Nos meus tempos de estudante do Liceu,
começávamos a estudar francês logo no primeiro ano. E tal como me recordo da Dª
Lucília, a professora, cuja exigência nos levava a chamar-lhe “a fera”, também
me recordo daquele texto em que o estouvado Pedro dizia à sua mãe, a cada vez
que esta o repreendia: “demain, demain je serai sâge!” (amanhã terei juízo).
É isto, mais ou menos, que oiço dizer desde
há dezenas de anos quando, nesta altura do ano, os incêndios levam uma boa
parte da nossa floresta, destroem bens que são, tantas vezes, o produto do trabalho
de uma vida inteira daquela "gente de quem menos se fala" e de quem menos se cuida, ceifam vidas ainda com uma vida inteira para viver.
Alguém será capaz de imaginar o desespero, a
dor e o sofrimento de ver a morte aproximar-se para fazer de si e dos seus um churrasco!?? Foi o que, desta vez, aconteceu a muita gente.
Ao longo de dezenas de anos fomos andando, fingindo que tomávamos
juízo, tomando a serenidade de alguns anos como a prova dos grandes passos que
havíamos dado, dizendo, até, estarmos preparados para quaisquer eventualidades que
surgissem.
Mas, afinal, não era assim. Foi o que mostrou
a tragédia de Pedrógão, falada nos quatro cantos do mundo como a prova mais
provada da incúria, do desleixo e da incapacidade que nem a presença quase constante
do Presidente da República e do Primeiro-Ministro conseguiram disfarçar.
E como se tal não bastasse, a enorme confusão
gerada pelas desculpas com que os responsáveis por isto e por aquilo agora se
afadigam para nos fazer crer ter sido uma eventualidade terrível e
imprevisível a causadora disto tudo que, apesar da diligência e da competência dos
comandos, da oportunidade da intervenção, bem como da excelência dos meios urlizados, pelas suas não conseguiram conter.
Apesar do esfoço, não conseguem evitar as contradições em
que caem quando se explicam, como não evitaram nem evitam os disparates que disseram
quando, no início e numa insensata intenção de acalmar as possíveis vítimas,
lhes garantiam que tudo o que é necessário e possível estava a ser feito.
Depois de tudo isto fiquei sem saber se o SIRESP
funcionou ou não, se o incêndio teve o seu início antes ou depois da “trovoada
seca” que aconteceu, na qual muitos descansam a sua obrigação de encontrar os
motivos, se foi desleixo ou maldade que causou esta desgraça.
Agora chovem as propostas para constituição
de “comissões” para estudar soluções para o futuro.
Os políticos ainda não encontraram outro modo
de não fazer as coisas que julgam resolver-se com palavreado.
É mais uma repetição de muitos disparates que
já vi fazer e que, em tempos gerou o dito: se a intenção é não fazer, nomeia uma
comissão.
Deixem-se de comissões e entreguem a quem
sabe a responsabilidade de propor soluções.
Creio que entregar um estudo aprofundado a uma
entidade respeitável em vez de a uma comissão preconceituosa nomeada pela AR, seria a melhor
solução.
Eu sugeriria que ao Instituto Superior
Técnico e ao Instituto Superior de Agronomia fosse dada a incumbência de dizer
aos políticos como fazer! Por exemplo.
Não sei é se os políticos seriam capazes de a
pôr em prática, tais são os condicionamentos que os espartilham. Os mesmos que
os fazem estar ali.
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