Quando
era miúdo havia, por semana, um dia em que, religiosamente e ao fim da tarde,
subia as escadas até àquele terceiro andar onde se instalavam os “correios” lá
da terra e, em bicos de pés para que o “ti” Zé Gaspar, o distribuidor do correio, me pudesse ver, esperava,
ansioso, o “Papagaio”.
Eram
as aventuras do Tim-Tim a causa da minha ansiedade. Tinha pressa para saber
como ia continuar aquela história com personagens tão interessantes como, para
além do próprio herói e o seu caozinho rom-rom (há quem lhe chame Milu), o
capitão Adhhoc, os gémeos Dupond e muitos outros.
Personagens
e histórias que o velho Hergé inventava para os mais novos.
Qual
dos rapazes daquele tempo não tentou, alguma vez, imitar o inimitável penteado
do Tim-Tim?
Não
era fácil de fazer aquela popa, mas, obviamente, vesti calças como as que ele
usava e, nos sonhos que tinha, quantas vezes o acompanhei nas suas aventuras,
pois o grande sonho era ser como o Tim-Tim e praticar aqueles actos de bravura
que ele praticava quando resolvia os pequenos/grandes problemas que se lhe
deparavam.
Hoje,
na terra de Hergé as histórias são outras.
Parece
que os personagens enlouqueceram e que, até, o diabo anda à solta.
Gente
que se faz explodir para que outros morram, “mártires” a quem convencem que no
céu os esperam 12 virgens para satisfazerem todos os seus caprichos, como
prémio dos horrores que praticaram na Terra.
Como
tanta coisa mudou ao longo de uma simples vida como a minha, quando desde andar,
à noite, em ruas tenuemente iluminadas por umas poucas lâmpadas esparsas, as
ruas patrulhadas por ninguém e as portas das casas abertas eram a prova de um
modo tranquilo como se vivia.
Apenas
me preocupavam as “bruxas” que, diziam, por vezes apareciam para fazer as suas
picardias e lançar maus olhados.
Encher
o peito de ar, acreditar na força que tínhamos, semelhante à do Tim-Tim e,
mesmo assim, evitar passar em certos lugares considerados mais perigosos, eram
a solução.
Mas
nunca vi nenhuma “bruxa”, então.
Vejo-as
agora e a “bruxos” também, que me apoquentam muito a vida e aos quais não vejo
como evitar.
E
fico a pensar como reagiria o meu heróis de então nestas situações vulgares e
de “bom tom” que a “civilização” inventou para tornar o mundo na confusão que é
e onde nem fechar a porta a sete chaves nos livra dos assaltos que sofremos!
Decerto nem saberia o que fazer.
A
única semelhança que encontro nos "heróis" de agora é o penteado que eu nunca
consegui fazer. É mais parecido com o que Tim-Tim usava, com aqueles tufos de
cabelo lá no alto da cabeça. Nestes, talvez em vez de miolos…
As
histórias, agora, também são outras.
Não
as escrevem homens como o saudoso Hergé. São mentes maquiavélicas e desprovidas
de humanidade quem as planeia, gente sem norte e para quem o gozo será arrastar
os demais para o buraco em que se meteram…
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