ACORDO ORTOGRÁFICO

O autor dos textos deste jornal declara que NÃO aderiu ao Acordo Ortográfico e, por isso, continua a adoptar o anterior modo de escrever.

sábado, 8 de outubro de 2016

UM DIA DE QUALQUER COISA



Há sempre um dia para qualquer coisa.
Mas falta ainda o da consciência pesada!
E seria bom que houvesse um que, em vez destas desobrigas hipócritas em que, por um instante, reconheço que poupar água é um bem para a Humanidade, que cuidar de quem precisa é obra de caridade, me lembrasse dos males que faço e não devia fazer, contribuir para que o mundo não seja isto a que chegou.
Dizem-me que, ontem, foi o dia do sorriso, mas eu não sorri!

Não senti vontade de sorrir,
Não vi quaisquer razões para o fazer,
Porque quase tudo o que vejo acontecer,
Tristeza mais me faz do que sorriso,
Olho em volta e não vejo o paraíso
Que prometeram me iriam dar,
Os que me enganam e, depois de lá estar,
Mais me tiram seja o que for seja por que.
Então de que rio eu? Não sei de que…
Das desgraças que vejo?
Guerras, pobreza, maus tratos de sobejo,
Assaltos, roubos, velhos mal tratados,
Cidades outrora belas feitas em bocados!
Do canalha que sua mulher mata?
Daquele que da sua terra se escapa
Porque ali modo de viver não encontrou?
Dos que este mundo de horrores vai desgraçando?
Dos pedrados que, sem norte, vão andando,
Sem lhes interessar para onde nem por que saber?
De que rirei eu, podem-me dizer?
Da criança descarnada que a fome levou?
Do bêbado que, a cambalear, comigo chocou?
Do infeliz que cumpre o seu fadário?
Daquele que cai no conto do vigário?
Porque neste viver, cada dia mais duro,
Quando viver em paz se tornou inseguro,
Me juram que o défice se vai cumprir?
Francamente!
Não sei do que hei-de rir!

Sem comentários:

Enviar um comentário