ACORDO ORTOGRÁFICO

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quinta-feira, 14 de maio de 2015

O PÃO QUE FALTA NA MESA DOS PORTUGUESES


Chamou-me a atenção este pedaço de uma reportagem a propósito das últimas comemorações do 25 de Abril: “…., 68 anos, um cravo na lapela e um autocolante, também com um cravo, no casaco. A mulher brinca: “Só te faltou trazer um cravo na testa”. O director- geral de uma multinacional, ramo de software, faz questão de sair à rua, nestes propósitos, no 25 de Abril. Mas não esconde algum desencanto: “Este Governo está a recuar em relação aos valores que foram conquistados por Abril, na saúde, na educação, na liberdade. Quem não tem pão, não tem liberdade. E há cada vez menos pão na mesa dos portugueses”, o que me levou a pensar por onde andaria esse pão.
E procurei nas próprias palavras da queixa as razões daquela falta.
Encontrei-as nas “conquistas de Abril” que, para mal de nós, são todos os direitos que a Constituição garante sem que imponha, do mesmo modo explícito, os deveres que lhes correspondem.
Encontrei-as, também, nos campos abandonados e no Interior esvaziado, nos telemóveis e nos “ipods” que se vendem mais do que papo-secos, nos automóveis que se apinham nas ruas das vilas e das cidades quase deixando às moscas as auto-estradas que fazem de Portugal um país com uma das redes mais densas do mundo e nos custam fortunas que encheram e enchem os bolsos dos que as fizeram e dos que tiveram a ideia de as fazer.
Encontrei-as nos hábitos de novos-ricos que criámos e nos incitaram a um consumismo excessivo de bens sumptuários que levou à falência tantas famílias que, em consequência, se debatem e por mais tempo ainda se debaterão com os sérios problemas que de tal resultam.
Encontrei-as na falta de compreensão das razões que nos obrigam a ser, de novo, austeros no modo de viver porque se acabaram as remessas de emigrantes, os fundos europeus são mais controlados e a disponibilidade dos credores chegou ao seu limite.
Mas a campanha eleitoral que alguns começaram cedo demais tendo em vista uma mudança radical sem, como tem sido evidente, para isso apresentarem as razões demolidoras e as soluções milagrosas que diziam ter, parece ser uma causa evidente da prudência que o eleitorado começa a revelar nas suas intenções de votos que as sondagens cada vez melhor revelam e mostram não ser tão fácil assim o sucesso dos que apenas querem mudar para seu proveito.
Olhamos em volta para todo o mundo e ficamos com razões para crer que não são atitudes voluntaristas que nos farão sair desta crise sem fim, antes parecendo mais nela nos afundarem.
E mais uma vez me vem à ideia a frase que é atribuída a Lord Rutherford, da qual e desde sempre compreendi a razão de ser e me tem guiado na vida em momentos de dificuldade: “estamos sem dinheiro? Temos de pensar mais”.
E se pensássemos? Certamente concluiríamos que temos de trabalhar mais e deixar de esperar que caia do Céu ou das conquistas da revolução o que só com esforço poderemos conseguir!


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