(publicado na edição de janeiro 2012 do Notícias de Manteigas)
Diz-se que o Homem põe e Deus dispõe. E calha bem porque, desta vez, altero o meu plano de temas no NM para falar da “partícula de Deus”. É uma questão de oportunidade que uma publicação mensal torna difícil de gerir.
Mas não poderia ignorar a grande excitação do momento no mundo da Ciência que crê encontrar-se no limiar de uma descoberta excecional para o entendimento de nós próprios, das nossas origens e da “realidade” da qual somos parte.
Quando, há quanto tempo já não sei, aqui dei o meu testemunho da existência de Deus, apresentei como um dos argumentos a “fórmula universal” em que Einstein relaciona a energia com a massa através do quadrado de uma constante universal. Não é uma fórmula empírica a que o grande físico nos deixou. Por isso, tal como outras teorias, carece de verificação experimental que, no caso, consiste em esclarecer a transformação que corresponde àquela equivalência.
A Física Quântica, a física das pequenas partículas, permitiu a Higgs, trabalhando ideias que outro físico havia já aflorado, ter a perceção teórica de uma partícula subatómica que, a existir, será a chave de tal questão porque completrá a teoria de relação de forças elementares designada “modêlo padrão”. A essa partícula foi dada a designação de ”bosão de Higgs”, sendo a designação “partícula de Deus” a que os mais espiritualistas lhe deram pelo que seria a sua “função” na “criação” do Universo, no tão falado Big Bang.
Um “bosão” não é mais do que um dado tipo de partícula elementar identificada pelo físico Nath Bose, de cujo nome resulta a designação.
Teoricamente, as partículas materiais não têm massa intrínseca pelo que a que aparentam não passa de um efeito da sua interação com um campo de forças que abrange todo o Universo, denominado “Campo de Higgs”. Quanto mais forte a interação maior a massa, sendo nula a das partículas que, com ele, não interagem. Numa linguagem mais simples, aquele campo será como um filtro através do qual as partículas derivadas da energia pelo aparecimento e decaimento do bosão de Higgs adquirem ou não massa, pelo que um mundo intangível coexiste com este mundo material a que pertencemos. Um outro motivo para cogitação futura.
A existência do bosão de Higgs é o que os cientistas procuram nas experiências que efetuam no Centro Europeu de Investigação Nuclear e são realizadas no “super acelerador de partículas”, subterrâneo e circular com cerca de vinte e sete quilómetros de perímetro, cuja construção, em subsolo francês e suiço, foi alvo de sérias advertências por poder constituir, como alguns temiam, um perigo maior do que o maior conflito nuclear em que o mundo se pudesse envolver ou o impacto de um grande meteoro sobre a Terra. O receio era a possível criação de um “buraco negro” que engolisse o planeta senão, até, todo o Sistema Solar! As experiências já decorrem há tempo bastante para afastar esse receio que, aliás, a maioria dos cientistas contestava.
Consistem os trabalhos em acelerar protões até velocidades muitíssimo próximas da velocidade da luz para os fazer chocar entre si, criando condições semelhantes às do “big bang” e, deste modo, provocar o aparecimento do bosão cuja existência Higgs previu. Este aparece e desfaz-se, originando outras partículas, num espaço de tempo tão ínfimo que torna difícil a sua deteção. Porém, os resultados já alcançados, em particular os mais recentes e anunciados no último mês de 2011, quase permitem a confirmação do que a teoria prediz. Mas a prudência científica não consente a veleidade de a antecipar. Os investigadores esperam que, ao longo de 2012, serão recolhidos dados bastantes para uma conclusão final.
Será um passo imenso para uma melhor perceção do Universo e para o conhecimento de como ele foi gerado e, quiçá, uma alteração profunda no modo de encarar as coisas neste nosso mundo, compreendendo melhor o Todo do qual emana.
Um outro passo que a Ciência procura dar é a eventual descoberta de vida fora da Terra e, mesmo até, da descoberta da existência de outros seres semelhantes aos humanos em qualquer outro planeta na imensidão do Espaço em que o nosso também navega.
Os astrónomos acabam de encontrar um planeta com caraterísticas de temperatura idênticas às da Terra e em zona onde a existência de água líquida é provável. Por enquanto nada mais do que isso. Mas quem sabe o que seguirá se a água é o berço natural da vida?
Pouco a pouco, a Ciência vai-nos revelando factos cuja grandeza ultrapassa a capacidade do entendimento comum mas que, depois de compreendidos, podem fazer surgir outras formas de olhar o mundo e a vida, mas que nunca porão em causa a existência de um Princípio, de um Ser que é a razão de ser de todos os demais!
A Ciência não tem uma visão romântica nem fantasiosa das coisas como a que têm os que interpretam ou descrevem o que transcende o seu entendimento. Mostra factos e situações que, depois, haverá que interpretar com muito cuidado mas sem preconceitos, quantas vezes obrigando a rever “certezas” que antes julgávamos seguras. Por isso, perante o que a Ciência revela, terá de haver um enorme trabalho de interpretação do qual talvez resulte um modo diferente de contar como Deus criou o mundo e, porventura, uma nova forma de entender a nossa relação com Ele.
Em vez de repudiar as novas descobertas da Ciência como sucedeu com Galileu pela sua teoria heliocentrista que levou a Inquisição a condená-lo, há que aceitar o que elas vão revelando porque, pela capacidade de perceção com que nos dotou, Deus vai-nos deixando conhecer a Sua Obra. Assim, através da Ciência, Deus se revela ao Homem.
Nota: Não foi possível, num texto como este, evitar algumas concessões à simplificação da linguagem e da interpretação de factos para o tornar mais acessível sem, contudo, lhe retirar o rigor bastante que a matéria versada exige.
Rui de Carvalho
16 Dezembro 2011
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