Noutros tempos, dizia-se das opiniões que se
valessem alguma coisa não se davam, vendiam-se.
Era o tempo em que as opiniões não tinham
preço, como tanta coisa que a solidariedade de então tornava natural que se
desse.
Hoje as “opiniões” rendem muito dinheiro,
mesmo que não valham nada. E, de um modo geral, não valem mesmo nada ou tão
pouco valem que ouvi-las não passa de perda de tempo. Não passam de ruído que
muitos tomam por informação e acolhem ou rejeitam consoante os preconceitos
enraizados, daqueles que razão alguma consegue alterar.
Foi a televisão que inventou esse negócio
rentável para os opinadores, em programas que, apesar do que lhes pagam, ficam
baratos se comparados com outras produções.
Os painéis de opinadores são cada vez mais
numerosos.
Há caras que se tornaram habituais. São os
animadores dos “serões em família”, as únicas vozes que se ouvem em centenas de
milhar de salas de mudos com o olhar fixo num ecrã brilhante de onde as
eminências debitam o seus saberes que, assim, se tornam seus também, sem a
maçada que é ter de pensar nas coisas para poder ter opinião.
Os velhos cafés, pontos de encontro de
velhas amizades que ali tagarelavam a falar da “vida” ou a discutir os grandes
problemas do país e do mundo e, também, lugar de refúgio de pensadores a quem
aquele ruído das conversas isolava do mundo, já não existem. Tornaram-se, eles também, salas
de ver televisão.
Nos grupos de amigos, nos que ainda haja, já pouca gente sabe o que este ou aquele
pensam. Talvez porque não pensam. De resto, para que pensar se outros o fazem por
nós?
De um modo geral, os painéis de opinadores têm
três ou quatro tendências que, para fazerem sentido, têm de ser diferentes,
incompatíveis até, ou não teriam graça aquelas discussões que jamais nos levam a
qualquer conclusão.
Por isso, o velho aforismo “da discussão
nasce a luz” perdeu toda a sua razão de ser porque todas as sabedorias estão
ali, absolutas, irreconciliáveis e sem deixar margem para outras discussões.
Só que nunca entendi qual é a verdade entre
as verdades de que as várias sabedorias do nada me querem convencer. E
tenho de continuar a pensar!Sou um desfasado neste em que as opiniões, continuando a valer pouco, passaram a ser bem pagas.
Por isso, em tempo que aconselha a poucos gastos... lá vou ficando com as minhas.
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