma sugestão? Não sei.
O que o homem foi dizer, Santo Deus, neste país de cínicos politicamente corretos que preferem ser enganados a ouvirem as verdades.
Portugal sempre foi um país de emigrantes porque, pequeno, bastante povoado e mal gerido como tem sido, os portugueses tiveram de se ir espalhando pelo mundo onde constituíram colónias por vezes muito numerosas e onde têm mostrado o valor que parece não terem na sua Terra.
Será correto um primeiro ministro aconselhar os seus concidadãos a emigrarem? Se o país não tem, de momento, condições para proporcionar trabalho a todos, a emigração sempre foi a solução. Os portugueses sabem-no bem. Ainda para mais, numa profissão em que os educandos são cada vez menos e os educadores cada vez mais, quais serão as soluções? Para mim haverá duas, mudar de profissão ou emigrar! Era o que eu faria.
Ao contrário de mim muita gente pensará que se deveriam inventar escolas e alunos ou até, que o primeiro ministro deveria dizer: esperem umas dezenas de anos porque nós vamos adoptar uma política de repovoamento do país e, então, teremos mais alunos e precisaremos de mais professores! Que idiotice.
Pode parecer duro falar assim e até o é para aqueles que se vejam nestes apuros, mas se o país não tem como garantir trabalho a todos e, pelo contrário, o desemprego ainda poderá aumentar, qual solução o governo poderá tirar da manga como um mágico tira um coelho da cartola? Governar não é magia e, nem sequer, a ilusão, em que anteriores governos nos (des)governaram.
Andámos anos e anos a ouvir um primeiro ministro a criticar o “discurso da tanga”, chegando a afirmar que parecia que apenas ele puxava pelo país. Os resultados estão à vista. O socialismo, para fazer crer que o é, exauriu os recursos financeiros do país que hipotecou, deixando para as futuras gerações pagarem as pesadas dívidas que contraiu.
É tempo, mais do que tempo de a linguagem política não ser a politicamente correta para passar a ser a linguagem da verdade, para que as circunstâncias nos não apanhem desprevenidos.
Deveríamos era perguntar que governos foram os que, sempre com linguagem e atitudes politicamente corretas, deixaram o país ficar com falta de médicos, com um tremendo excedente de professores e, no final de tudo isto, sem dinheiro?
Os médicos, aos quais os contribuintes pagaram a formação, fazem greve contra o povo que lhes paga, os maquinistas da CP fazem greve contra o povo que quer deslocar-se para trabalhar ou seja para o que for e os eternos do contra agitam-se para clamar contra um primeiro ministro que utilizou uma linguagem de verdade. Não será por isso que o criticarei porque é de verdade que necessitamos.
Mas ganhámos este mau hábito do faz de conta e preferimos o politicamente correto.
Se fazer greve enchesse barrigas...
domingo, 18 de dezembro de 2011
O VELHO O RAPAZ E O BURRO
Não me recordo se era indicado o autor, mas lembro-me bem de um texto que julgo ser da minha terceira classe e contava a história de um velho que, um dia, resolve ir à cidade com o seu neto. Partindo do monte onde viviam, lá se meteram ao caminho os dois, levando consigo o inseparável burro.
Chegados à cidade logo começam os reparos. Uns criticam o velho porque a criança vai a pé e o burro folgado, outros entendem que deveria ser o velho a sentar-se no burro em vez do miúdo que tem melhores pernas e por aí fora, cada um criticando, como lhe apetecesse, um velho, um rapaz e um burro!
Cada cabeça sua sentença, cada qual faz a sua crítica, como se o seu modo de ver fosse o melhor. Alguns falariam apenas por falar.
É o que me parece que sucede neste país onde se reconhece a necessidade do dinheiro que os nossos excessos nos obrigaram a pedir a outros mas se entende não se deveria pagar por ele, onde se vive a austeridade que a nossa pobreza impõe mas se exige o nível de vida a que uma falsa riqueza nos habituou.
Queira Deus que, a continuar assim, não tenhamos de levar o burro às costas!
sábado, 17 de dezembro de 2011
VERBORREIA
Num e_mail que me enviaram vinha, entre outras, uma imagem deliciosa que um artista que desconheço pintou com um muito singular sentido de humor. Não resisti à tentação de a reproduzir aqui com uma profunda vénia ao seu desconhecido autor.
