Ontem,
indiferente às teorias correntes sobre a oportunidade de lançamento de candidaturas
a Belém, Henrique Neto, um empresário que já foi deputado socialista nos tempos
de António Guterres, anunciou que concorreria, independente, nas próximas
eleições para a Presidência da República.
Prestei
à entrevista que concedeu a José Gomes Ferreira, na SIC, a atenção que, nas
circunstâncias em que me encontrava, me foi possível e, devo confessá-lo, não
desgostei de coisas que lhe ouvi dizer. Terei de ficar mais atento de outras
vezes porque me pareceu dar conta de propósitos que mereceriam ser reflectidos.
Por
isso, não vou abordar aqui as pistas que deixou sobre o seu entendimento do
modo como deve intervir na política o Primeiro Magistrado da Nação e com o qual
pretende justificar o lema que será o da sua campanha “Por uma Nova República”.
Haverá,
sempre, muito de poesia e de temeridade em quem pretende mudar qualquer coisa
a que já nos habituámos como se não houvesse outro modo de fazer. Mas ainda bem que há quem seja assim e se disponha a incomodar o marasmo.
Mexer
com ideias estafadas, com comodismos instalados, com carreirismos instituídos e com outras forças que representam interesses desmesurados, nunca será o projecto de quem tenha a esperança de uma via fácil
para chegar aonde deseja, porque, aos magotes e furiosos, os monstros que defendem o “castelo” lhe vão
sair ao caminho!
Nem
imagino qual será o sucesso que Henrique Neto alcançará neste seu propósito de
mudar a já anquilosada República Portuguesa e, com isto, a também tão
desajustada democracia que vivemos, mas não me surpreenderá um fracasso rotundo perante
os que preferem os caminhos já traçados, as regras já estabelecidas, os
processos empoeirados de um regime que se deixou envelhecer demais e chafurda,
já falho de forças, no atoleiro das confusões que criou. Porque, infelizmente, a maioria ainda prefere, no dizer mal característico dos inúteis, dizer mal em vez de fazer qualquer coisa por que possa ser criticada.
Ficarei
atento a este candidato em cuja postura me agradou a coragem de pretender mexer
na cartilha amarelecida pela vetusta idade e amputada pelos assaltos que tantas
ambições já lhe fizeram. Isto num mundo que não pára de modificar-se.Só a política não deita fora a obsoleta cartilha do Mário.