Ontem
fiquei a saber, num programa de tv em que opina Manuela Ferreira Leite,
ex-ministro das finanças de Portugal, que um estudo do FMI concluiu que a
dívida mundial era já dupla do rendimento global de um ano inteiro!
Se
bem escutei, terá sido, até, o departamento chefiado por outro ex-ministro das
finanças português, o que chegou a tão brilhante conclusão!
Até
aqui falamos de dinheiro que tanto podemos mandar imprimir como mandar queimar,
sem que disso decorra qualquer transtorno pois o dinheiro para nada mais serve
do que para comprar algo que exista e corresponda ao seu valor.
Mas
a questão resultante, aquela que deve surpreender, é para que servirá tanto
dinheiro que não tenha o que comprar!
Existe
o dinheiro que não se come, mas cada vez menos existe o que lhe dá valor.
Há
muito que esta situação era inevitável, desde quando os cientistas alertaram,
por volta da década de 70 do século passado, que se consumia mais do que a
Terra pode produzir e introduziram o conceito de “pegada ecológica”, baseado no impacto que a actividade humana tem
sobre os ciclos de reprodução dos recursos naturais, sobre a capacidade
regenerativa da Natureza que explora.
Estando
bem determinado que a “pegada humana” excede já em mais de 50% a biocapacidade
do nosso Planeta, não vejo como será possível aumentar o rendimento que pagará
a dívida que é, já, o dobro do valor do que o nosso Planeta pode produzir!
Mas
igualmente importante é ter a noção de quem comprou, com a dívida que contraiu,
o que exaure as reservas que a Natureza não pode repor ao ritmo a que se
pretende continuar a explorá-las para que o famigerado crescimento continue.
Foi
aquele mundo rico que pilhou as riquezas naturais dos mais pobres e em suas
terras depositou os lixos, incluindo os tóxicos, que produziu, o mundo rico que
lhes vende as armas com que se matam e obriga tanta gente a procura-lo, mas é
escorraçada!
São
as famigeradas migrações que não estamos a saber resolver e menos ainda
saberemos no futuro, quando assumirem a forma de assalto desesperado!
Esta
conclusão do estudo do FMI não é mais do que a descoberta de mais um factor a
juntar a tantos que já sufocam a economia que os gerou, como a poluição, a
toxicidade, a virulência, as super-bactérias, a ilhas de plástico, as mudanças
climáticas o excesso de raios UV e tanto mais.
Cada
vez me parece haver menos escapatória para a “tempestade perfeita!” que se está
a gerar e que pode destruir a Humanidade.
É
por isto que a minha maior surpresa é ter ouvido, no programa que comecei por
referir, esta pergunta sem sentido “e porque não diz o FMI ou alguém o que
devemos fazer para repor o crescimento de que necessitamos?”
Eu
respondo: porque não sabe e porque não é possível.
Quando
muito continuarão a fingir que não vêem e, durante algum tempo ainda, fingem que
a economia cresce até que a borrasca nos caia em cima.
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