É muito atual esta crítica que a imagem faz à verborreia de centenas e centenas de “cabecinhas pensadoras” que, para além de falarem, nada fazem.
Passam-me pela cabeça as imagens de tantos palradores que, cheios de empáfia, debitam sentenças sobre o que está mal, sem dizerem porque, e sobre o que deveria ser feito, sem nunca dizerem como.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
O CINISMO, A HIPOCRISIA E AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS...
Por mais que se possa dizer que a conferência de Durban sobre as alterações climáticas foi um êxito, a verdade é que não foi. O cinismo, a hipocrisia, o egoísmo e mais umas quantas características próprias do Ser Humano impedem as soluções que poderiam minimizar os nefastos efeitos de um problema grave que a atividade económica agrava ainda mais.
O Canadá que havia assinado o Protocolo de Quioto mas que, desde há anos, não cumpria os preceitos a que se obrigou, denunciou publicamente o protocolo considerando-o uma via inadequada para o problema!
Egoistamente e de modo inequivocamente cínico, o Canadá evita, deste modo, pagar milhares de milhões de euros de multas devidas pelo seus incumprimentos ao mesmo tempo que do efeito do aumento de temperatura espera tirar vantagens com a redução significativa da sua superfície gelada. Não leva em conta os desequilíbrios que tal causará a nível mundial e os prejuízos que tal causará a inúmeros países, alguns dos quais terão extensas áreas desertificadas e outros desaparecerão submersos!
Por seu lado, a China, agora a segunda maior economia mundial e cada vez mais produtora de gases de estufa que majorarão o problema sem se sujeitar a multas porque não subscreveu o protocolo de Quioto, critica a atitude canadense!
Os estados Unidos, o maior poluidor do ar e não subscritor do protocolo, continuam a constituir-se o polícia do mundo, com atitudes de defesa da democracia que, contudo, não têm em consideração os direitos dos que são prejudicados pela poluição aérea que causam.
Alguém acreditará que o Homem é um ser inteligente que sabe prever e prevenir as catástrofes que o podem aniquilar?
O Canadá que havia assinado o Protocolo de Quioto mas que, desde há anos, não cumpria os preceitos a que se obrigou, denunciou publicamente o protocolo considerando-o uma via inadequada para o problema!
Egoistamente e de modo inequivocamente cínico, o Canadá evita, deste modo, pagar milhares de milhões de euros de multas devidas pelo seus incumprimentos ao mesmo tempo que do efeito do aumento de temperatura espera tirar vantagens com a redução significativa da sua superfície gelada. Não leva em conta os desequilíbrios que tal causará a nível mundial e os prejuízos que tal causará a inúmeros países, alguns dos quais terão extensas áreas desertificadas e outros desaparecerão submersos!
Por seu lado, a China, agora a segunda maior economia mundial e cada vez mais produtora de gases de estufa que majorarão o problema sem se sujeitar a multas porque não subscreveu o protocolo de Quioto, critica a atitude canadense!
Os estados Unidos, o maior poluidor do ar e não subscritor do protocolo, continuam a constituir-se o polícia do mundo, com atitudes de defesa da democracia que, contudo, não têm em consideração os direitos dos que são prejudicados pela poluição aérea que causam.
Alguém acreditará que o Homem é um ser inteligente que sabe prever e prevenir as catástrofes que o podem aniquilar?
COMO NOS TEMPOS DAS ORELHAS DE BURRO
Eu entendo que eram absolutamente necessárias medidas de emergência perante um cenário de catástrofe financeira como o que o anterior governo nos deixou. Mas entendo, também, que medidas de emergência não podem ser mais do que medidas de recurso que, o mais rapidamente possível, devem ser substituídas por medidas mais pensadas e com visão de futuro. O défice de Portugal ficará, este ano, abaixo dos 5,9% imposto pela Troika. O primeiro ministro afirma que se ficará pelos 4,5%. Mas a dívida continuará elevada.
O défice pode ser corrigido com medidas de emergência mas a dívida não. E é por isso que se tornam urgentes medidas de desenvolvimento económico que contrariem o efeito recessivo das medidas de austeridade que as circunstâncias nos impõem e das quais, infelizmente, não há como nos livrarmos.
