Habituado
como estou a ouvir falar de “bichos de sete cabeças” quando é apenas uma
pequena barata que passa, não me surpreende nada esta onda de “indignação”
contra uma suposta lista VIP que talvez fosse apenas uma experiência interna
para instalar um sistema de salvaguarda dos contribuintes, até agora totalmente
expostos à curiosidade de um qualquer trabalhador dos impostos que entenda
espiolhá-los e, se o quiser também, divulgá-los por sua iniciativa, a pedido de
outrem ou porque assim entende que ajuda a “causa” partidária que defende.
De
facto, que garantia poderemos ter de a privacidade a que temos direito quanto a
rendimentos declarados e aos impostos que pagamos estar salvaguardada se, num
momento particularmente propício a escândalos, esta pré-campanha eleitoral já
em curso, é tão fácil divulgar factos passados e até resolvidos da vida
contributiva de alguém, de modo a gerar confusão e a onda de críticas que por
aí se espalha como um tsunami?
Estão
todos preocupados com a possível existência de uma lista VIP, definitiva ou
experimental que se destinaria a ser um procedimento generalizado de protecção
de dados, mas a ninguém oiço referir que, dentre os trabalhadores dos impostos,
houve quem faltasse ao seu dever de sigilo e inspeccionasse e publicasse os
dados sobre alguém que, mesmo sendo primeiro-ministro tem, como qualquer outro,
direito à sua privacidade.
Depois
de tudo, da bagunça feita e do tempo perdido que é tão bom para dar “utilidade”
a tantos deputados e comentadores de quem, para além das futriquices da ordem, nada
oiço sobre as importantes questões que um futuro que se prevê muito complicado
nos coloca, fica-me a sensação de que a questão principal, ou a verdadeira
questão se preferirmos, passou despercebida. Afinal, depois de durante algum
tempo se ouvir falar de que os dados das finanças de Passos Coelho andavam a
ser “investigados” por trabalhadores das finanças, eles lá acabaram por surgir em
público, ainda que sem provas de que tenha cometido qualquer crime. Será que
não tem qualquer importância saber quem faltou aos seus deveres de sigilo ou
como foi possível que tal acontecesse?
O
Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos que estava completamente preparado
para a “tormenta” que se seguiria, com gravações e tudo, não se preocupou com a
questão de saber quem praticou o acto irregular de divulgar dados
confidenciais, como tal também me não pareceu ser preocupação dos comentadores
que, quais abutres, sempre se alimentam do que acontece, jamais perdendo um
segundo a pensar no que possa vir a acontecer…
Mas
de que me admiro eu? Da conversa fiada com que os comentadores procuram
notoriedade ou da atitude dos sindicatos para os quais os deveres não contam?
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