A propósito do que escrevi sobre o
desparecimento de material dos paióis de Tancos do que a Associação de oficias
culpa o desinvestimento na defesa, lembrei-me de uma das muitas histórias de
que foi feita a minha vida.
Já lá vai muito tempo e não teria eu mais dos
que uns 25 ou 26 anos. Cumpria o meu serviço militar no Regimento de
Transmissões, no Largo de Sapadores à Graça, depois de ter concluído o curso de
oficiais milicianos.
Era, então, um “aspirante” a quem o destino determinou
que entrasse na escala dos “Oficias de Dia”, aqueles que, depois do “toque de
ordem” e na ausência do Comandante, ficam responsáveis pelo quartel.
Naquele dia e depois do acto em que todos os
militares de serviço me fizeram a sua apresentação, o que me obrigou a manejar
a espada umas largas dezenas de vezes, tudo parecia ir correr normalmente e sem
dramas.
E mais um dia se passou nas tarefas do
costume que, dadas as minhas condições de miliciano, procurava que decorressem sem
problema algum.
Mas no final do dia e já naquela hora em que
se procura algum descanso pois o oficial de dia não é de ferro, chegou o
telefonema inesperado que, depois de alguns desentendimentos desagradáveis quanto
à minha condição de responsável pelo quartel por ser meliciano, me mandava
colocar o quartel de prevenção porque, diziam-me, havia a possibilidade de ser assaltado.
Porque ou por quem, não me disseram.
A notícia não podia ser melhor nem mais
oportuna e logo foi comigo que aconteceu!
Como nem na minha pistola tinha balas, chamei
o Sargento da Guarda com quem analisei a situação.
Teríamos com que defender o quartel durante
dois ou três minutos, depois do que nem fisgas tínhamos para disparar as
pequenas pedras que pudéssemos recolher no chão da “parada”.
Uns telefonemas urgentes e consegui que o
oficial responsável pelas munições pusesse à minha disposição 5.000 balas
tracejantes que, por estarem já fora do prazo, tinha armazenadas para abater à
carga.
Reforcei as sentinelas, dei-lhes algumas
instruções especiais e fiquei à espera do momento em que as tais balas fora de
prazo pudessem ou não rebentar mas que, por serem tracejantes, acontecesse o
que acontecesse, sempre fariam um belo arraial.
Passei a noite a fazer rondas, a manter
acordados sentinelas sonolentos, até que amanheceu e o quartel se começou a
encher de gente.
Foi um alívio para mim que, finalmente, pude
saber a razão de tanta azáfama. O Comandante Henrique Galvão tinha assaltado,
em alto mar, o Santa Maria!
E lá pude ir descansar com a consciência
tranquila de que não teria sido fácil tomarem o “meu” quartel. Mesmo sem balas…
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