Já me insurgi contra as portagens excessivas na A23 – outras haverá que se possam queixar pelas mesmas razões – que vão no sentido inverso do que seria o do desenvolvimento do atrofiado Interior de Portugal! Não me parece uma medida certa nem justa. Deveria poder enquadrar-se nas que promovem o desenvolvimento e não nas que o espartilham.
Deste modo a situação das deslocações dentro do país fica assim: ao longo do litoral, as alternativas são diversas quer em auto estradas quer em estradas nacionais não portajadas mas, para o Interior, a alternativas são poucas, más e, por vezes, nenhumas e terá de se pagar mais caro!
Parabens ao inteligente que tomou esta decisão! Creio que merece, como nos meus tempos de instrução primária, umas orelhas de burro e ficar virado para o canto durante toda a aula!
O défice pode ser corrigido com medidas de emergência mas a dívida não. E é por isso que se tornam urgentes medidas de desenvolvimento económico que contrariem o efeito recessivo das medidas de austeridade que as circunstâncias nos impõem e das quais, infelizmente, não há como nos livrarmos.
Já me insurgi contra as portagens excessivas na A23 – outras haverá que se possam queixar pelas mesmas razões – que vão no sentido inverso do que seria o do desenvolvimento do atrofiado Interior de Portugal! Não me parece uma medida certa nem justa. Deveria poder enquadrar-se nas que promovem o desenvolvimento e não nas que o espartilham.
Deste modo a situação das deslocações dentro do país fica assim: ao longo do litoral, as alternativas são diversas quer em auto estradas quer em estradas nacionais não portajadas mas, para o Interior, a alternativas são poucas, más e, por vezes, nenhumas e terá de se pagar mais caro!
Parabens ao inteligente que tomou esta decisão! Creio que merece, como nos meus tempos de instrução primária, umas orelhas de burro e ficar virado para o canto durante toda a aula!
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
A PROPÓSITO DA A23
Falar de interioridade é, em Portugal, falar do fim do mundo ou de um Portugal de segunda que outro proveito não tem para além dos impostos em cujo pagamento não tem distinção.
Como se pensará fazer o seu desenvolvimento sem condições como as que foram dadas aos Açores e à Madeira por conta da sua insularidade?
É um Portugal perdido que se despovoa dia a dia porque não oferece condições de vida nem segurança adequadas. É, por isso, um Portugal cada vez menos produtivo, com recursos inaproveitados.
Agora, com as condições de acessibilidade agravadas de um modo nitidamente excessivo que faz da A23 a auto estrada mais cara do país, as condições vão, por certo, piorar porque as pesadas portagens agravarão os custos do que no Interior se produza, bem como tornarão mais caros os bens ao Interior destinados!
Mesmo em tempo de crise ou sobretudo em tempo de grandes dificuldades, os fatores de desenvolvimento não podem ser esquecidos e muito menos podem ser acrescidas dificuldades ao que já é difícil.
Não foram dadas ao Interior as condições para defesa dos seus interesses como as que aos Açores e à Madeira foram concedidas. Os seus deputados não são, de facto, quem os defende e, muitas vezes, nem sequer sabem quais sejam os seus interesses ou os seus valores.
Sempre entendi as SCUT como um erro que se viria a pagar muito caro, mas nunca esperei que a “solidariedade nacional” que tanto tem explorado o Interior viesse algum dia a tomar a forma de uma agressão tão dura como o são os valores cobrados para viajar na A23!
Um erro gravíssimpo do governo de Passos Coelho.
Como se pensará fazer o seu desenvolvimento sem condições como as que foram dadas aos Açores e à Madeira por conta da sua insularidade?
É um Portugal perdido que se despovoa dia a dia porque não oferece condições de vida nem segurança adequadas. É, por isso, um Portugal cada vez menos produtivo, com recursos inaproveitados.
Agora, com as condições de acessibilidade agravadas de um modo nitidamente excessivo que faz da A23 a auto estrada mais cara do país, as condições vão, por certo, piorar porque as pesadas portagens agravarão os custos do que no Interior se produza, bem como tornarão mais caros os bens ao Interior destinados!
