Sempre, mas sempre, senti um profundo horror
pela caça como prazer lúdico, por esse gosto anormal de matar por matar, pelo
prazer de acertar em algo que vive e, por isso, se mexe!
Recordo, ainda, arrepiado, aquele dia já
muito distante em que, pela primeira vez peguei numa pequena espingarda, uma
flaubert (talvez tenha acertado na escrita…), e disparei sobre um pardalito
que, feliz, cantava numa árvore, no galho que escolhera para fazer o seu
recital.
Atirei sem grande esperança de acertar porque
nunca o fizera antes. Mas tive a pouca sorte de ter pontaria e o pobre ser,
ferido de morte, caiu quase aos meus pés, tremendo, sem um pio sequer e, quando
o peguei para o acarinhar, talvez, para lhe dizer do meu arrependimento e lhe pedir
desculpa pelo “crime” que cometi, senti o seu calor, o seu coração que ainda
batia mas depressa parou. E o pardalito, para quem o dia tinha começado feliz,
morreu ali nas minhas mãos.
Passadas tantas dezenas de anos, sinto ainda
aquele arrepio de horror que as desculpas não apagaram para sempre.
Acabou enterrado numa cova que fiz, num lugar
que, com o tempo, já terá desaparecido.
Por isso não posso senão apoiar os que exijam
para este “desporto” da caça regras mais exigentes que evitem o matar por matar
e defendam as espécies em risco e de outras que, sem saber o mal que fazemos,
envenenamos para que não usem a sua parte dos recursos alimentares deste mundo
que também é seu.
Já são sentidas as consequências nocivas
deste procedimento e mais serão sentidas no futuro, quando maiores
desequilíbrios se sintam.
Não vejo onde esteja o prazer de exibir um
animal, antes altivo e com a sua função própria neste ambiente em que vivemos,
para, depois, o abandonar sem utilidade alguma.
Mas isto discutem os entendidos e aqueles
para quem cumprir regras e ir à confissão livra de pesos a consciência.
Eu gostaria de ver defender, para além dos
outros seres que, connosco já formaram um conjunto harmonioso que a nossa
estupidez já quase destruiu, o ser que, apesar de ser o maior responsável pelos
desequilíbrios que acontecem, corre severos riscos de desaparecer também.
Parece que disso o PAN não faz grande ideia…
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