Nunca tive dúvidas, tal como continuo a não
ter, de que a austeridade é a única atitude compatível com a situação a que
chegámos. Nós e todo o mundo onde se consomem recursos excessivos, já bastante
para além dos que os ciclos naturais permitem sustentar.
Na medida em que austeridade é rigor que
previne as consequências dos excessos, defendo, há muito tempo, a austeridade
que harmonize os recursos de que poderemos dispor com o consumo que deles
façamos.
Ser rigoroso poderá parecer aceitar a
condição de pobre que o crescimento económico diz combater.
Mas nem a austeridade nos empobrece nem o
crescimento económico nos enriquece porque é a gestão rigorosa dos recursos naturais
que nos livra das privações para as quais consumo excessivo e inútil, do qual
resulta o crescimento económico continuado, nos conduz.
E são já mais do que visíveis os efeitos dos
excessos para os quais, desde há já muitas dezenas de anos, a Ciência e a gente
de bom senso nos chama a atenção.
Não valerá a pena ler grandes trabalhos
científicos para constatar que assim é, mas recomendaria, veementemente, a
leitura de dois livros extremamente esclarecedores, “os limites do crescimento”,
do Clube de Roma, e “o choque do futuro” de Alvin Tofler.
Não é preciso ser um cientista para os ler
porque basta ter bom senso para compreender as mensagens que nos transmitem
sobre o que nos espera no futuro se não adoptarmos o rigor de consumo que as
limitações dos recursos terrestres nos impõem.
A continuação do tipo de vida que adoptámos
tem consequências materiais e morais terríveis, apesar do que não desistimos de
acelerar na auto-estrada que, cada vez mais rapidamente, nos conduz ao
precipício em que estamos prestes a mergulhar.
Perdemos a noção de caminhar pelos caninhos
tranquilos que a beleza natural adorna, onde se encontram e se convive com amigos,
se interage com a Natureza que aprendemos a conhecer e a respeitar, onde não existem nem as
loucuras nem as preocupações que fazem intranquilo o viver de hoje.
Disfarçamos a inevitabilidade da austeridade com artimanhas
como aquela que chama cativações aos verdadeiros e inevitáveis cortes que as
circunstâncias nos impõem.
Acabo lembrando recentes palavras da
Presidente do FMI: vamos progredindo na ultrapassagem da crise mas com sérios
riscos de uma grave recessão! E não é a primeira vez que o afirma ao longo desta crise que não acabou.
E à semelhança da questão do copo meio cheio
ou meio vazio, eu pergunto “estamos em crescimento ou em crise”?
Porque retirou Centeno mil milhões de euros
do OE, chamando-lhe cativações que jamais liberta?
Afinal, por mais que a queiram disfarçar, já
é impossível afastar a austeridade.
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