Mesmo em tempo de crise ou sobretudo em tempo de grandes dificuldades, os fatores de desenvolvimento não podem ser esquecidos e muito menos podem ser acrescidas dificuldades ao que já é difícil.
Não foram dadas ao Interior as condições para defesa dos seus interesses como as que aos Açores e à Madeira foram concedidas. Os seus deputados não são, de facto, quem os defende e, muitas vezes, nem sequer sabem quais sejam os seus interesses ou os seus valores.
Sempre entendi as SCUT como um erro que se viria a pagar muito caro, mas nunca esperei que a “solidariedade nacional” que tanto tem explorado o Interior viesse algum dia a tomar a forma de uma agressão tão dura como o são os valores cobrados para viajar na A23!
Um erro gravíssimpo do governo de Passos Coelho.
O BRAÇO DE FERRO ENTRE A ECONOMIA E O AMBIENTE
Em Durban, estiveram reunidos representantes de 195 países numa conferência, a COP-17, para discutir as medidas necessárias para controlar as alterações climáticas cada vez mais evidentes.
Depois do que parecia ser um total fracasso, lá se entenderam os 195 para, altas horas da noite, assinarem numa resolução que, quanto a mim, o não é, pois não passa de um acordo para iniciarem negociações, tendo como objectivo definir medidas a por em prática até 2020.
Recorde-se que o Acordo de Quioto foi assinado em 1997, depois de uma série de conferências iniciadas em 1988, em Toronto, no Canadá. Começou por ser ratificado por apenas cinquente e cinco países, com adesão tardia de mais alguns. Os maiores poluidores, porém, ficaram de fora.
Andamos a “encanar a perna à rã” há mais de vinte anos e entendemos que podemos esperar mais dez até definirmos, finalmente, o que fazer para evitar uma tragédia à escala planetária, se é que algum acordo é alcançado e se, sendo-o, contém as medidas que o problema requer.
Imagine-se o que poderia ter sido feito durante todo este tempo.
Quanto ao que se passou em Durben, começa por dar ideia de que, depois de se não entenderem, os intervenientes acabaram por render-se à inevitabilidade de produzir um documento qualquer e esse apenas decide o início de negociações! Depois, negociar não significa chegar a acordo, apesar de os renitentes e menos cumpridores terem assinado tal documento final.
É caso para perguntar: o que estiveram a fazer ali durante o tempo que durou a conferência? Turismo? Talvez, porque o Drakensberg é uma cordilheira belíssima, digna de ser apreciada, e as compras no Jhon Orr talvez continuem a ser uma tentação.
Há muito que este confronto entre a economia e o ambiente se mantém e, apesar das evidências de que algumas das práticas em que assenta o seu crescimento são visivelmente prejudiciais, sempre os interesses económicos têm levado a melhor, seja pelas tímidas atitudes de uns seja pela recusa de outros em fazerem qualquer coisa em prol do ambiente.
Ali, na Costa do Natal, onde a mais evidente menção à passagem de Vasco da Gama salta aos olhos de quem sai do porto desta cidade da costa oriental de África, eu gostaria que tivesse acontecido qualquer coisa que não aconteceu, tivesse nascido uma consciência global que ainda não nasceu, o que demonstra a cegueira dos economistas no último momento de que dispõem para alterar o comportamento de uma Humanidade tão cega como eles.
Depois do que parecia ser um total fracasso, lá se entenderam os 195 para, altas horas da noite, assinarem numa resolução que, quanto a mim, o não é, pois não passa de um acordo para iniciarem negociações, tendo como objectivo definir medidas a por em prática até 2020.
Recorde-se que o Acordo de Quioto foi assinado em 1997, depois de uma série de conferências iniciadas em 1988, em Toronto, no Canadá. Começou por ser ratificado por apenas cinquente e cinco países, com adesão tardia de mais alguns. Os maiores poluidores, porém, ficaram de fora.
Andamos a “encanar a perna à rã” há mais de vinte anos e entendemos que podemos esperar mais dez até definirmos, finalmente, o que fazer para evitar uma tragédia à escala planetária, se é que algum acordo é alcançado e se, sendo-o, contém as medidas que o problema requer.
Imagine-se o que poderia ter sido feito durante todo este tempo.
