Em
momento em que se esperam batalhas duras pelo futuro, para recuperar a vida
perdida nos devaneios de um modo de viver leviano e perigoso, recordar os
feitos heroicos dos nossos antepassados e o modo como superaram os problemas
mais difíceis é, com certeza, a inspiração de que necessitamos e, também, a
lição de que nada se consegue sem determinação e sem luta.
É
por isso que este dia e o relembrar de factos infelizmente esquecidos por
muitos de nós, me parece oportuno.
A
morte, ainda sem descendência, do jovem D Sebastião em Alcácer Quibir, tornou
Rei de Portugal o seu parente mais próximo, o Cardeal D Henrique que, pela sua
idade avançada e situação eclesiástica não podia ter descendência e, por isso,
pôs a questão da sua sucessão às Cortes de Lisboa de 1579.
Segundo
as leis vigentes, sucederia ao Rei o seu parente mais próximo. Em caso de igual
proximidade, seria escolhido um de sexo masculino, sendo preferido o mais
velho.
O
Cardeal foi escolhido segundo essa regra e, na lista, seguiam-se diversos
outros, entre os quais Filipe II de Espanha, neto de D Manuel I, Rei de
Portugal, e D João I, Duque de Bragança.
D
António, Prior do Crato, neto ilegítimo de D Manuel I também se posicionou na
sucessão porque não via com bons olhos a entrega da coroa a Filipe de Espanha
que, talvez por este aliciados, alguns nobres apoiavam e o próprio Cardeal D
Henrique havia indicado também, em condições que considerava favoráveis a
Portugal!
D
António chegou a ser coroado, reinou no Continente mas, depois de derrotado na
Batalha de Alcântara, refugiou-se no Norte e acabou confinado aos Açores onde a
derrota na Batalha Naval de Vila Franca, junto à ilha de S Miguel, pôs um fim
às suas pretensões, exilando-se em França.
Filipe
II de Espanha chegou a Lisboa e foi aceite como Filipe I de Portugal (1580-98) pelas
Cortes de Tomar na condição de apenas indicar portugueses para a administração,
ser seguido por Cortes frequentes em Portugal e um Conselho português em Madrid.
Assim
se consumou a União Dinástica Ibérica
que garantia a total autonomia de Portugal, à semelhança do que se passara com
Aragão, a qual durou até ao dia 1º de Dezembro de 1640, quando era rei Filipe
III de Portugal, IV de Espanha, e foi deposta pela revolta chefiada por D João
Pinto Ribeiro que, invadindo o Cais da Ribeira, prendeu a Duquesa de Mântua e
defenestraram secretário de estado Miguel de Vasconcelos.
Este
golpe palaciano foi a consequência de muitas reuniões secretas para
reabilitação da Monarquia Portuguesa, pela qual o povo cada vez mais reclamava
em consequência da degradação das condições de vida que o rei espanhol tornava
difícil com os constantes aumentos de impostos e pelo seu desrespeito pelas
condições impostas nas Cortes de Tomar.
D
João, Duque de Bragança e trineto de D Manuel I acedeu a encabeçar a causa da
restauração, diz-se que incentivado por sua esposa Dª Luiza de Gusmão.
Depois
do sucesso do 1º de Dezembro, no dia 15 do mesmo mês foi o Duque aclamado
solenemente em Lisboa como D João IV, Rei de Portugal, o primeiro da Dinastia
de Bragança.
Mas
a independência de Portugal e a reintegração das suas partes que a União
Dinástica Ibérica tinha descuidado e abandonado à voracidade dos piratas
ingleses e holandeses, apoiados pelos respectivos governos, apenas foi
garantida por acções de determinação e de coragem que, então, eram timbre dos
portugueses.
Foi
uma guerra que durou mais de 30 anos!
O
Obelisco dos Restauradores, em Lisboa, relembra tais acontecimentos (ver
publicação de 29 de Outubro).
Durante
muitos anos, sempre o 1º de Dezembro foi a celebração patriótica em que se
cantava “baqueou a tirania, nobre povo és vencedor…”.
Hoje,
infelizmente, nem como feriado nacional se comemora!
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