É a mesma lógica simples dos que dizem não
ser possível meter o Rossio na Rua da Betesga que, desde há muito, me leva a
crer ser esta crise, da qual há anos se diz que estamos a começar a recuperar, nos levará, finalmente, a entender a realidade que vivemos e nos fará viver
em função da Natureza a que pertencemos ou nos criará o problema mais bicudo de
quantos já tivemos para resolver. Tão bicudo que talvez seja insolúvel.
Todos falam na recuperação da economia, mas
nunca me dei conta, ao longo das muitas dezenas de anos que já levo vividas, de
tantas dificuldades como vejo agora, mesmo naqueles momentos em que até parece
que tudo vai voltar ao tempo de abastança em que gastar mais e mais era o
segredo do sucesso.
A economia tornou-se nisso, no consumismo sem
barreiras sem cuidar de pensar nas consequências que terá para além de em nós
desenvolver o vício de consumir inutilidades.
Disso a economia passou a viver, do usa e
deita fora que agora se pretende atenuar com a reciclagem que cada vez menos se
afirma como solução, pois continuamos a produzir montanhas de lixo todos os
dias, do qual temos de nos desfazer, o que na maioria das vezes significa,
simplesmente, deitá-lo fora.
Sempre nos habituámos a pensar que para cada
problema o Homem sempre encontra, através da Ciência, uma solução.
De facto, na exploração que foi fazendo do
seu mundo, o Homem foi encontrando recursos que soube aproveitar e, assim,
melhorar o seu modo de viver, até chegar à imprudência de gastar mais recursos
do que os que a Natureza disponibiliza nos seus ciclos de renovação.
Disso a Ciência já se deu conta e, tal como
outrora mostrava, orgulhosa, as descobertas que fazia, avisa agora dos perigos
que corremos nesta corrida desenfreada que fazemos, dos receios que tem quanto
ao futuro difícil que, já não rejeita essa hipótese, poderá destruir-nos.
As consequências morais e sociais são
terríveis e a sociedade que sempre teve a tendência de se afastar do simples “crescei
e multiplicai-vos”, pelas guerras constantes das quais fez um modo de vida,
pelas agressões ao Ambiente que o crescimento económico vai tornando cada vez
maiores e pelas guerras em que parece querer voltar a envolver-se, acerca-se de
perigos dos quais pode não ser capaz de se livrar.
É que a penúria de que nos aproximamos,
recorda-me aquele ditado que alerta para os perigos de uma casa sem pão.
Recordou-me o face-book algo que realcei há
cinco anos: “O ex-comunista e agora
socialista Vital Moreira afirmou que a atual crise é "duradoura",
para cujo fim não há "atalhos" ou "milagres", garantindo
ser "a primeira vez" em que não existem perspetivas de uma vida melhor...",
o que correspondia ao que, por diversas vezes eu dizia ao escrever que “as
luzinhas ao fundo do túnel que muitos diziam ver, não passavam de alucinações”
porque, ao contrário do que parecia acontecer noutros tempos, cada solução
encontrada tem efeitos secundários perversos, mais graves do que os que
pretende resolver.
Talvez, sem disso ainda termos consciência, entrámos
na agonia que se não sabe quanto tempo durará.