Quanto ao que se passou em Durben, começa por dar ideia de que, depois de se não entenderem, os intervenientes acabaram por render-se à inevitabilidade de produzir um documento qualquer e esse apenas decide o início de negociações! Depois, negociar não significa chegar a acordo, apesar de os renitentes e menos cumpridores terem assinado tal documento final.
É caso para perguntar: o que estiveram a fazer ali durante o tempo que durou a conferência? Turismo? Talvez, porque o Drakensberg é uma cordilheira belíssima, digna de ser apreciada, e as compras no Jhon Orr talvez continuem a ser uma tentação.
Há muito que este confronto entre a economia e o ambiente se mantém e, apesar das evidências de que algumas das práticas em que assenta o seu crescimento são visivelmente prejudiciais, sempre os interesses económicos têm levado a melhor, seja pelas tímidas atitudes de uns seja pela recusa de outros em fazerem qualquer coisa em prol do ambiente.
Ali, na Costa do Natal, onde a mais evidente menção à passagem de Vasco da Gama salta aos olhos de quem sai do porto desta cidade da costa oriental de África, eu gostaria que tivesse acontecido qualquer coisa que não aconteceu, tivesse nascido uma consciência global que ainda não nasceu, o que demonstra a cegueira dos economistas no último momento de que dispõem para alterar o comportamento de uma Humanidade tão cega como eles.
sábado, 10 de dezembro de 2011
O FUTURO E A POLÍTICA
É cada vez mais evidente que os partidos políticos clássicos se encontram em fase de profunda agitação, com divergências profundas e com interesses díspares em evidente oposição.
O que se passa ou passou no PSD, onde uma corrente mais moderna continua a ser mal vista e criticada pelos “barões” que ela “desinstalou”, incluindo Rui Rio que, por vezes, toma atitudes que levam a pensar que já entendeu que a sua oportunidade passou, mostra bem como este partido está em transformação, passando de um conceito social-democrata que nunca foi capaz de materializar para uma posição neo-liberal que a situação do país e do mundo pode levar a ser repensada.
O PS ainda não entendeu que o socialismo é uma miragem e que até, na era de Sócrates, não passou de uma ideia bizarra que julgou poder praticar um “capital-socialismo” que quase levou o país à bancarrota. Hoje é um partido dirigido por um Secretário Geral carente de ideias, sem força e sem carisma que, tenta, a todo o custo, ter um lugar próprio, mas a quem os “socratistas” tornam a vida difícil.
O CDS adopta uma atitude dúbia que pretende abranger todas as áreas “nobres” do espetro político, enquanto os outros desperdiçam energias a tentar controlar os seus problemas. Porém, a indefinição não se pode manter eternamente...
Lá para os lados da auto denominada esquerda, o PCP vai estiolando, afundando-se numa ideologia caduca e já proscrita pela História, com ideias que a mais singela provação desmonta, enquanto o BE se desentende e divide numa via rápida para a desintegração que o cada vez mais diminuto apoio popular justifica.
Além de tudo isto, já não há ideologia que responda às necessidades de uma nova realidade que cada vez menos permite as loucuras de que a imaginação é capaz e os espetáculos políticos exigem.
A realidade exige a passagem para um patamar superior da política onde o faz-de-conta não tem lugar, onde não adianta fingir que as coisas são como desejamos e não como são, onde não adianta ignorar que o ambiente necessário à vida e muito sensível e que os recursos de que necessitamos para viver são escassos e cada vez menos abundantes.
Há teorias a abandonar, conceitos a rever e, sobretudo, um ambiente a preservar para que a Humanidade possa sobreviver.
Os resultados esperados da Conferência da ONU sobre as mudanças climáticas, a decorrer em Durban, não serão animadores, continuando o Protocolo de Quioto a ser desrespeitado por quem mais polui para não prejudicar o crescimento da sua economia. Mas como poderá ter futuro uma economia que faz do ambiente o seu caixote do lixo?
O que se passa ou passou no PSD, onde uma corrente mais moderna continua a ser mal vista e criticada pelos “barões” que ela “desinstalou”, incluindo Rui Rio que, por vezes, toma atitudes que levam a pensar que já entendeu que a sua oportunidade passou, mostra bem como este partido está em transformação, passando de um conceito social-democrata que nunca foi capaz de materializar para uma posição neo-liberal que a situação do país e do mundo pode levar a ser repensada.
