É natural que, ao fim de muito tempo, se
procurem melhores formas de controlar e de avaliar os efeitos da prática de
condução de quem foi testado num exame que lhe permite conduzir um dado tipo de
viatura.
Os acidentes causados por más práticas de
condução são, em grande número, graves e põem em risco a vida ou,
pelo menos, a integridade física de outros que para eles não contribuíram.
Mais coima menos coima, lá vão sendo
punidos os erros que se vão cometendo e até já haverá um cadastro temporário
para dadas infracções que se cometem.
Muita coisa mudou desde aqueles tempos em
que os carros eram o “lá vem um” que, mesmo assim, causavam acidentes, alguns
até mortais mas que se “resolviam” localmente, sem problemas os problemas
complicados que um caso destes hoje envolve. Não existiam ainda regras para
além das socialmente aceites em cada lugar. Ainda vivi esses tempos.
As coisas evoluíram e, naturalmente, foram
regulamentados os exames de condução e elaborado um “Código da Estrada” no qual
vão sendo introduzidas alterações que, a meu ver, jamais passam da ponderação
das penas correspondentes a cada infracção e pouco têm, como deveriam ter, a
intenção de desencorajar fortemente a sua prática. Mal iria a economia se
apenas aos condutores seguros fosse permitido conduzir.
Desde os exames de condução que deveriam
colocar maior rigor na avaliação da capacidade de condução de cada um, tanto
técnica como psicológica e de comportamento social, até outros pormenores como fumar durante a condução,
parece-me haver que reconsiderar algumas práticas para tornar mais segura a
condução, reduzindo o número excessivo de milhares de mortes e ainda mais
milhares de feridos muito graves, para além dos mais ainda feridos ligeiros.
A permissão de conduzir coloca nas mãos de quem
conduz uma arma perigosa e letal que, facilmente, pode causar estragos extensos
e irreversíveis, como no caso da morte daqueles cinco peregrinos que, há apenas
alguns dias, seguiam para Fátima, atropelados por um condutor que, dizem,
revelou excesso de álcool e uso de drogas.
Vejo muita gente na rua a conduzir de modo
perigoso, seja por excesso de velocidade, por excesso de zelo, por evidente
inabilidade para conduzir, porque não cumpre a lei que proíbe usar o telemóvel
e outras e, também, por coisas que a lei permite como o é fumar enquanto se
conduz!
Sou condutor há mais de 50 anos e,
felizmente, nunca provoquei um acidente. Mas já vi muitos acidentes e sei, por
exemplo, como o fumar durante a condução é tão perigoso como usar o telemóvel.
Foi um quase acidente que me levou a abolir tal prática nos meus tempos de
fumador, para além de um amigo se ter despistado e perdido a vida pela
distracção provocada pelo acender do cigarro.
Ainda ontem, por exemplo, um condutor que
seguia à minha frente ia a fumar e colocava a mão fora da janela para sacudir a
cinza. Como é costume. Mas o morrão desprendeu-se e acabou no vidro do meu
caro. Poderia ter entrado se a janela estivesse aberta, com as consequências
que tivesse, como poderia ter caído no assento do próprio condutor, com as
consequências que facilmente imaginamos…
Mas tudo isto vem a propósito da ”carta por
pontos” que o governo quer instituir.
Não me parece uma má prática que, se
harmonizada com as sanções aplicadas às infracções que os condutores pratiquem,
pode ter consequências positivas para uma cultura de condução segura.
O que não estranho é que haja sempre quem, como
em todos os casos de mudança acontece, limite a sua contribuição ao dizer
mal, ao não estar de acordo ou, como se tornou moda, à invocação da possível inconstitucionalidade
da medida!!!
Mas a Constituição nunca está errada,
sobretudo quando permite mil interpretações para a mesma coisa? Ou será como as
“tábuas de Moisés” que continuam a ser, há mais de dois mil anos, a regra mais
sábia de convivência social?