ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 29 de outubro de 2016

DOUTORES DA MULA RUÇA



Não foi o Sr Pinto de Sousa, mais conhecido por Sócrates, quem iniciou a moda das “licenciaturas” macacas, umas esquisitas outras inexistentes até.
Haverá, milhares em Portugal, depois do que foram as passagens administrativas que a bagunça “abrileira” gerou nas escolas.
Mas não é destas que falo.
O caso de Sócrates, curiosamente passado numa universidade onde leccionei e fui membro do Conselho Científico onde nunca tal caso foi apreciado, envolveu a credibilidade da própria universidade que lhe concedeu uma licenciatura de modo que foi publicamente julgado pouco claro, mas que, mesmo assim, lhe terá merecido ser o “professor” nominal da cadeira de Gestão Ambiental, conforme me foi dito pelo colega que, na realidade, a leccionava.
Ou terei percebido bem? É que quando se trata deste personagem e pelo que, relacionado com ele tem acontecido, nem tudo o que parece é!
Ainda na década de setenta do século XX, conheci, em funções políticas, doutores que o não eram. Nem administrativamente, o que, para mim, se tornou normal.
Durante muito tempo não me dei conta de casos destes, até que o caso Relvas eclodiu, com base em atribuição de “créditos” que, de um modo porventura muito generoso, algumas Faculdades concediam à “experiência” de cada um.
E quando o caso Relvas parecia ter sido o topo dos escândalos dos “doutores que não são”, voltam estes a ser notícia.
Primeiro alguém que trabalhava directamente com o Primeiro Ministro “estagiário” (foi o que deduzi de uma entrevista de Sócrares) e agora aquele a quem se refere esta notícia que hoje li: “O chefe de gabinete do secretário de Estado da Juventude e do Desporto demitiu-se esta sexta-feira. Não concluiu as licenciaturas que dizia ter, mas em 2013 ele próprio alertava para casos assim”.
De facto, este “doutor” até tinha pedido, em tempos, pedia que se investigassem “as licenciaturas de todos os políticos em funções que se tenham licenciado após o Processo de Bolonha, em particular aqueles que se licenciaram em universidades privadas e em cursos de ciências sociais e humanas”, o que torna a notícia estranha.
Enfim, são coisas que acontecem por toda a parte e que a este nosso país têm dado imenso jeito para o desenvolvimento que se tem verificado.
Somos um país de doutores, muitos desempregados ou emigrados, que tem de ir recrutar os trabalhadores para funções impróprias para doutores cada vez mais longe porque, por aqui, muita gente prefere viver do subsídio de inserção social.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

AFINAL, O ORÇAMENTO É BOM OU NÃO PRESTA?



É natural que, como todos os demais, esteja preocupado com o OE 77 já enviado para Bruxelas que, por sua vez, pede explicações, mais explicações…
Não sei que explicações serão dadas se o próprio ministro das finanças as não dá, mantendo-as secretas, decerto para as ir usando conforme convier. Mas algumas dará, as que neste momento mais convierem, obviamente.
Naturalmente, desejaria muito que este orçamento fosse um sucesso, pois só tenho a perder se o não for. E, pelas mesmas razões, que além deste o sejam todos os mais que se sigam o que, contudo, me parece bem mais complicado.
Se, quanto a este, tenho as minhas dúvidas, pois sei bem as consequências de fazer contas sobre pressupostos pouco garantidos como o são todos aqueles factores que a economia global influencia, sobre os seguintes nem me apetece falar pois envolver-me-ia numa futurologia complicada, em coisas que não levam em conta a realidade sobre o suporte físico e biológico que as determina e sobre as quais os políticos pouco passam de analfabetos.
Mas voltando ao orçamento actual, para 2017, ainda não consegui harmonizar tantas coisas que tenho ouvido a falar dos seus méritos ou dos seu erros fatais. Seria necessário saber muito mais do que sei, ter informação que não tenho, e só assim evitaria fazer as figuras que fazem os “sabichões” que enchem televisões e jornais com a sua ciência que me não parece valer mais do que os “cursos” inventados ou mal cozinhados de “doutores e engenheiros” que andam a tratar-nos da vida!
E como de política ainda sei menos (de politiqueirice queria eu dizer), não consigo prever o futuro deste orçamento que, dizem alguns, por razões políticas não será reprovado por Bruxelas mas, mesmo assim, não deixará de ser um mau orçamento do qual podem resultar graves consequências.
E é isto que me preocupa porque, mesmo apesar de todas as minhas ignorâncias acerca destes assuntos excessivamente arrevesados da política, me deixa de pé atrás porque não vejo nele a lógica escorreita que todas as coisas bem feitas devem mostrar claramente.
Resta-me esperar e seja o que Deus quiser…
Uma pergunta continua, no entanto, a ter razão de ser: que estaremos dispostos a fazer pela vida que queremos levar?
O que fazemos tornou-se evidente que não chega. Ora....