O PS ainda não entendeu que o socialismo é uma miragem e que até, na era de Sócrates, não passou de uma ideia bizarra que julgou poder praticar um “capital-socialismo” que quase levou o país à bancarrota. Hoje é um partido dirigido por um Secretário Geral carente de ideias, sem força e sem carisma que, tenta, a todo o custo, ter um lugar próprio, mas a quem os “socratistas” tornam a vida difícil.
O CDS adopta uma atitude dúbia que pretende abranger todas as áreas “nobres” do espetro político, enquanto os outros desperdiçam energias a tentar controlar os seus problemas. Porém, a indefinição não se pode manter eternamente...
Lá para os lados da auto denominada esquerda, o PCP vai estiolando, afundando-se numa ideologia caduca e já proscrita pela História, com ideias que a mais singela provação desmonta, enquanto o BE se desentende e divide numa via rápida para a desintegração que o cada vez mais diminuto apoio popular justifica.
Além de tudo isto, já não há ideologia que responda às necessidades de uma nova realidade que cada vez menos permite as loucuras de que a imaginação é capaz e os espetáculos políticos exigem.
A realidade exige a passagem para um patamar superior da política onde o faz-de-conta não tem lugar, onde não adianta fingir que as coisas são como desejamos e não como são, onde não adianta ignorar que o ambiente necessário à vida e muito sensível e que os recursos de que necessitamos para viver são escassos e cada vez menos abundantes.
Há teorias a abandonar, conceitos a rever e, sobretudo, um ambiente a preservar para que a Humanidade possa sobreviver.
Os resultados esperados da Conferência da ONU sobre as mudanças climáticas, a decorrer em Durban, não serão animadores, continuando o Protocolo de Quioto a ser desrespeitado por quem mais polui para não prejudicar o crescimento da sua economia. Mas como poderá ter futuro uma economia que faz do ambiente o seu caixote do lixo?
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
AGORA SÃO OS JUÍZES...
Eu gostaria de ver os homens das leis a preocuparem-se com as razões que levaram o país a esta crise que amargamos de forma tão dura. Gostava de vê-los discutir se há matéria para julgar os responsáveis por esta tragédia que nos obriga a medidas excecionais para a podermos ultrapassar.
Sempre ouvi dizer que em tempo de guerra não se limpam armas, o que me leva a crer que em tempo de emergência nacional também não!
Privilegiados, nada fizeram até que lhes doeu no bolso, como me doi a mim e a muita gente que terá cortados os subsídios de férias e de Natal nos próximos dois anos, mas que prefere que seja assim a andarmos permanentemente a perder o pouco que temos até não termos nada para além das leis!
De uma classe da qual esperaria uma visão das coisas acima da média, vem agora uma atitude que dizem ser de imperativo legal, a qual tem em vista impedir que o governo tome as medidas indispensáveis á recuperação da credibilidade do país perante os seus credores. Se lhes fosse dada atenção, Portugal não cumpriria os compromissos que assumiu e isso traduzir-se-ia em mais austeridade que, queira Deus que não, faria perigar o pagamento dos vencimentos e não apenas dos subsídios.
A Constituição é, sem a menor dúvida, muito importante, mas não é ela quem paga as dívidas que fizemos e teremos de pagar se desejarmos continuar a pertencer ao mundo dito evoluído.
Se o momento é de emergência, as medidas terão de o ser, também.
Sem me sentir responsável pela situação que vivemos, tanto porque me insurgi contra as loucuras de gastos do Estado como os incentivos despudorados a um consumo excessivo que já levou à falência milhares e milhares de famílias, sinto que terei de aceitar as medidas que visam combatê-la, sem pruridos de legitimidades que tanto poderiam ser estas como outras quaisquer.
Mas o Presidente da República deu o mote e agora vai ter de se haver com isso. Veremos.
Sempre ouvi dizer que em tempo de guerra não se limpam armas, o que me leva a crer que em tempo de emergência nacional também não!
