É
entre receitas e despesas que se fazem as contas do défice.
Assim,
quando as receitas não são bastantes, a solução está em cortar na despesa.
La
Palisse não diria melhor!
É
o que está a acontecer porque, apesar dos numerosos impostos indirectos com que
o Governo evitou não sobrecarregar, significativamente, os impostos directos,
as receitas ficaram bastante abaixo do previsto, o que tornou
obrigatório baixar a despesa, para não prejudicar o défice com que se comprometeu.
Aqui
se coloca, porém, a questão fulcral da governação, a de decidir onde cortar, em
função do que sejam os seus objectivos, sem prejudicar a sua obrigação de
proporcionar aos portugueses a melhor qualidade de vida possível.
Será
cortando na despesa que que se garante a qualidade de vida? De modo algum pois cortar
nas despesas significa prestar menos serviços e, por isso, reduzir a qualidade
de vida, o que é uma forma de impor austeridade, inevitável quando o défice se
constitui o objectivo a cumprir!
É
o problema da manta curta que se tapa os pés deixa os ombros descobertos e não
proporciona o conforto que só uma manta maior pode garantir.
É
no destapar dos pés ou dos ombros que está a diferença entre o governo anterior
e o que, agora, nos governa.
Pelas
conversas que oiço, estará fora de questão mudar de manta, para o que uma
maior produtividade seria necessária, bem mais elevada do que aquela de que os
portugueses têm vindo a revelar serem capazes de alcançar.
De
onde vem, pois, a “felicidade” e a euforia de sucesso que os resultados até
agora conseguidos parecem gerar? Da ilusão que ter um pouco mais de dinheiro
pode dar, ainda que mais depressa se gaste a comprar o que os impostos
indirectos tornam bem mais caro.
Não
creio que seja deste modo que os portugueses vão encontrar o caminho para a
qualidade de vida que as suas potencialidades podem consentir-lhes.
Portugal
não é o país pobre em recursos naturais que se faz crer que é.
É
por se ter tornado um país pobre em vontade, em iniciativa e em productividade
que se tornou no quase indigente que é.
E
não será com manobras orçamentais que deixará de o ser, mas com cabeça e trabalho.
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