Chamou-me a atenção este pedaço de uma
reportagem a propósito das últimas comemorações do 25 de Abril: “…., 68 anos,
um cravo na lapela e um autocolante, também com um cravo, no casaco. A mulher
brinca: “Só te faltou trazer um cravo na testa”. O director- geral de uma
multinacional, ramo de software, faz questão de sair à rua, nestes
propósitos, no 25 de Abril. Mas não esconde algum desencanto: “Este Governo está a recuar em relação aos
valores que foram conquistados por Abril, na saúde, na educação, na liberdade.
Quem não tem pão, não tem liberdade. E há cada vez menos pão na mesa dos
portugueses”, o que me levou a pensar por onde andaria esse pão.
E procurei nas próprias palavras da queixa as
razões daquela falta.
Encontrei-as nas “conquistas de Abril” que,
para mal de nós, são todos os direitos que a Constituição garante sem que
imponha, do mesmo modo explícito, os deveres que lhes correspondem.
Encontrei-as, também, nos campos
abandonados e no Interior esvaziado, nos telemóveis e nos “ipods” que se vendem
mais do que papo-secos, nos automóveis que se apinham nas ruas das vilas e das
cidades quase deixando às moscas as auto-estradas que fazem de Portugal um país
com uma das redes mais densas do mundo e nos custam fortunas que encheram e enchem
os bolsos dos que as fizeram e dos que tiveram a ideia de as fazer.
Encontrei-as nos hábitos de novos-ricos que
criámos e nos incitaram a um consumismo excessivo de bens sumptuários que levou
à falência tantas famílias que, em consequência, se debatem e por mais tempo
ainda se debaterão com os sérios problemas que de tal resultam.
Encontrei-as na falta de compreensão das
razões que nos obrigam a ser, de novo, austeros no modo de viver porque se
acabaram as remessas de emigrantes, os fundos europeus são mais controlados e a
disponibilidade dos credores chegou ao seu limite.
Mas a campanha eleitoral que alguns
começaram cedo demais tendo em vista uma mudança radical sem, como tem sido
evidente, para isso apresentarem as razões demolidoras e as soluções milagrosas que diziam ter, parece ser uma
causa evidente da prudência que o eleitorado começa a revelar nas suas
intenções de votos que as sondagens cada vez melhor revelam e mostram não ser
tão fácil assim o sucesso dos que apenas querem mudar para seu proveito.
Olhamos em volta para todo o mundo e ficamos
com razões para crer que não são atitudes voluntaristas que nos farão sair
desta crise sem fim, antes parecendo mais nela nos afundarem.
E mais uma vez me vem à ideia a frase que é atribuída a Lord Rutherford, da qual e desde sempre compreendi a
razão de ser e me tem guiado na vida em momentos de dificuldade: “estamos sem dinheiro? Temos de pensar mais”.
E se pensássemos? Certamente concluiríamos que temos de trabalhar mais e deixar de esperar que caia do Céu ou das conquistas da revolução o que só com esforço poderemos conseguir!
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