Privilegiados, nada fizeram até que lhes doeu no bolso, como me doi a mim e a muita gente que terá cortados os subsídios de férias e de Natal nos próximos dois anos, mas que prefere que seja assim a andarmos permanentemente a perder o pouco que temos até não termos nada para além das leis!
De uma classe da qual esperaria uma visão das coisas acima da média, vem agora uma atitude que dizem ser de imperativo legal, a qual tem em vista impedir que o governo tome as medidas indispensáveis á recuperação da credibilidade do país perante os seus credores. Se lhes fosse dada atenção, Portugal não cumpriria os compromissos que assumiu e isso traduzir-se-ia em mais austeridade que, queira Deus que não, faria perigar o pagamento dos vencimentos e não apenas dos subsídios.
A Constituição é, sem a menor dúvida, muito importante, mas não é ela quem paga as dívidas que fizemos e teremos de pagar se desejarmos continuar a pertencer ao mundo dito evoluído.
Se o momento é de emergência, as medidas terão de o ser, também.
Sem me sentir responsável pela situação que vivemos, tanto porque me insurgi contra as loucuras de gastos do Estado como os incentivos despudorados a um consumo excessivo que já levou à falência milhares e milhares de famílias, sinto que terei de aceitar as medidas que visam combatê-la, sem pruridos de legitimidades que tanto poderiam ser estas como outras quaisquer.
Mas o Presidente da República deu o mote e agora vai ter de se haver com isso. Veremos.
domingo, 4 de dezembro de 2011
INDIGNAÇÃO, PARA QUE?
É desagradável, mesmo mais do que isso até, não receber os subsídios de férias e de Natal em 2012 e em 2013. E eu não vou receber!
É desagradável, diria até que frustrante ter reclamado tantas vezes pelas atitudes irrefletidas de um governo gastador e perdulário e agora, ao ser penalizado, de nada me valer reclamar de uma austeridade cuja alternativa seria não me pagarem a pensão que mais de quarenta e cinco anos de contribuições justificam.
Sinto-me indignado, pois claro! Mas de que me serviria reclamar se não há condições para ser de outra maneira?
Se me conformo? Claro que não! E ainda mais quando não tenho assim tanto tempo para esperar por uma recuperação económica que, por este andar, pode até nem chegar.
De que me adianta apelar à possível inconstitucionalidade da medida ou, como hoje li, algures no face book, que Sá Carneiro tenha dito que os subsídios de férias e de Natal eram impenhoráveis e inalienáveis? Será que o disse? Nem isso me interessa.
O país julgou que estava rico, o crédito fácil dava para tudo. Era uma grande farra e a quem chamasse a atenção para os riscos destas fantasias, logo alguém dizia “lá está este com o discurso da tanga”!
Tudo isto me faz lembrar uma anedota muito antiga, daqueles tempos em que a visita de marinheiros americanos era uma festa e uma oportunidade para alguns fazerem bons negócios. Foi o caso de um comerciante espertalhão que vendia leitões e conseguiu impingir, a dois marinheiros, um dos seus bichos por quinhentos escudos, um “monte” de dinheiro naqueles tempos e mais do que o triplo do preço justo. Fazendo aquela cena de estarem “desprevenidos” mas que iriam ao navio buscar o dinheiro e voltavam já, pegaram no leitão e lá convenceram o homem que, plantado no cais, ficou à espera do dinheiro. Mas em vez do regresso dos marujos, o homem viu o barco zarpar!!! Primeiro danou-se mas, depois, reconhecendo a inutilidade da sua indignação confortou-se pensando “não mo pagaram, mas vendi-o bem vendido!”
É desagradável, diria até que frustrante ter reclamado tantas vezes pelas atitudes irrefletidas de um governo gastador e perdulário e agora, ao ser penalizado, de nada me valer reclamar de uma austeridade cuja alternativa seria não me pagarem a pensão que mais de quarenta e cinco anos de contribuições justificam.
Sinto-me indignado, pois claro! Mas de que me serviria reclamar se não há condições para ser de outra maneira?
Se me conformo? Claro que não! E ainda mais quando não tenho assim tanto tempo para esperar por uma recuperação económica que, por este andar, pode até nem chegar.
De que me adianta apelar à possível inconstitucionalidade da medida ou, como hoje li, algures no face book, que Sá Carneiro tenha dito que os subsídios de férias e de Natal eram impenhoráveis e inalienáveis? Será que o disse? Nem isso me interessa.