 

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

CRITÉRIOS DE ILUSIONISMO



O ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva, ouvido na comissão de Orçamento e da comissão de Trabalho e Segurança Social, no Parlamento, diz que a actualização das pensões vai custar 200 milhões de euros.
Falava da actualização das pensões a fazer em Janeiro de 2017 e que terá por base a inflação e irá ser aplicada às pensões até aproximadamente 840 euros. Para as pensões entre os 840 e até aproximadamente 2500 a actualização corresponderá ao acréscimo da inflação menos 0,5 pontos percentuais, o que, na realidade, prolonga o sistemático decréscimo real destas pensões, disfarçando-o de aumento que não é. Pior ainda é que a inflação tomada por base é inferior à real, bem menor do que aquela que sentimos quando o dinheiro compra cada vez menos!
Mas é assim que se aumenta a justiça contributiva, como diz o deputado Tiago Barbosa Ribeiro!
É de rir o que se ouve naquela AR, onde se diz que os deputados ganham mal, mas que a mim até parece bem demais pelos disparates que dizem e  pelo tempo que perdem a dizer mal uns dos outros, em vez de trabalharem juntos para o país!
O que haverão de dizer os pensionistas que, ao longo de uma longa vida de trabalho descontaram para que fossem garantidas as suas necessidades de velhice, mas apenas são tratados como um fardo que leva a “esmola” que sobejar das estroinices do Estado?
Assim, sem um plano global do que queremos fazer do país, do nível de vida que lhe queremos garantir, sem mais cuidados do que aqueles que à conquista e manutenção do poder digam respeito, sem atender à situação real do meio em que vivemos que cada vez mais se afunda numa "crise entremeada" e sem fim à vista, continua a governação casuística e demagógica, baseada em perspectivas que jamais batem certo.
Depois e como se tornou hábito, corta-se nas despesas o que significa reduzir os meios financeiros destinados ao cumprimento dos deveres do Estado para com a Sociedade,  na educação, na saúde, na mobilidade, na segurança, na Justiça e em outros mais cujas reclamações aumentam com o tempo que passa e vai tornando mais baixa a baixa qualidade de vida do país.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

A QUESTÃO DA MANTA CURTA



É entre receitas e despesas que se fazem as contas do défice.
Assim, quando as receitas não são bastantes, a solução está em cortar na despesa.
La Palisse não diria melhor!
É o que está a acontecer porque, apesar dos numerosos impostos indirectos com que o Governo evitou não sobrecarregar, significativamente, os impostos directos, as receitas ficaram bastante abaixo do previsto, o que tornou obrigatório baixar a despesa, para não prejudicar o défice com que se comprometeu.
Aqui se coloca, porém, a questão fulcral da governação, a de decidir onde cortar, em função do que sejam os seus objectivos, sem prejudicar a sua obrigação de proporcionar aos portugueses a melhor qualidade de vida possível.
Será cortando na despesa que que se garante a qualidade de vida? De modo algum pois cortar nas despesas significa prestar menos serviços e, por isso, reduzir a qualidade de vida, o que é uma forma de impor austeridade, inevitável quando o défice se constitui o objectivo a cumprir!
É o problema da manta curta que se tapa os pés deixa os ombros descobertos e não proporciona o conforto que só uma manta maior pode garantir.
É no destapar dos pés ou dos ombros que está a diferença entre o governo anterior e o que, agora, nos governa.
Pelas conversas que oiço, estará fora de questão mudar de manta, para o que uma maior produtividade seria necessária, bem mais elevada do que aquela de que os portugueses têm vindo a revelar serem capazes de alcançar.
De onde vem, pois, a “felicidade” e a euforia de sucesso que os resultados até agora conseguidos parecem gerar? Da ilusão que ter um pouco mais de dinheiro pode dar, ainda que mais depressa se gaste a comprar o que os impostos indirectos tornam bem mais caro.
Não creio que seja deste modo que os portugueses vão encontrar o caminho para a qualidade de vida que as suas potencialidades podem consentir-lhes.
Portugal não é o país pobre em recursos naturais que se faz crer que é.
É por se ter tornado um país pobre em vontade, em iniciativa e em productividade que se tornou no quase indigente que é.
E não será com manobras orçamentais que deixará de o ser, mas com cabeça e trabalho.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

À BEIRA DO EUFRATES



 O que acabo de ler sobre o aumento da tensão entre russos e americanos no conflito da Síria, com o líder russo a pedir a generais e outras personalidades que façam regressar as suas famílias a casa, não me parece de bom augúrio.
Este apelo acontece depois de Putin ter cancelado uma visita de Estado a França, uma atitude que conjuntamente com a colocação de misseis nucleares na fronteira polaca, aconselha a levar mais em conta os avisos de Mikhalil Gorbachev sobre o perigo deste acréscimo de tensão entre as duas maiores superpotências do Mundo.
Uma notícia recente informava, também, que Putin estava a refazer o famoso KGB, atitudes que dão conta das saudades que terá da União Soviética de outrora.
E será altura de, de novo, perguntar qual é a atitude da ONU em circunstâncias tão delicadas. Uma ONU organizada para defender os interesses dos maiores e que assim se tem mantido ao longo de décadas.
Talvez fosse o momento de a ONU mostrar o que, de facto, vale. Mas creio que, infelizmente, vale muito pouco.
Não consigo imaginar até onde poderá ir este jogo de forças em tempo de conturbadas eleições nos Estados Unidos, em que um dos candidatos até parece nutrir alguma simpatia pelo mandão da Rússia.
Mas conservo, ainda, uma réstia de esperança no que restará do bom senso que devem ter os governantes para evitar as consequências dramáticas do que seria uma guerra global e com armas nucleares que, se não destruir por si e de imediato, a vida humana na Terra, acelerará fortemente todos os fenómenos que já se conjugam para que tal aconteça.
E, mais uma vez, tudo parece preparar-se para que, ali junto do Rio Eufrates, se confrontem as forças mais poderosas do mundo que, no Apocalipse seriam de anjos e de demónios, mas agora nem serão de bons nem de maus mas apenas idiotas com interesses mesquinhos e sem qualquer respeito pela Humanidade!