(Este texto foi publicado no Notícias de Manteigas de Junho 2011)
Desde todo o sempre que o Homem deseja conhecer o seu futuro, a sua “sorte”. Procura nos astros, nos sonhos, nos búzios ou nas pedras, nas cartas, na palma da mão...
Astrólogos e cartomantes pretendem ter desenvolvido conhecimentos que lhes permitem predize-lo. Os videntes terão nascido já com esse dom.
São muitas as histórias de reis, de imperadores e de generais que, na Antiguidade, consultavam intérpretes de sonhos e de outros sinais, sem cujo aviso não tomavam decisões importantes.
Dentre todas, é bem conhecida a de José, um judeu que, perante a incapacidade dos intérpretes egípcios, é levado à presença do Faraó a quem diz que o sonho no qual sete vacas magras devoravam sete vacas gordas é premonitório de sete anos de fome que se seguirão a sete anos de fartura. Sensato, o Faraó mandou criar reservas para ultrapassar, sem graves danos, os tempos difíceis que mais tarde viriam.
Uma lição magnífica do Antigo Testamento em prol da atenção que a possibilidade de futuras dificuldades deve merecer. Uma lição desconhecida de muitos actuais responsáveis políticos que desacreditam os avisos de quem, analisando o presente e perscrutando o futuro, aponta os riscos que se correm e recomenda a prudência e as soluções que as circunstâncias justifiquem. É a função dos futurólogos que, sem dons divinatórios ou procedimentos cabalísticos, utilizam sensibilidades e, mesmo até, modelos matemáticos onde a aplicação dos conhecimentos que possuem das coisas e dos seus efeitos lhes permitem antecipar as possíveis consequências no futuro, de atitudes, de decisões ou de circunstâncias no presente. Seriam eles os modernos intérpretes dos sinais dos tempos que os governantes deveriam escutar antes de decisões com reflexos importantes nos tempos que virão.
É um bom exemplo o “Relatório do Clube de Roma” que em diversas circunstâncias aqui já referi. Mostrou os riscos de procedimentos excessivos, mas foi ignorado e até considerado injustificadamente alarmista, decerto por afectar interesses aos quais a verdade não convinha.
Infelizmente, sentimos na pele como a falta dos cuidados e da sensatez que acautelam o futuro são causa de dolorosos dissabores.
Não imagino, neste momento em que escrevo, quais terão sido os resultados das eleições legislativas que, quando for lido, todos já conhecerão. Por isso, não sei agora, nem mesmo então saberei, qual será o futuro deste país que se deixou cair tão baixo. Não sou vidente, astrólogo ou cartomante para ter a pretensão de o poder prever, como não sou um futurólogo que o possa, cientificamente, analisar.
Restar-me-á o bom senso e a experiência de vida que me mostra a necessidade de muitas mudanças nos procedimentos e nas mentalidades para que, de novo com a atitude certa perante a realidade e a Natureza, podermos superar os males que nos afectam.
Não há poderes ocultos, magias ou “milagres” que anulem os males causados pelos erros que cometemos ou façam por nós o que deveríamos ter feito para os evitar. Não há “reza” que desfaça o quebranto que em nós próprios provocarmos porque seremos, sempre, responsáveis pelas atitudes que nenhuma sina nos impõe.
Porque a vida não é um fado, o futuro não é uma predestinação, o alinhamento dos astros e os caprichos de cartas e de búzios não são o que determina o que somos, seremos ou como vamos viver, resta a condenação de “comer o pão amassado com o suor do rosto” como princípio inspirador de conduta da qual, para além do que é próprio da Natureza, depende alcançar ou ser o que se deseja.
Em conclusão, neste tempo de vacas magras cuja dureza não se evitou, um só futuro é possível de prever: com dor pagaremos as dívidas que fizemos e apenas o que com trabalho produzirmos poderemos consumir!
Rui de Carvalho
18 Maio 2011
Sem comentários:
Enviar um comentário