O país julgou que estava rico, o crédito fácil dava para tudo. Era uma grande farra e a quem chamasse a atenção para os riscos destas fantasias, logo alguém dizia “lá está este com o discurso da tanga”!
Tudo isto me faz lembrar uma anedota muito antiga, daqueles tempos em que a visita de marinheiros americanos era uma festa e uma oportunidade para alguns fazerem bons negócios. Foi o caso de um comerciante espertalhão que vendia leitões e conseguiu impingir, a dois marinheiros, um dos seus bichos por quinhentos escudos, um “monte” de dinheiro naqueles tempos e mais do que o triplo do preço justo. Fazendo aquela cena de estarem “desprevenidos” mas que iriam ao navio buscar o dinheiro e voltavam já, pegaram no leitão e lá convenceram o homem que, plantado no cais, ficou à espera do dinheiro. Mas em vez do regresso dos marujos, o homem viu o barco zarpar!!! Primeiro danou-se mas, depois, reconhecendo a inutilidade da sua indignação confortou-se pensando “não mo pagaram, mas vendi-o bem vendido!”
sábado, 3 de dezembro de 2011
A REMODELAÇÃO ADMINISTRATIVA
Continuo a ver no discurso do ministro da Presidência, Miguel Relvas, uma pobreza franciscana, uma ignorância pasmosa do que seja o problema da Administração Local no nosso país.
Um problema mal resolvido ou nem sequer resolvido há demasiado tempo, não pode ser encarado e tratado deste modo e com o simples propósito de reduzir custos.
O propósito da administração é criar condições de desenvolvimento, de prosperidade através da melhor gestão possível dos recursos locais, pelo que a organização administrativa do território deve ser motivo de estudos profundos que envolvem os mais variados aspetos e nunca o resultado de decisões avulsas tomadas por um governo ou de negociações com os autarcas.
Desde 1976 que a Constituição Portuguesa impõe a regionalização administrativa do país, sem que os diversos governos lhe tenham prestado a atenção que deveriam.
Aliás, um lamentável referendo que o Partido Socialista promoveu, mal preparado e mal discutido, provou a falta de visão dos nossos políticos neste domínio da administração territorial, do que resulta a desarticulação territorial que, cada vez mais, acentua desníveis económicos profundos.
Além disso, um inadequado plano rodoviário não favorecerá o desenvolvimento do interior, tendo em conta as elevadas portagens a que a falência do projecto vai obrigar.
Penso que neste aspeto da administração local, ao contrário de outros em que qualquer alternativa é má e os resultados são urgentes, as coisas se deveriam fazer com um pouco mais de tempo e, sobretudo, muita inteligência.
Nota: ver, neste blog, o texto “um concelho com futuro ou um trás-de-serra ignorado”.
Um problema mal resolvido ou nem sequer resolvido há demasiado tempo, não pode ser encarado e tratado deste modo e com o simples propósito de reduzir custos.
O propósito da administração é criar condições de desenvolvimento, de prosperidade através da melhor gestão possível dos recursos locais, pelo que a organização administrativa do território deve ser motivo de estudos profundos que envolvem os mais variados aspetos e nunca o resultado de decisões avulsas tomadas por um governo ou de negociações com os autarcas.
Desde 1976 que a Constituição Portuguesa impõe a regionalização administrativa do país, sem que os diversos governos lhe tenham prestado a atenção que deveriam.
Aliás, um lamentável referendo que o Partido Socialista promoveu, mal preparado e mal discutido, provou a falta de visão dos nossos políticos neste domínio da administração territorial, do que resulta a desarticulação territorial que, cada vez mais, acentua desníveis económicos profundos.
Além disso, um inadequado plano rodoviário não favorecerá o desenvolvimento do interior, tendo em conta as elevadas portagens a que a falência do projecto vai obrigar.
Penso que neste aspeto da administração local, ao contrário de outros em que qualquer alternativa é má e os resultados são urgentes, as coisas se deveriam fazer com um pouco mais de tempo e, sobretudo, muita inteligência.
Nota: ver, neste blog, o texto “um concelho com futuro ou um trás-de-serra ignorado”.
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