ACORDO ORTOGRÁFICO

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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

1º DE DEZEMBRO DE 1640



Em momento em que se esperam batalhas duras pelo futuro, para recuperar a vida perdida nos devaneios de um modo de viver leviano e perigoso, recordar os feitos heroicos dos nossos antepassados e o modo como superaram os problemas mais difíceis é, com certeza, a inspiração de que necessitamos e, também, a lição de que nada se consegue sem determinação e sem luta.
É por isso que este dia e o relembrar de factos infelizmente esquecidos por muitos de nós, me parece oportuno.

A morte, ainda sem descendência, do jovem D Sebastião em Alcácer Quibir, tornou Rei de Portugal o seu parente mais próximo, o Cardeal D Henrique que, pela sua idade avançada e situação eclesiástica não podia ter descendência e, por isso, pôs a questão da sua sucessão às Cortes de Lisboa de 1579.
Segundo as leis vigentes, sucederia ao Rei o seu parente mais próximo. Em caso de igual proximidade, seria escolhido um de sexo masculino, sendo preferido o mais velho.
O Cardeal foi escolhido segundo essa regra e, na lista, seguiam-se diversos outros, entre os quais Filipe II de Espanha, neto de D Manuel I, Rei de Portugal, e D João I, Duque de Bragança.
D António, Prior do Crato, neto ilegítimo de D Manuel I também se posicionou na sucessão porque não via com bons olhos a entrega da coroa a Filipe de Espanha que, talvez por este aliciados, alguns nobres apoiavam e o próprio Cardeal D Henrique havia indicado também, em condições que considerava favoráveis a Portugal!
D António chegou a ser coroado, reinou no Continente mas, depois de derrotado na Batalha de Alcântara, refugiou-se no Norte e acabou confinado aos Açores onde a derrota na Batalha Naval de Vila Franca, junto à ilha de S Miguel, pôs um fim às suas pretensões, exilando-se em França.
Filipe II de Espanha chegou a Lisboa e foi aceite como Filipe I de Portugal (1580-98) pelas Cortes de Tomar na condição de apenas indicar portugueses para a administração, ser seguido por Cortes frequentes em Portugal e um Conselho português em Madrid.
Assim se consumou a União Dinástica Ibérica que garantia a total autonomia de Portugal, à semelhança do que se passara com Aragão, a qual durou até ao dia 1º de Dezembro de 1640, quando era rei Filipe III de Portugal, IV de Espanha, e foi deposta pela revolta chefiada por D João Pinto Ribeiro que, invadindo o Cais da Ribeira, prendeu a Duquesa de Mântua e defenestraram secretário de estado Miguel de Vasconcelos.
Este golpe palaciano foi a consequência de muitas reuniões secretas para reabilitação da Monarquia Portuguesa, pela qual o povo cada vez mais reclamava em consequência da degradação das condições de vida que o rei espanhol tornava difícil com os constantes aumentos de impostos e pelo seu desrespeito pelas condições impostas nas Cortes de Tomar.
D João, Duque de Bragança e trineto de D Manuel I acedeu a encabeçar a causa da restauração, diz-se que incentivado por sua esposa Dª Luiza de Gusmão.
Depois do sucesso do 1º de Dezembro, no dia 15 do mesmo mês foi o Duque aclamado solenemente em Lisboa como D João IV, Rei de Portugal, o primeiro da Dinastia de Bragança.
Mas a independência de Portugal e a reintegração das suas partes que a União Dinástica Ibérica tinha descuidado e abandonado à voracidade dos piratas ingleses e holandeses, apoiados pelos respectivos governos, apenas foi garantida por acções de determinação e de coragem que, então, eram timbre dos portugueses.
Foi uma guerra que durou mais de 30 anos!
O Obelisco dos Restauradores, em Lisboa, relembra tais acontecimentos (ver publicação de 29 de Outubro).
Durante muitos anos, sempre o 1º de Dezembro foi a celebração patriótica em que se cantava “baqueou a tirania, nobre povo és vencedor…”.
Hoje, infelizmente, nem como feriado nacional se comemora!

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