Ouvi Francisco Louçã louvar a decisão de Marcelo Rebelo
de Sousa de promulgar o Orçamento de Estado (OE) do Governo de António Costa,
apesar dos riscos que comporta, os quais reconhece existirem, interpretando-a
como um acto que desilude os que, em vez disso, esperariam uma
crise que nos levasse a eleições a curto prazo.
Não me pareceria sensato que, dadas as circunstâncias,
o não promulgasse e, talvez por isso, a recente afirmação do próprio Presidente
de que o faria não tenha surpreendido ninguém.
Mais do que isso, Louçã considera esta decisão como
um passo que define uma linha política da qual ao Presidente será difícil afastar-se no
futuro, como se a ele ficasse amarrado para o resto do mandato porque, como afirma, “o passo seguinte depende do anterior”.
Mesmo discordando de que tal passo seja como aquele
que define o caminho de que a burrice nunca se afasta ou a impossibilidade de,
perante um erro que se detecta, voltar atrás, o que mais me sensibilizou nas
declarações de Louçã foi a desvalorização de serem os riscos do OE “apenas”
decorrentes de circunstâncias externas, como uma crise na China ou em outro lado
qualquer.
O facto preocupante é a crise na China ser já uma realidade no decréscimo profundo do seu crescimento económico e em outras
perturbações que se receiam a curto prazo, para além do que se passa nas economias de
países do grupo das famosas e tão louvadas “economias emergentes”, tradicionais
clientes de produtos portugueses como o são o Brasil e Angola, serem uma
realidade cujos efeitos são já evidentes.
E eu pergunto-me como um OE como o nosso,
insignificante perante uma economia global em sérias dificuldades, pode
basear-se em previsões optimistas que conduzem à previsão de um resultado que
as que se fazem para o resto do mundo não corroboram.
Então, de que valerá esta ilusão de um futuro que poucas
hipóteses tem de ser feliz? Vamos mantê-la até que, por si mesmo, se desfaça ou esperar o
milagre de que tudo corra bem?
Não sou dos que baseiam as suas previsões soluções
milagrosas, pois prefiro o pessimismo que permita prever e evitar os males que possam acontecer.
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