Passei
oitenta anos da minha vida a ver a evolução que parecia levar-nos, sem a menor
dúvida, de volta ao paraíso de onde, diz a Bíblia, havíamos sido expulsos.
A
evolução científica e tecnológica era, ninguém o duvidava, o caminho de um
regresso triunfal depois de um longo e penoso tempo a comer o pão amassado com
o suor do rosto. Era a vitória da inteligência do Homem.
Porém,
parece que num processo cada vez melhor dominado, ao ponto de, como diz Stephen Hawking, o Homem já não precisar de
Deus para explicar seja o que for do mundo em que vive e do universo em que se
integra, alguma coisa deixou de correr como corria.
É, por isso, que procuro uma razão de
ser para tanta coisa quase inexplicável que se passa nesta crise que os
costumeiros remédios já não curam e para estes tempos que, aos poucos, mas cada
vez mais de pressa, se vão tornando muito diferentes e fogem, cada vez mais, ao
controlo.
Fomos
tomando as mudanças como coisas que rapidamente passariam, voltando tudo “ao
normal” porque é assim que as coisas sempre foram, acreditando no poder do
Homem para resolver, como sempre tinha acontecido, todos os problemas com que se
deparasse!
Esqueceu-se
o Homem de reparar no curtíssimo instante em que tais coisas se passaram, de o
comparar com o tempo infinito, do qual não passa de um pequeno nada.
O
Homem tornou-se num deus sobranceiro que ignora os avisos da Natureza da qual julgou
ter-se desvinculado para a dominar em seu proveito.
Estranha
forma de pensar e leviano modo de proceder pois, pela mudança natural e continuada
que a nossa ambição acelera, nada voltará a ser como era e, por não lhe prestarmos
atenção, nem ideia fazemos de como é o futuro em que já vivemos.
Por
exemplo, achei curiosa uma pequena reportagem que uma televisão mostrou de uma
iniciativa do Instituto Ricardo Jorge, na qual pedia que lhe enviássemos
mosquitos que encontrássemos e nos parecessem diferentes dos habituais, por ser
bem possível que alguns, transmissores de doenças que já havíamos erradicado,
voltem a aparecer por aqui ou até já cá se encontrem, trazendo, com eles, os
males que outrora tantos danos nos causaram. O que, em saúde, será mais um
problema a acrescentar àquele que os antibióticos permitiram resolver mas cada
vez menos resolvem.
O
mesmo acontecerá em outros domínios onde, quase por certo, em consequência das
mudanças climáticas, ocorrerão transtornos profundos na agricultura, na
pecuária e nas pescas pelas transformações de habitats que alterarão a
localização das espécies e, porventura, eliminarão algumas, alterarão a
temporização dos seus ciclos de reprodução, além de outras consequências ainda
mal conhecidas ou desconhecidas de todo.
O
Homem está a fazer do seu mundo um mundo diferente ao qual se não habituará
facilmente nem depressa e menos ainda se continuar a preparar o futuro à
semelhança do que acontecia num passado que se não repetirá.
É
nisto que não entendo os políticos aos quais competiria preparar os caminhos do
futuro, perscrutando-o nos sinais que a Natureza envia a cada instante mas que,
em vez disso, se confrontam ainda como nos tempos da Revolução francesa, em
lutas entre direita e esquerda, sem se darem conta de que os problemas são hoje
bem diferentes e a luta é outra.
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