Todos nos lembramos daquela vitória do PS em cujas comemorações a tónica foi “jobs for the boys”.
De facto, o que depois se passou foi um “fartar vilanagem” com lugares e lugares à medida de “manadas” – ou será melhor chamar-lhes “varas” – de “boys” que, sem outras qualificações do que as da “militância”, viram as suas carreiras lançadas, sem obstáculos, no caminho do sucesso financeiro.
Foi então que o país abriu os olhos para os clientelismos alternativos que a nossa democracia gerou e para o modo como os “fiéis” eram recompensados pelo entusiasmo oco, sem qualquer ideologia ou devoção, com que apoiam este ou aquele partido. E não pareceu importar-se com este fenómeno que atingiu o seu máximo nos últimos anos!
Também noutros tempos era assim. Tenho a certeza disso pelos convites que recebi e não aceitei, um dos quais de um querido amigo que Deus já lá tem e, por mais de uma vez, me disse assim: “eu sei que não vais aceitar, mas se quisesses…”.
Mas tempos houve, também, em que assim não era. Depois de todo o tempo em que, com todo o mérito, desempenhou as funções que o Primeiro-Ministro, seu tio, lhe cometeu, a minha mulher viu terminar as suas funções sem que lugar algum tivesse na função pública!
Quando me lembro de quanto tive de batalhar para poder ombrear com os “boys” do meu tempo – alguns o foram deste tempo também - avalio bem a raiva que pode sentir quem, sem razão que o justifique, se veja preterido por “figuras” que os “nomes” ou as “amizades” privilegiam para entrar no “clube dos iluminados”, aqueles que, supostamente, são os únicos capazes de coisas de que ninguém mais o é.
Portugal é um país pequeno em território mas com uma alma imensa que os governantes parecem desconhecer. Por esse mundo fora, quantos portugueses se distinguem nas mais diferentes áreas das artes, do comércio, da indústria ou da ciência? Quantos, que a maioria de nós desconhece, são admirados e respeitados pela sua competência e pelo seu saber por esse mundo fora? Muitos, muitos mais do que possamos pensar. Por isso saíram desta ”aldeia” onde “santos da terra não fazem milagres”.
Só aqui neste cantinho parece terem ficado não mais do que uns poucos, porque ou são sempre os mesmos a serem escolhidos ou é gente já bem instalada que ocupa lugares que muitos outros com igual competência (pelo menos) poderiam ocupar e sem o fazerem no “part-time” e com os laços de interesses venais com que alguns os vão ocupar.
Depois de se dar a entender que os “jobs for the boys” eram coisa de um passado para não repetir, eis que aparecem, sempre pelas mesmas vias, mais uns quantos que podem acrescentar, aos bons rendimentos que já têm e às influências que detêm, os bons salários que a Caixa Geral de Depósitos lhes pagará para serem administradores não executivos. Em tempo parcial, obviamente!
Seria preciso muito cuidado com o que se faz num país onde a maioria da população sofre tormentos para sobreviver. É desumano confrontar tantos desempregados com as acumulações de salários principescos que alguns auferirão por participações mitigadas em tarefas a que outros, tão bem quanto eles ou ainda melhor, poderiam dedicar-se a tempo inteiro.
Estas nomeações de administradores da Caixa Geral de Depósitos poderão não ser “jobs for the boys” mas não deixarão de ser “extras for the masters”!
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